O ministro federal dos Transportes alemão, Andreas Scheuer, afirmou numa entrevista à publicação local Osnabrücker Zeitung que está “em contacto directo com construtores como a Tesla, de forma a garantir que a infra-estrutura de recarga de veículos eléctricos, como os Superchargers da Tesla, possa também estar acessível a outros fabricantes”. A afirmação é surpreendente, pois se a Tesla já afirmou no passado poder estar interessada em abrir a rede de carga a outros fabricantes, nunca transmitiu a ideia de se tratar de concorrentes directos, nem que movimentassem uma grande número de veículos, capazes de levar a que os Superchargers não estivessem disponíveis quando os clientes da marca norte-americana necessitassem de alimentar as baterias.

Andreas Scheuer mencionou ainda que há “uns problemas de ordem técnica” que espera ver ultrapassados em breve, para de seguida revelar que o objectivo “é juntar as diferentes redes de postos de carga de todos os fornecedores, de forma a criar uma rede única para todos os condutores de veículos eléctricos”. Se bem que a ideia tenha algum potencial, como forma de democratizar o acesso a uma rede de carga, poderá enfrentar algumas dificuldades.

Elon Musk e Andreas Scheuer, à conversa durante uma visita à Gigafactory Berlim

O primeiro problema tem a ver com o facto de a Tesla ser a única marca que possui uma rede própria de carga, simultaneamente a maior do mundo, com 25.000 pontos de carga rápida, divididos por 2700 estações, metade das quais estão nos EUA. Por comparação, a Ionity, a rede criada por um consórcio formado pelos grupos alemães BMW, Daimler e VW, além da Ford e Hyundai-Kia, nasceu em 2017 e prometeu atingir 400 estações na Europa, com cerca de 1600 pontos de carga, no final de 2020. Contudo, estamos em Junho de 2021 e ainda vai nas 346 estações, tendo criado menos estações em quatro anos do que a Tesla inaugurou em apenas num.

À medida que o volume de veículos eléctricos vendidos aumenta, o acesso dos seus condutores aos pontos de carga será cada vez mais difícil e se ter três condutores à frente na fila para a gasolina pode significar 10 minutos de espera, estar em terceiro para um carregador, mesmo que super-rápido, pode significar 2 ou 3 horas, uma espera inaceitável. Os construtores sem rede própria pedem à Europa ou aos diferentes países que invistam nas redes para recarregar os seus veículos, para que mais facilmente possam aliciar novos clientes, mas se a Tesla conseguiu pagar a sua generosa rede do seu bolso, e é uma marca pequena (que muitos concorrentes já previram, sem sucesso, estar em vias de falir), porque não investem em redes próprias os grandes e endinheirados fabricantes tradicionais?

Se Elon Musk afirmou estar aberto a abrir a sua rede a outros fabricantes de automóveis eléctricos, nunca o fará sem a compatível compensação, especialmente se forem concorrentes de peso. E aqui basta ter presente que a Ionity reclamou recentemente ter falta de verbas para continuar a investir – apesar de ter donos com carteiras recheadas –, tendo admitido poder alienar cerca de 20% do capital por cerca de 500 milhões de euros, o que coloca o valor da vendedora de energia em 2500 milhões. Comparativamente, a rede de Superchargers da Tesla tem quase oito vezes mais estações e praticamente 16 vezes mais pontos de carga, pelo que é fácil calcular quanto pode valer o acesso à rede de carregadores na marca norte-americana.

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