Em 2007, a cadeia britânica Yotel começou por abrir hotéis cápsula em aeroportos, onde os quartos pequenos, apenas com o necessário, eram pensados para quem estivesse de passagem e a fazer escalas. A inspiração na decoração e na arquitetura vinha das cabines dos aviões e a tecnologia era um dos pontos fortes, tanto nos detalhes como nos principais serviços do alojamento. A intenção era tornar o hospede autónomo na sua experiência, livre de horários ou de formalidades. O conceito cresceu, manteve-se fiel às suas premissas originais, mas foi deixando os aeroportos e ocupando o centro das cidades, tendo atualmente 33 moradas, entre Reino Unido, Singapura, Estados Unidos da América, Dubai ou Miami.
No fim do mês de maio foi a vez do Porto receber o primeiro Yotel da Península Ibérica, situado na baixa da cidade, num antigo edifício devoluto com nove pisos. “Tínhamos abertura prevista para o fim do verão de 2020, mas a pandemia atrasou o processo. As coisas não estão fáceis, mas já começamos a sentir sinais positivos”, explica ao Observador Nuno Godinho, manager do Yotel no Porto. Com um percurso profissional ligado às Pousadas de Portugal, o responsável conheceu o conceito britânico em 2019 e decidiu trocar o alojamento mais clássico e tradicional por uma alternativa digital e tecnológica, que ambiciona estar presente nas principais cidades europeias.
“O Yotel é pensado para os nativos digitais, mas também para pessoas que viajam em trabalho”, acrescenta, revelando que o novo espaço no Porto é um quatro estrelas, resulta de um investimento que ronda os 30 milhões de euros e conta com 35 funcionários, que “não são substituídos” pela tecnologia associada ao conceito da marca.
Aperte o cinto e inicie uma viagem ao mundo digital e intuitivo
Neste hotel todas as nomenclaturas são inspiradas nas companhias aéreas, os funcionários são a tripulação, a receção é a mission control e os quartos são apelidados de cabines. Mesmo antes de chegar de malas e bagagens ao Yotel, pode fazer o seu próprio check in através da aplicação móvel, digitalizando o seu documento de identificação e conseguido uma chave móvel para entrar no quarto. Junto à entrada, há três quiosques automáticos onde consegue fazer o mesmo, incluindo o pagamento, mas se preferir há um balcão tradicional com funcionários que realizam todo o processo.
Branco e roxo, as cores da marca, são os tons dominantes numa decoração minimalista e futurista, por vezes pautada por detalhes em madeira e tecidos de estofos em cinza, mostarda ou magenta. Ao lado da receção lê-se Grab & Go e na parede há máquinas de bebidas quentes e snacks, doces e salgados, disponíveis a qualquer hora do dia e da noite. “A ideia é que o hóspede seja completamente autónomo e não fique refém dos horários do restaurante”, sublinha Joana Vasconcelos, responsável pela comunicação do Yotel, que chama também a atenção para os produtos de merchandising do hotel distribuídos em vitrinas, como powerbanks, adaptadores universais, blocos de notas ou garrafas térmicas.
Não se assuste se junto ao hall de entrada ouvir um objeto estranho, luminoso e com rodinhas a desejar-lhe ‘boa noite’, muito provavelmente será um dos dois robots programados do hotel. A Yolinda e o Yogiro – sim, foram batizados – são considerados autênticas mascotes, são compostos por três prateleiras e um pequeno ecrã, falam, cantam e fazem um room service totalmente personalizado. “Se o hóspede pedir uma garrafa de água, uma toalha extra ou uma salada, é inserido o número do quarto e o próprio robot comunica com o elevador. Assim que chega à porta, o cliente recebe uma chamada e avisar que o seu pedido chegou. São um extra a esta experiência mais fora da caixa, mas não substituem o papel dos funcionários”
Os quatro elevadores disponíveis não têm a típica música ambiente, mas incluem dispensadores de álcool gel e um ecrã semelhante ao que vemos na parte detrás do bancos nos aviões com a previsão da temperatura local para os próximos dias. O wi-fi é veloz e os corredores que dão acesso aos quartos, o branco e o roxo voltam a dominar a sinalética e a iluminação, quase ofuscante.
Camas inteligentes, luzes que se acendem com um toque e carregadores para todos
Há 150 quartos, entre suites com direito a varanda, máquina de café e sofás cama, quartos duplos, com duas camas de solteiro, e 66 quartos mais pequenos que incluem uma smartbed. “É um produto exclusivo desenvolvido pela marca, onde através de um botão o colchão recua, ficando uma espécie de sofá e não ocupando tanto espaço”, explica Joana Vasconcelos, responsável de comunicação do Yotel, acrescentando que há quartos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida, no entanto, o hotel não permite a entrada de animais e não é aconselhável a famílias com crianças.
As áreas no geral são pequenas, mas, de forma compactada, têm tudo o que é necessário para uma estadia agradável: um secador de cabelo potente, produtos de higiene cheirosos, portas do duche isoladas e à prova de fugas de água, toalhas fofas e leves, tábua e ferro de engomar, um mini bar, uma televisão HD e um cofre com tamanho suficiente para guardar um computador portátil.
Todos os quartos têm janelas — com uma vista melhor ou pior – e, por isso, abunda a luz natural, ainda assim, a cadeia britânica dá bastante importância às luzes artificiais, espalhadas, até de forma exagerada, um pouco por toda a parte, ao redor da televisão e no varão do charriot que segura a roupa. À porta, não há o típico orifício para colocar o cartão e ativar a eletricidade, mas sim botões onde é possível regular a cor e a intensidade das luzes, de forma intuitiva e sem ser necessário um livro de instruções.
“A ideia é que as pessoas criem o seu próprio ambiente, consoante o seu estado de espírito, de forma completamente livre. A escolha das luzes também pode ser feita remotamente através da app, igualmente capaz de desligar a televisão, por exemplo”, sublinha a responsável. Esqueça o tempo que costuma perder à procura do sítio certo para ligar ou desligar a luz do espelho da casa de banho ou do candeeiro da secretária, no Yotel a iluminação regula-se com um simples toque no objeto.
Pensados para os que transportam consigo vários aparelhos eletrónicos, os quartos estão apetrechados de várias tomadas nas paredes, carregadores de wireless e entradas USB junto à cama, que tem tanto de robusta como de confortável. Por aqui não existem as típicas ofertas de chinelos de quarto, sabonetes ou frascos de shampô, os produtos de higiene, como o gel de banho, o creme de corpo ou o sabonete das mãos, são apresentados em forma de dispensadores recarregáveis, um dos poucos detalhes sustentáveis no hotel.
A televisão está demasiado próxima de cama, não sendo indicada para quem tem o olhar mais sensível, e caso aprecie um sono profundo leve um tapa olhos e tampões auditivos. Os estores das janelas não são completamente opacos, há inúmeras luzes de presença e ouvem-se as portas dos outros quartos bater, uma vez que todas têm uma mola que permite que se fechem sozinhas, mas ruído é superior ao normal.
Espaços para comer, treinar e trabalhar com música ambiente e uma vista sobre o Porto
No restaurante Komunity, o único espaço de refeições do Yotel, saltam à vista o ecrã gigante, as muitas tomadas nas paredes, os candeeiros futuristas e uma playlist demasiado mexida para acompanhar a degustação. O pequeno almoço é servido num tabuleiro e não em regime buffet, devido às restrições pandémicas, e os menus para despertar variam entre a tosta de abacate com ovo escalfado e flor de sal, a taca de açaí com fruta e granola ou as panquecas de banana sem glúten.
A restante carta está disponível ao longo do dia e é elaborada pelo chef Gustavo Silva, que defende pratos descontraídos, simples e para partilhar. Na oferta, que pode ser acompanhada por cocktails exclusivos da casa, destacam-se as sandwiches de leitão assado, o bao negro de costela mendinha, os tacos com sushi, os cachorros de camarão picante, os poke bowls de salmão ou os falafels com molho de iogurte. Existem combinações mais compostas como o hambúrguer de frango crocante, queijo cheddar, coleslaw picante, molho de francesinha e batatas fritas, infelizmente congeladas. No universo dos doces, conta com um brownie de chocolate, molho de caramelo salgado e gelado de avelã ou um bolo red velvet com chantilly e morango.
Durante o período do almoço, há menus executivos a 9 euros com pratos da carta em porções menores servidos com o objetivo chamar ao Yotel quem também vive na cidade. “Queremos atrair os locais com preços atrativos”, sublinha o chef Gustavo Silva, que em breve promete desenvolver pratos tipicamente portuenses, incluir um brunch na carta ou assinalar datas temáticas como dia internacional da cerveja, a 9 de agosto, ou o dia mundial chocolate, a 7 de julho. O Komunity inclui ainda um pátio ao ar livre com um jardim vertical, mesas baixas e altas, tomadas elétricas e música ambiente.
No último piso do Yotel estava previsto nascer um bar, com direito a um pequeno rooftoop e uma vista fotogénica sobre a cidade, mas a pandemia alterou os planos e fez deste espaço versátil e polivalente, com cozinha e casas de banho próprias incluídas, um palco para futuros eventos privados. “Pode ser uma aula de yoga ou uma sessão de cocktails, está tudo em aberto”, alerta Joana Vasconcelos, responsável pela comunicação da marca. Esta é, aliás, uma das valências do hotel que também disponibiliza para aluguer duas salas de reuniões insonorizadas, com uma lotação total de 40 pessoas, para empresas ou iniciativas pontuais, agendadas por hóspedes e não hóspedes.
Regressando ao piso térreo, irá encontrar uma sala de estar recheada de pufs, sofás, poltronas, uma estante luminosa com livros nacionais e internacionais, uma grande televisão e, claro, várias tomadas para quem quiser permanecer a trabalhar. Mesmo ao lado, está um ginásio aberto 24 horas, com algumas máquinas de musculação, vídeos com exercícios de yoga e um sistema tecnológico que permite aceder a playlists, redes sociais, planos de treino e circuitos personalizados.
O que interessa saber
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Nome: Yotel
Abriu em: Maio de 2021
Onde fica: Rua de Gonçalo Cristóvão, 216, Porto
O que é: O primeiro hotel da cadeia britânica Yotel na Península Ibérica
Quem manda: Nuno Godinho, manager
Quanto custa uma noite: A partir de 67 euros
Qual é a vista: Zona histórica da cidade do Porto
Contacto: 22 244 0380
Reservas: reservations.porto@yotel.com
Links importantes: Site, Facebook e Instagram
Curiosidades: Há dois robots que interagem com o hóspedes e fazem room service
O Observador esteve alojado a convite do Yotel Porto