Em proposta apresentada esta quarta-feira, a União Europeia (UE) pretende acelerar a adopção de veículos eléctricos, no âmbito de um reforço das metas climáticas, razão pela qual está determinada a proibir em 2035 a comercialização de novos automóveis movidos a combustíveis fósseis.  E os híbridos plug-in só serão considerados veículos de baixas emissões até 2030.

Significa isto que, dentro de 14 anos, os construtores de automóveis só poderão vender nos 27 países que compõem o bloco veículos zero emissões, sejam eles impulsionados pela electricidade acumulada em baterias ou gerada a bordo com recurso a células de combustível a hidrogénio. Os carros a gasolina e a gasóleo, mesmo com alguma componente de electrificação (híbridos ligeiros/mild hybrid, híbridos e híbridos plug-in), estão sentenciados de morte na proposta que está em cima da mesa. Segundo a Reuters, as medidas previstas no novo documento elaborado pela Comissão Europeia ainda terão de ser discutidas e aprovadas no Parlamento Europeu, processo que poderá demorar até dois anos.

Emissões de CO2 sofrem corte brutal em 2030

As metas pró-ambiente são revistas e robustecidas em matéria de emissões. Era suposto que, em 2030, as emissões de dióxido de carbono dos automóveis baixassem 37,5% face aos valores de 2021, mas a Comissão propõe agora um corte de 55%. Citada pela referida agência, a presidente do Climate Group, uma organização não governamental que trabalha para combater as alterações climáticas, saúda a decisão:

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É este tipo de ambição que temos esperado da UE e é isso que tem faltado nos últimos anos”, declarou Helen Clarkson, para depois acrescentar que, “se a ciência diz que precisamos de reduzir para metade as emissões de gases com efeito estufa até 2030, então é simples: vamos livrar-nos do motor a combustão no transporte rodoviário”.

A necessidade de reduzir mais do que estava originalmente previsto as emissões de CO2, o que significa baixar o consumo, uma vez que as emissões dependem deste último, equivale a pedir que um veículo consuma dentro de 9 anos menos de metade do que gasta agora, o que é fisicamente impossível. Para reduzir a média de emissões de CO2 em 55%, os mild hybrid deixam de fazer sentido e os híbridos convencionais oferecem uma magra compensação – interessante apenas para os construtores que comercializem muitos veículos 100% eléctricos –, o que leva a que o mercado fique refém dos veículos exclusivamente eléctricos e dos híbridos plug-in (PHEV). De recordar que se a média de emissões de CO2 esperada para 2021 será próxima de 95g/100 km, a anunciada redução de 55% colocará este valor nas 42,7g, fasquia apenas exequível para motores de combustão ajudados por muita electrificação.

Um posto de carregamento a cada 60 quilómetros

Banir a venda de modelos equipados com motores térmicos é algo que terá de ser necessariamente acompanhado de um reforço da infraestrutura de postos de carregamento para veículos eléctricos, sem a qual os utilizadores desta classe de veículos vêem o seu raio de circulação extremamente limitado. Para colmatar essa lacuna, a Comissão exige que os diferentes países da UE garantam a instalação de postos públicos de recarga nos principais eixos viários separados, no máximo, por 60 km de distância entre estações de carregamento. Isto até 2025.

Estima-se que a venda de veículos eléctricos implique a criação de 3,5 milhões de estações de recarga até 2030, número que até 2050 deverá ascender a 16,3 milhões. Contas feitas, entre investimento público e investimento privado em carregadores, espera-se que até 2040 seja necessário despender entre 80 mil e 120 mil milhões de euros.

A consultora AlixPartners antecipa que o investimento na electrificação, por parte de construtores e fornecedores da indústria automóvel, salte dos 250 mil milhões de dólares previstos para o período de 2020 a 2024, para uns bem mais expressivos 330 milhões – o que representa um incremento de 41%.

Híbridos plug-in perdem a “magia” em 2030

Os veículos com mecânica PHEV sempre foram favorecidos pela regulamentação, que parte do princípio que a bateria está sempre carregada no início do ciclo de medições e que calcula os consumos (e emissões) apenas nos primeiros quilómetros, não nas centenas seguintes, quando a bateria já vazia leva o modelo a funcionar como um híbrido vulgar, com consumos quatro a cinco vezes superiores. Só assim se explica que modelos PHEV com 600 cv estejam homologados com consumos médios pouco acima de 2 litros.

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Se este “favorecimento”na homologação dos valores de consumo permitiu que os PHEV ajudassem a baixar as emissões médias dos diferentes construtores em 2020, evitando assim as multas milionárias previstas por Bruxelas, rapidamente se percebeu que não havia forma de controlar ou obrigar a que os condutores recarreguem a bateria. Mas, se tal não acontecer, a tecnologia híbrida plug-in deixa de fazer qualquer sentido. Sucede que vários estudos confirmam que, quanto mais caros são os PHEV, menos tendência os seus condutores têm para recarregá-los.

A medição de consumos em condições reais de utilização vai expor os valores demasiado “optimistas” dos PHEV, pelo que o futuro deste tipo de tecnologia estaria sempre condenado a prazo, isto apesar das vantagens que oferecem se bem utilizados. A proposta agora apresentada pela União Europeia, que retira aos PHEV o estatuto de “veículos de baixas emissões” em 2030, marcará o fim do caminho para este tipo de mecânica, potencialmente impedindo-os de ter acesso a incentivos à aquisição e de usufruir de benefícios fiscais.