Enviado especial do Observador, em Tóquio

Comecemos pelo final, ou não tivesse sido também nesse período que Portugal conseguiu finalmente quebrar a espiral onde tinha entrado desde o oitavo minuto da primeira parte. Enquanto se começavam a ouvir alguns berros que pareciam de festa nacional mas que afinal eram apenas a preparação da Suécia para entrar em campo para defrontar o Japão, Gustavo Capdeville, a grande figura da Seleção Nacional no triunfo diante do Bahrain por 26-25, estava a terminar a passagem pela zona mista do Yoyogi National Stadium.

– Eles têm um Mohamed Ali na baliza. E nós, quem temos?
– O Gustavo, Gustavo Capdeville.

O guarda-redes português foi o último jogador a passar pela zona mista após um triunfo com tanto de sofrido como de histórico na primeira participação de sempre do andebol nos Jogos Olímpicos. Vinha feliz, claro, depois de um jogo onde tudo lhe correu de feição, com uma eficácia de 43% entre as 13 defesas em 30 remates. “Boa noite, em português?”, perguntou. Sim, em português e bom português. E a descontração é tanta que o jogador do Benfica aproveita até para se sentar na pequena mesa utilizada para pousar gravadores e manter distâncias.

“Fomos uma equipa dinâmica, que defrontou uma grande equipa e acabou por ser um jogador decidido depois nos detalhes. A minha exibição? Já ali [na zona de entrevistas da RTP] me colocaram num patamar onde eu não gosto de estar, penso que não devemos valorizar isso mas sim o coletivo. Já tinha visto este filme do último minuto antes com a Suécia, porque eles tinham feito o mesmo, também um livre de sete metros. Hoje foi para o nosso lado. Como nos tinha dito a Telma Monteiro quando esteve connosco numa palestra antes dos Jogos, aqui nunca há favoritos”, destacou Gustavo Capdeville, o guarda-redes tratado também por Cap pelos companheiros.

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Já Paulo Pereira, selecionador nacional, voltou a falar da questão do jet lag e deu a receita para tudo começar a voltar mais ao normal sem tantos erros pouco usuais como voltou a acontecer no jogo desta noite: paciência.

“Sabíamos que o Bahrain ia ser muito complicado. Eles têm um modelo de jogo extraordinário, ao nível do 1×1, dos duelos. É gente com muita mobilidade, mais baixos do que nós e isso é um problema difícil de solucionar, embora tivéssemos preparado minimamente essa situação. Não funcionou durante quase o jogo todo, só mais ou menos nos últimos dez minutos. Aí conseguimos ter êxito defensivo nas ajudas e isso foi determinante para vencer. O coração valeu muito”, destacou, explicando que o encontro com a Suécia, na próxima quarta-feira (11h em Tóquio, 3h em Portugal) merecerá outra abordagem “que está a ser preparada há algum tempo”.

“Em termos ofensivos notou-se bem os efeitos do jet lag. Estamos a ter muita paciência com esta malta, é preciso mesmo ter muita paciência. É uma experiência diferente para todos, estamos a oito horas de diferença. Para adquirir os níveis normais costuma demorar um dia e meio por cada hora de jet lag. Vamos dizer que a partir de amanhã já não há efeitos, contra a Suécia acabou o jet lag. O André Gomes hoje não esteve cá e é um jogador muito importante para nós. O Capdeville foi um dos atletas a quem custou muito acertar o sono, não conseguia dormir, mas ele já chegou. O Humberto também vai lá chegar”, salientou ainda Paulo Pereira.