“Prontos para assumir todas as responsabilidades”. O mantra foi assumido desde o primeiro dia e, à medida que a data das eleições autárquicas — 26 de setembro — se vai aproximando, ganha peso e relevância no discurso do PCP em Lisboa. Apostados em ganhar influência na câmara da capital e, quem sabe, pelouros, como já aconteceu com outros autarcas do PS no passado, os comunistas apresentaram esta segunda-feira o programa para Lisboa com um aviso: “Não admitimos à partida nenhuma limitação à nossa capacidade de intervir na definição dos destinos de Lisboa”.

O recado foi deixado por João Ferreira, o candidato a Lisboa que já foi candidato a quase tudo pelo PCP. Desta vez, deixou o Parlamento Europeu para se dedicar por inteiro à missão lisboeta, numas eleições cruciais para o PCP tentar provar que ainda se consegue fazer valer da sua implantação autárquica, quando as sondagens indicam que está a perder terreno em Lisboa.

O partido, aliado ao PEV, quer pelo contrário ganhar terreno no eleitorado e, ao que tudo indica, no executivo de Fernando Medina: “A CDU está, nestas eleições, pronta a disputar e a assumir todas as responsabilidades. A CDU tem condições, oferece garantias de responder a todas as exigências colocadas pela governação autárquica da cidade”. Como? “Fá-lo-emos na exata medida daquilo que o povo vier a decidir, com a força que dele nos vier”. Essa força permitirá perceber se têm ou não capacidade de negociar à vontade com Medina.

BE e PCP lutam por governar com PS em Lisboa. Medina atento

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A tarefa não será fácil, pelo que Ferreira, discursando com os elétricos que passavam na praça Luís de Camões, no Chiado, como pano de fundo, explicou como quer fazer. E recorreu a dois fatores que mencionava constantemente quando ainda há meses concorria à presidência da República: acabar com a ideia de “voto útil” — esse é na CDU, insistiu — e falar a todos, “independentemente das opções eleitorais que fizeram no passado” — para expandir os horizontes eleitorais além dos eleitores tradicionais do PCP.

Ao lado de Ferreira, que muitos apontam como seu provável sucessor, no palanque, Jerónimo de Sousa confirmou: o partido está pronto para “assumir todas as responsabilidades” em Lisboa, que “não está condenada à alternância” entre PS e PSD. Sem esquecer a menção ao partido rival: “Com ou sem BE” — até porque, no programa eleitoral que o partido distribuiu aos jornalistas, a maioria que o PS formou com o BE em 2017 na cidade é atacada em várias ocasiões.

Aeroporto “desativado”, casas acessíveis e creches públicas

Quanto às prioridades da CDU para a cidade, alguns destaques — “a prevalência do interesse público sobre o privado”, um “urbanismo transparente e participado”, o direito à habitação, a reabilitação urbana, a política ambiental e cultural — e várias medidas concretas:

A substituição e “desativação, faseada mas definitiva”, do aeroporto Humberto Delgado, pela opção de Alcochete (“não evitamos as questões difíceis”, justificou João Ferreira);

— A revisão do Plano Diretor Municipal para pôr fim a “negociatas” na cidade;

A concretização do programa de arrendamento acessível, com um número de fogos superior em até 30% ao anunciado por Fernando Medina;

Alargar percursos e horários na Carris, incluindo com um serviço gratuito de transporte escolar para crianças até 12 anos;

Prolongar as atuais linhas de metro;

— Aumento da rede pública de creches, jardins de infância e escolas;

— Medidas para a Cultura, como um passe anual de ingresso nos equipamentos culturais municipais.

Apresentado o “projeto alternativo” da CDU, Jerónimo fez questão de improvisar umas frases, no final do discurso, para elogiar os candidatos da coligação e garantir que querem “o melhor” para a cidade. Arranca agora o teste mais importante para o PCP: provar que as últimas eleições a várias escalas, todas com resultados baixos, não mostram uma tendência de descida irreversível.