Há uma nova coligação que quer juntar todas as empresas ligadas à tecnologia em Portugal para um maior debate das leis do setor. Chama-se “Portugal Tech League”, foi criada pela consultora de inovação colaborativa Beta-i e é uma iniciativa que junta organizações nacionais ou com presença em Portugal como a AWS (Amazon Web Services), a Microsoft, a Google ou a Talkdesk, entre outras. Como anunciou esta nova liga em comunicado, o objetivo é “informar e envolver a comunidade tecnológica nas políticas digitais europeias e reforçar a presença das startups nas discussões regulatórias“.

Ao Observador, Alisson Avila, responsável pelo projeto e um dos cofundadores da Beta-i, diz que a consultora criou esta iniciativa porque foram “desafiados por alguns players do mercado, no final de 2020″. “O que fizemos foi pegar neste desafio e desenhar um projeto experimental, mas com força e envolvimento político suficiente por parte do ecossistema dentro e fora de Portugal”, adianta. Já Pedro Rocha Vieira, cofundador e presidente executivo da Beta-i, afirma: “Estamos num momento singular em que os temas do digital são cada vez mais pertinentes e a atenção da Comunidade Europeia sobre estes temas é cada vez mais incisiva”.

Portugal é cada vez um ecossistema mais maduro e com um forte enfoque nas temáticas de scale-ups e de crescimento e internacionalização da sua economia digital, onde os temas de policy são ainda mais determinantes e condicionantes”, diz Pedro da Rocha Vieira.

Em comunicado, a Portugal Tech League diz estar baseada “em dois pilares”, que são “clarificar novas propostas legislativas nos espaços tecnológicos europeu e português e recolher recomendações para divulgação pública, através de documentos com propostas de medidas dirigidas aos decisores políticos em Lisboa e Bruxelas”. Todas as propostas vão estar disponíveis na página oficial do projeto.

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As propostas legislativas são difíceis de compreender, especialmente quando se trata das suas implicações futuras. Além disso, são escritas com uma linguagem técnica que dificulta a perceção de quem não tem conhecimento sobre o assunto”, defendem os responsáveis do projeto.

O primeiro tema sobre o qual a Portugal Tech League se vai debruçar é o novo Regime Europeu sobre a Inteligência Artificial, assumido pela Presidência Eslovena do Conselho da União Europeia como uma prioridade para o segundo semestre. Aqui, objetivo vai ser “informar e envolver a comunidade digital na elaboração de documentos com propostas de medidas para partilhar com decisores polí ticos”. Além disso, a iniciativa também quer envolver-se na feitura de outras leis, como a “Lei dos Serviços e Mercados Digitais” ou documentos como a “declaração Startup Nation Standard”.

O modelo de trabalho da Portugal Tech League funciona através de ciclos, com um tema em foco de dois em dois meses. Numa primeira fase, é explicada a relevância do tema e o seu impacto nos empreendedores europeus, através de um conteúdo fácil de compreender. De seguida, o tópico será explorado de forma mais aprofundada, através de fontes credíveis e de um lançamento de um podcast”, explica a Portugal Tech League.

Pedro da Rocha Vieira afirma que o maior desafio foi “mobilizar e dinamizar um grupo de parceiros fundadores representativos e envolvidos com os objetivos desta iniciativa”. “Apesar de existirem várias organizações e iniciativas relacionadas com estas temáticas, havia o sentimento de que esta é uma iniciativa que ocupa um espaço que ainda não está suficientemente estruturado, algo que saiu reforçado durante os tempos de pandemia”, explica.

A Portugal Tech League quer acabar com o “jargão e linguagem técnica” para tornar as leis mais “simples”

A Talkdesk, um unicórnio português (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) e que se juntou à iniciativa, diz ao Observador que o fez porque este projeto permitirá que a startup “contribua para a clarificação de novas propostas legislativas nos espaços tecnológicos”. Relativamente aos principais problemas legais que quer resolver com a sua participação, diz sem rodeios: “É necessário tornar as propostas legislativas existentes mais simples de entender, tornando-as, por consequência, mais heurísticas, mais próximas daqueles a quem os articulados se destinam”.

De acordo com a empresa, “a prevalência de jargão e linguagem técnica implica esforços de tradução significativos, que afastam do tema pessoas e grupos que detêm pouco conhecimento sobre os temas em questão”. Por isso, afirmar que se identifica com o “objetivo manifesto da Tech League, além de tornar as propostas mais claras, possibilitar que a sua redação e concretização decorra de movimentos mais inclusivos e participados, dotando-as de maior valor e acuidade, em termos pragmático”.

As propostas existentes tendem a resultar de exercícios pouco participados, que contam com reduzida participação da comunidade digital, que só toma conhecimento da sua existência, em termos passivos, consumindo a informação, com escassa oportunidade para eventual inquirição ou adaptação”, diz a Talkdesk.

À Google, Microsoft, AWS, Talkdesk e Beta-i, que organiza a iniciativa, juntaram-se também, e para já, as seguintes organizações ligadas a estas temáticas: a Allied for Startups, CIP – Confederação Empresarial de Portugal, Eupportunity, European Startup Network, FDUCP – Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, GeSI – Global Enabling Sustainability Initiative, Investors Portugal, Startup Portugal, Startup Sesame, Sapo Tek, e VdA Advogados.