A percentagem de pessoas acima dos 70 anos que consegue produzir anticorpos após vacinados contra a Covid-19 é menor do que para aqueles que têm até 69 anos. A conclusão é de um estudo do Algarve Biomedical Center com a Fundação Champalimaud para o Ministério do Trabalho, Solidariedade e da Segurança Social (MTSSS).

Das mais de cinco mil pessoas totalmente vacinadas envolvidas no estudo (2.303 funcionários e 2.871 utentes), foi possível verificar, no testes serológicos (de deteção de anticorpos contra o SARS-CoV-2) realizados em agosto, que 78,6% dos funcionários tinha produzido anticorpos contra 46,2% dos utentes. “É uma diferença estatisticamente significativa e altamente considerável entre os dois, mas este dado precisava de ser trabalhado de outra forma para se compreender melhor”, avisou.

Há uma diminuição abrupta dos anticorpos em pessoas com mais de 70 anos que tenham tido duas doses de vacina e quatro meses após a vacinação completa. Contrariamente, as pessoas que tiveram Covid-19 e que receberam uma dose de vacina mantêm níveis altos de anticorpos ao longo de todo o tempo”, anunciou o responsável do estudo do Algarve Biomedical Center, que foi apresentado em Viseu.

Ao Observador, Nuno Marques explicou que não se trata de uma diminuição individual, uma vez que cada pessoa fez um único teste (e não foi estudada ao longo de vários meses), mas de uma diferença significa entre grupos de pessoas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assim, a percentagem de utentes que apresentavam anticorpos era consideravelmente maior nos que tinham sido vacinado há menos de quatro meses quando comparados com quem tinha sido vacinado há mais de quatro meses. Os funcionários também apresentam uma pequena variação, mas de longe muito menos pronunciada do que nos idosos.

Nuno Marques diz ao Observador que estes resultados do projeto “Protetor Covid-19”, conduzido em lares do Alentejo e Algarve, apoiam outros estudos que mostram que os anticorpos nos idosos se mantém durante menos tempo do que na pessoas mais novas, ainda que a resposta imunitária inicial seja equivalente. O que não se sabe é o que significa esta diminuição de anticorpos ao longo do tempo e se isso tem impacto na imunidade.

A população do estudo foi maioritariamente feminina, e entre os funcionários a idade média foi de 47 anos enquanto nos utentes foi de 85 anos. Destes, 2.277 têm mais de 80 anos e mais de 1.000, têm mais de 90 anos.

Estudo serológico: medir a quantidade de anticorpos aumenta conhecimento científico, mas nada diz sobre a perda de imunidade

Durante a apresentação dos resultados em Viseu, Nuno Marques explicou que os objetivos do estudo, “o maior do género”, era perceber qual a percentagem de utentes e funcionários de lares que possuem anticorpos contra o coronavírus, durante quanto tempo os utentes e funcionários mantêm anticorpos após a vacinação, se a presença de anticorpos varia com a idade e se haveria diferenças na presença de anticorpos entre as pessoas vacinadas com duas doses e as que tiveram Covid-19 e receberam uma dose de vacina.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, assistiu à apresentação do estudo e, no final, disse que iria levar o documento para a reunião de peritos, esta quinta-feira, no Infarmed, porque “a informação ajuda na decisão” a tomar para o futuro.

Fica evidente neste estudo que não podemos baixar a guarda, do ponto de vista de manter as medidas de proteção, naturalmente com uma capacidade de irmos evoluindo, como fomos evoluindo”, disse Ana Mendes Godinho.

A governante alertou que “há muitas outras características deste isolamento que depois também têm efeitos nefastos nas pessoas” e apelou para que se cuide “dos outros lados da pandemia, nomeadamente do isolamento dos idosos”.

Ana Mendes Godinho disse que uma das medidas preventivas para proteger os idosos é “a testagem aos funcionários à entrada dos lares que vai manter-se” no programa de outono e inverno que está a ser preparado e pediu “a abertura para as visitas, sempre com medidas de prevenção, para retomar a vida de forma tranquila” também nos lares.

Nuno Marques anunciou que o estudo vai ser enviado para instituições europeias. Ao Observador disse que seria enviado para uma revista científica no início da próxima semana.