A investigação às ameaças e os insultos proferidos ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, estão a ser investigadas pela Unidade Nacional Contra Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária não só por estar em causa uma alta figura do Estado, mas também por envolver uma “questão ideológica”, apurou o Observador junto de fonte policial.

“Ferro Rodrigues é uma alta figura do Estado e foi publicamente vexado e humilhado o que só por si justificava que o inquérito nos fosse atribuído”, disse uma fonte da UNCT ao Observador. Por outro lado, o episódio quando relacionado com outros que têm acontecido nos últimos meses mostra que foi motivado por uma questão ideológica. ” E a PJ atua contra todos os movimentos anti-sistema, mais à esquerda ou à direita, quando têm expressão”, acrescentou.

A mesma fonte adiantou que ainda recentemente também o coordenador da Task Force para a vacinação contra a Covid-19, o vice-almirante Gouveia e Melo, foi apupado junto a um centro de vacinação em Odivelas, mas que esse episódio não foi valorizado pela Polícia Judiciária. Já o episódio que no sábado envolveu Ferro Rodrigues está a ser tratado pelos investigadores desta polícia que se dedicam a casos de terrorismo. A juntar  a este caso, há outros episódios a merecerem a atenção da Judiciária, — como aquele em que um juiz Rui Fonseca e Castro, que se encontra suspenso também pela sua posição negacionista, se insurgiu contra a PSP aplaudido por um grupo de pessoas.

Um dos movimentos que está a ser acompanhado pela polícia é o Movimento Defender Portugal — um movimento que se tem revelado negacionista e que tem organizado várias manifestações contra as medidas que o Governo tem aprovado contra a pandemia e que na rede social Facebook, por exemplo, conta já com mais de 18 mil membros a gostar da página, entre eles médicos e advogados. A Judiciária suspeita que alguns dos seus elementos possam ter estado no “ataque” ao presidente da Assembleia da República.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ferro Rodrigues estava a almoçar num restaurante próximo da Assembleia da República quando começou a ser atacado por um grupo que no exterior gritava insultos e ameaças. “Assassino”; “ordinário”; “não toca na Constituição”; “ditadura, não, liberdade, sim. Ferro Rodrigues continuou a almoçar, enquanto cada vez mais pessoas se aglomeravam junto à porta do restaurante. “Olha que não são esses dois capangas que te protegem, podes ter a certeza!”, gritou uma das manifestantes por um megafone, quando um dos seguranças que acompanhava a segunda maior figura do Estado se aproximou da mesa. Os insultos foram gravados em vídeo e partilhados nas redes sociais. “Este restaurante está marcado, nunca mais nenhum cliente deste restaurante vai ter paz”, continuou depois a gritar a mulher.

Ferro Rodrigues insultado por dezenas de manifestantes negacionistas

Todos estes movimentos negacionistas andam a ser acompanhados há mais de um ano pela Polícia Judiciária. Aliás o Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2020 dá disso conta. O documento que analisa a criminalidade em Portugal refere que em relação aos movimentos que atuam na órbita dos extremismos políticos a pandemia levou ao cancelamento da maioria das suas atividades tradicionais, no entanto o confinamento acabou por expôs mais a sociedade, sobretudo os jovens, ao meio online. “E abriu um leque de oportunidades para que os movimentos de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e desinfomação digital”.

“Neste contexto também se aproximaram movimentos sociais inorgânicos , nomeadamente dos grupos negacionistas da pandemia”, lê-se.

O que se sabe dos dois movimentos com nomes quase iguais e das suas ameaças e manifestações racistas?

As autoridades também referem que entretanto surgiu um novo grupo de extrema direita denominado de Resistência Nacional e um outro denominado Nova Ordem de Avis responsáveis por ameaças por e-mail a parlamentares, militantes antifascista e ativistas antirracistas. Uma nova ameaça que poderá crescer nos próximos anos, admitem.

Já os movimentos anarquista e extrema-esquerda radial “não registaram alterações significativas”, afirmando-se sobretudo no campo do ativismo em reação a acontecimentos políticos.