A Comissão de Trabalhadores (CT) da Petrogal disse esta segunda-feira ver as declarações de António Costa sobre o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos com “estupefação”, “indignação” e “esperança”, oito meses depois de lhe terem pedido uma posição.

“Vemos [as declarações de António Costa] com um misto de estupefação, de indignação e esperança ao mesmo tempo. Estupefação e indignação porque, efetivamente, passaram oito meses desde que nós dizemos que o primeiro-ministro devia pronunciar-se, devia assumir uma posição em defesa da refinaria do Porto e dos postos de trabalho que ali foram destruídos, e esperança no sentido de que mais vale tarde do que nunca”, disse o coordenador da CT da empresa do grupo Galp Energia, Hélder Guerreiro, em declarações à agência Lusa.

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No domingo, durante uma ação de campanha para as eleições autárquicas, em Matosinhos, António Costa, na qualidade de secretário-geral do PS, afirmou que “era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade” como a Galp demonstrou no encerramento da refinaria de Matosinhos, prometendo uma “lição exemplar” à empresa.

“Passámos oito meses pacientemente a dizer ao senhor primeiro-ministro que ele devia assumir uma posição e agora que, finalmente, assumiu uma posição, em Matosinhos, nas vésperas de [eleições], em campanha eleitoral, venha então juntar-se a nós nesta luta e usar toda a sua influência, que é muita, e todo o seu poder, para, efetivamente, reverter este crime económico e social que foi cometido na refinaria do Porto”, sublinhou o representante dos trabalhadores.

Questionado sobre que “lição exemplar” deveria ser dada à Galp, Hélder Guerreiro admitiu que o Estado, enquanto segundo maior acionista direto da empresa não tem poder efetivo de decisão, mas disse esperar que o primeiro-ministro use o seu “poder para influenciar as decisões da empresa, revertendo o encerramento da refinaria do Porto e os despedimentos, readmitindo os trabalhadores que foram despedidos, todos eles”.

O primeiro-ministro deixou críticas ao encerramento da refinaria no distrito do Porto, na sequência da decisão da Galp de concentrar as operações em Sines, acusando a empresa de deixar “um enorme passivo ambiental de solos contaminados”.

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“Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos”, apontou.

Considerando que o processo da empresa em Matosinhos constitui “um exemplo de escola de tudo aquilo que não deve ser feito por uma empresa que seja uma empresa responsável”, o também primeiro-ministro elencou três dimensões que testemunham a irresponsabilidade e a insensibilidade da Galp.

“A Galp começou por revelar total insensibilidade social ao escolher o dia 20 de dezembro, a cinco dias do Natal, para anunciar aos seus 1.600 trabalhadores que iria encerrar a refinaria de Matosinhos”, apontou.

Num segundo momento, salientou o secretário-geral do PS, a empresa mostrou “total irresponsabilidade social” porque, contrariamente “ao que estão a fazer as empresas que estão agora a encerrar as suas centrais a carvão”, não preparou “minimamente a requalificação e as novas oportunidades de trabalho e de prosseguir a vida para os trabalhadores que iriam perder os seus postos de trabalho”.

“E, em terceiro lugar, não revelou a menor consciência de responsabilidade que qualquer empresa — e em particular uma empresa daquela dimensão — tem para com o território onde está instalada, onde deixa um enorme passivo ambiental de solos contaminados, não dialogando previamente com a Câmara nem com o Estado sobre o que é que pretende fazer depois de encerrar aquela refinaria aqui em Matosinhos”, afirmou.

“Eu quero deixar claro: nada tenho contra a empresa. Agora, há algo que eu tenho: é que, neste início de processo de transição, este processo tem de ser exemplar. E quem se porta assim tem de levar uma lição. Tem de levar uma lição para que esta lição seja exemplar para todas as outras empresas que vão ter de enfrentar processos semelhantes, neste processo de transição energética”, frisou.

O encerramento da refinaria de Matosinhos, em abril, representa perdas de 5% do PIB em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto, segundo um estudo socioeconómico a que a Lusa teve acesso.

O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.