Paracetamol é dos poucos medicamentos que são admitidos às grávidas que não têm outros problemas de saúde. Uma equipa multinacional alerta para os riscos que a toma de paracetamol pode trazer para o desenvolvimento do feto, a nível neurológico, reprodutivo e do trato urinário. Mas especialistas independentes continuam a defender as vantagens da sua utilização de forma controlada.

“Recomendamos que as mulheres grávidas sejam alertadas logo no início da gravidez a não usar paracetamol, a menos que seu uso seja clinicamente indicado; a consultar um médico ou farmacêutico se não tiver certeza se o uso é indicado ou se tiver de fazer um uso de longo prazo; e a minimizar a exposição usando a menor dose eficaz [que produza o efeito desejado] pelo menor tempo possível”, escreveram os autores na declaração de consenso publicada pela revista científica Nature Reviews Endocrinology e apoiada por quase 100 médicos e cientistas.

O que os médicos defendem é uma boa avaliação entre o risco e o benefício de se tomar paracetamol, uma vez que o tratamento da dor e febre também reduz os riscos na gravidez e o paracetamol continua a ser a forma mais segura de o fazer. E isto os especialistas independentes ouvidos pelo Science Media Center também defendem: não usar medicamentos desnecessariamente.

Andrew Shennan, professor de Obstetrícia no King’s College de Londres, considerou que declaração de consenso tem uma “perspetiva equilibrada”, mas defendeu que o paracetamol deve continuar a ser usado pelas grávidas.

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O professor tranquilizou as futuras mães lembrando que, “a partir das 10 semanas de gravidez, o bebé já está totalmente formado e que é pouco provável que um fármaco cause danos significativos no feto a partir desse momento”.

É sempre importante que a medicação durante a gravidez seja acompanhada por uma pessoa especializada”, acrescentou no comentário à declaração de consenso.

A consultora de saúde materna e fetal na Universidade de Edimburgo, Sara Stock, destacou que “não há dados novos nesta publicação” e que, apesar de “a equipa ter feito um bom trabalho a recolher a evidência existente, a maior parte dela não é robusta o suficiente para tirar conclusões sobre o uso do paracetamol na gravidez”.

Stephen Evans, professor de Farmacoepidemiologia na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, também criticou a falta de robustez dos estudos e considerou que não se pode tirar conclusões para humanos sobre estudos feitos com ratos.

O professor considerou que esta declaração de consenso serve apenas para aumentar a ansiedade das grávidas visto que a maior parte dos estudos consideram que não há efeitos adversos para o feto. “Os que encontram algum efeito são pouco consistentes e os resultados podem dever-se ao acaso.”

Não há nenhuma epidemia de mal-formações causadas pelo paracetamol”, disse Evans, criticando o alarmismo do artigo.

Assim, Stephen Evans defende que não há razão para as grávidas deixarem de tomar paracetamol, desde que não o façam de forma abusiva. “Como os autores dizem, ‘o uso indiscriminado’ deve ser desaconselhado (tal como qualquer outro fármaco), mas criar ansiedade [nas futuras mães] também deveria ser desaconselhado.”