Graça Freitas indicou esta sexta-feira que uma das prioridades da Direção-Geral da Saúde (DGS) consiste na coadministração da terceira dose da vacina contra a Covid-19 e da vacina da gripe. Isto significa que no mesmo dia no mesmo centro de vacinação — ainda que em “lugares anatómicos diferentes” — os utentes são inoculados com dois imunizantes. Seria “ótimo” e “confortável” para os utentes e também para os “enfermeiros”, assinalou a diretora-geral da Saúde, apesar de faltar a validação por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em conferência de imprensa, Graça Freitas fez um balanço da vacinação da Covid-19 e da gripe, dizendo que “a vacinação contra a Covid-19 é inequivocamente um sucesso em Portugal”. “Somos dos melhores do mundo, senão o melhor”, sinalizou, referindo que Portugal “felizmente” está numa fase com “atividade epidémica ligeira a moderada”.

No entanto, apesar da fase mais positiva, Graça Freitas alertou para o facto de ter de haver uma “avaliação constante de risco” com principal “atenção às variantes”. Explicando que a mensuração do sucesso da vacinação ter três vetores — a taxa de cobertura, a capacidade de conferir imunidade e a capacidade de proteção contra doença grave e óbito — a diretora-geral da Saúde referiu que, com o tempo, “há um decaimento dos anticorpos” e uma “atenuação da proteção”, principalmente nas pessoas com idade mais avançada.

“As pessoas não ficam completamente desprotegidas”, destacou Graça Freitas, mas que não é um nível de proteção ótimo, que seria “importante” manter. Para isso, voltou a anunciar algo que já tinha sido divulgado por Lacerda Sales, secretário de Estado adjunto e da Saúde — a administração da terceira dose para as pessoas com mais de 65 anos. Mas a diretora-geral da Saúde deu mais detalhes:

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  • A prioridade passa por vacinar utentes com mais de 80 anos e residentes em lares.
  • Apenas a vacina da Pfizer poderá ser usada para inocular pessoas com mais de 65 anos.
  • A terceira dose ocorre seis meses depois da administração da segunda dose.
  • Quem recuperou da doença não levará, para já, a terceira dose por “faltarem mais estudos” que comprovem os benefícios.
  • Os utentes podem começar a ser chamados já esta sexta-feira primeiro por SMS, depois por chamada telefónica e até por carta.

Sobre o início da vacinação, Graça Freitas não adiantou nenhuma data específica, dizendo apenas que será “na próxima semana”, uma vez que a DGS aguarda pela publicação de uma norma da OMS sobre a possível coadministração. A expectativa da diretora-geral da Saúde é que esse documento seja publicado ainda sexta-feira, no mesmo dia em que será também publicada a norma da DGS sobre a administração da 3.ª dose a pessoas maiores de 65 anos.

Se isso não acontecer até ao início da próxima semana, quando se prevê o arranque do processo, a DGS seguirá com o plano alternativo, que implica um intervalo de 14 dias entre a administração das duas vacinas.“Ir por um caminho ou ir por outro implica logísticas diferentes”, destacou Graça Freitas para explicar que ainda não é possível determinar em que dia arrancará a administração da dose de reforço.

Cerca de 12 mil imunossuprimidos já levaram a terceira dose

Em Portugal, os imunossuprimidos já estão a receber a terceira dose da vacina contra a Covid-19 e Graça Freitas adiantou que aproximadamente 12 mil pessoas já a receberam, aproveitando ainda para aconselharem os médicos que acompanham estes utentes para recomendarem a vacinação devido às “janelas de oportunidades” conferidas.

Os imunossuprimidos podem receber a vacina da Pfizer e da Moderna e o esquema recomendado é que tomem a dose de reforço 28 dias depois da segunda.

Já administradas 130 mil doses da vacina da gripe em Portugal

Graça Freitas divulgou que até esta sexta-feira, e desde 27 de setembro, já foram administradas cerca de 130 mil doses da vacina contra a gripe, 63 mil das quais em pessoas com mais de 80 anos. A diretora-geral da Saúde disse também haver um “reforço da compra de vacinas”. “O país nunca teve tantas vacinas da gripe”, chegando quase às três milhões.

Tal como na dose reforço contra a Covid-19, a diretora-geral da Saúde indicou que a inoculação ocorrerá quer em centros de saúde, quer em pontos de vacinação “num regime misto”. A opção entre ambas decorrerá “das características da população, da densidade populacional, o tamanho dos ACES (Agrupamento de Centros de Saúde), das características dos profissionais”, explicou Graça Freitas.

INSA indica que proteção das vacinas contra hospitalização dos mais idosos cai para 60%

Também presente na conferência esteve Baltasar Nunes, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que salientou que as vacinas contra a Covid-19 apresentam uma redução da proteção contra hospitalização que passa dos 80% para os 60% nos idosos com 80 e mais anos quatro a cinco meses após a vacinação completa.

No grupo etário dos 80 e mais anos, existe um decaimento da efetividade contra hospitalização, que medíamos em cerca de 80% no primeiro mês após a segunda dose, para cerca 60% quatro a cinco meses após a segunda dose”, adiantou o responsável da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

Baltazar Nunes referiu ainda que, nesta faixa etária, as vacinas contra a vírus Covid-19 apresentam uma proteção contra morte de 87% no primeiro mês após a vacinação completa, percentagem que baixa para cerca de 75% nos quatro a cinco meses seguintes.

Já no que se refere à faixa etária dos 65 aos 79 anos, o especialista do INSA disse que não foi registado um “decaimento da efetividade” contra a doença grave, mas sublinhou que, como estas pessoas foram vacinadas posteriormente, o tempo de observação para o estudo é menor.

“No grupo etário dos 65 ou mais anos, temos observado sempre, medida de três a quatro meses após a segunda dose, uma efetividade 95% a 93%”, disse Baltazar Nunes, ao assegurar que estes estudos do INSA “têm estado em linha com os resultados de outros países que têm aplicado as mesmas vacinas”.

De acordo com Baltazar Nunes, os dados permitem também confirmar que a proteção da vacina contra a doença ligeira é menor do que contra a doença grave.

“Temos verificado que a efetividade da vacina contra a infeção sintomática [doença ligeira] tem decaído com o tempo, nomeadamente, na população com 80 ou mais anos, mas também na população com 65 aos 79 anos”, referiu.