O Partido Socialista (PS) português entregou na Assembleia da República um voto de preocupação com a fome na Etiópia e com o bloqueio da ajuda internacional na região de Tigray, palco de um conflito há quase um ano.

“Esta guerra contribuiu para induzir o que a ONU classificou em junho como uma situação de escassez severa de alimentos para quatro milhões de pessoas e de fome para 350 mil. Esta situação tem-se vindo a agravar com a ONU a estimar agora entre cinco e sete milhões de pessoas a precisar de ajuda na área”, refere-se no voto, datado de dia 06 de outubro e divulgado esta sexta-feira.

Na quinta-feira, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) alertou para a falta de material médico em Tigray, dizendo que está a ter consequências fatais, com pessoas a morrer devido a hemorragias após partos ou à ausência de equipamento de diálise.

Apesar de 80 camiões com ajuda humanitária terem chegado a Tigray entre 28 de setembro e 05 de outubro, vários materiais médicos de primeira necessidade “não foram autorizados a entrar”, referiu, então, a OCHA.

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“A Assembleia da República manifesta a sua preocupação pela situação de fome vivida por centenas de milhares de pessoas na Etiópia, em particular na região de Tigray, em situação de guerra e pelo bloqueio da ajuda internacional, tanto através do bloqueio de camiões como através da expulsão do país de funcionários da ONU e de ONG’s, apelando à cooperação de todas as partes para agilizar uma resposta adequada e decente à grave crise humanitária ali vivida”, conclui o voto de preocupação.

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 04 de novembro para derrubar a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), o partido eleito e no poder no estado.

O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que controlou a Etiópia durante quase 30 anos.

Em 28 de junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray.

No entanto, os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.

As organizações de ajuda humanitária queixam-se que, apesar do cessar-fogo, o acesso continua limitado, sendo constrangido pela insegurança e por bloqueios administrativos.

Em 01 de junho, o Programa Alimentar Mundial advertiu que um total de 5,2 milhões de pessoas, mais de 90% da população de Tigray, necessita de assistência alimentar de forma urgente devido ao conflito.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 100.000 crianças poderão sofrer de desnutrição aguda potencialmente mortal durante os próximos 12 meses — 10 vezes a média anual.