O comentador da SIC, Luís Marques Mendes, defende que as sondagens já divulgadas sobre as eleições legislativas de janeiro mostram que haverá uma “forte bipolarização” ao centro entre PS e PSD e diz que os portugueses parecem apoiar uma solução de maioria absoluta — uma opção em que ele próprio vê “virtualidades”, embora considere que seja “bastante difícil”.

No espaço habitual de comentário na SIC, Marques Mendes começou por dizer que, a esta altura, as sondagens ainda “valem zero”, até porque as pessoas tenderão a tomar decisões em janeiro, durante a campanha e os debates políticos. Mas acrescenta que os resultados permitem já sinalizar que os portugueses estão preocupados com a “estabilidade”. Isso vê-se, sublinha, no facto de mostrarem ser contra o chumbo do Orçamento, por “penalizarem os três partidos da geringonça” (PS, Bloco e PCP) e por mostrarem uma “preocupação para o futuro, com uma forte bipolarização” entre PS e PSD.

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O social-democrata diz que ficou surpreendido com a preferência dos portugueses por uma maioria absoluta (54% defendeu esta opção na sondagem da Católica e da Aximage). “Geralmente é uma solução maldita, mas é uma solução que tem virtualidade para Portugal“, refere, defendendo ele próprio essa solução, ainda que admita que será “difícil”. “É uma solução em que os portugueses veem virtualidades. Eu pessoalmente também vejo virtualidades, mas acho uma solução bastante difícil”, vincou.

Essa solução, que traria “estabilidade” e “durabilidade” a um Governo, será “mais difícil à esquerda”, mas também complicada para a direita, nota. À esquerda porque “com António Costa a geringonça faliu, não se repete“, embora admita que com Pedro Nuno Santos possa renascer (mas seria “do domínio da ficção” achar que Costa ganha as eleições e cede o lugar ao colega do Governo). E à direita porque “o Chega é uma dificuldade”. Já um Governo minoritário seria um “governo de precários, instável”.

Rui Rio teve “pesada derrota” no Conselho Nacional, Rangel uma “vitória clara”

Sobre o encontro do Conselho Nacional do PSD, Marques Mendes dá a vitória a Paulo Rangel depois de o candidato a líder social-democrata ter visto a proposta de realização de eleições internas a 27 de novembro ser aprovada (Rio queria a 20). “É um mau sinal para Rui Rio, normalmente os líderes não perdem.”

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Mas o ex-líder do PSD deixa um recado aos dois candidatos: agora é altura de deixar de falar de “calendários” e passar a falar “do país e para o país”, “das ideias que têm”. “Se fizerem isso, acho que o país tem mais interesse em ouvi-los. Já chega de calendários, de quotas, de datas.” O Conselho Nacional foi, aponta Marques Mendes, “um grande exemplo de democracia interna”, e não foi “deprimente” como no caso do CDS-PP (que nos últimos dias tem visto nomes relevantes anunciarem a saída depois de Francisco Rodrigues dos Santos ter conseguido adiar as eleições internas para o pós legislativas).

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Já sobre a escolha da data das eleições para 30 de janeiro, decidida por Marcelo Rebelo de Sousa, Mendes classifica como “muito equilibrada”, ao não beneficiar nem prejudicar nenhuma das partes, considera.

Comunicação sobre a pandemia deixou de ser “eficaz” sem Gouveia e Melo

Luís Marques Mendes considera que desde que o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo saiu da taskforce para a vacinação (que chegou ao fim) a comunicação sobre a pandemia deixou de ser eficaz. “Não entendo que o vice-almirante não tenha ficado mais uns meses para dirigir a vacinação da terceira dose“, frisou.

Há “muitas mensagens”, critica, quando a mensagem “devia ser uma: apelar aos familiares com mais de 80 anos para que levem os idosos a levar a vacina. É urgente tomar uma terceira dose”. Marques Mendes considera que há um “problema de liderança”. “O Governo tem de olhar a sério para esta matéria. Neste momento, a comunicação é essencial.”

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Confiar proteção das obras de arte a Maria de Jesus Rendeiro foi “imprudência”

Já sobre o caso de João Rendeiro, Marques Mendes diz que, tendo em conta os desenvolvimentos das últimas semanas, quem “sai mal” é Maria de Jesus Rendeiro, a mulher do antigo presidente do BPP, por alegadamente ter vendido obras de arte de que era fiel depositária. “Há que dizer que a senhora se portou mal, porque sabe a sua responsabilidade e comete um crime.”

“No domínio da justiça este é o critério habitual, agora acho que é uma imprudência, é o lado muito formal da justiça em Portugal. É imprudência porque entregar a guarda e obras de arte de grande valor ao criminoso — a senhora não era, mas é mulher de criminoso. Não havia a hipótese de o fiel depositário ser uma terceira pessoa?”, questiona. E acrescenta que João Rendeiro continua a comportar-se “como um patife”.