O tempo está a acabar, o túnel está a chegar ao fim e as contas começam a tornar-se mais necessárias. Na antecâmara do Grande Prémio do México, o primeiro dos últimos cinco do Mundial de Fórmula 1, Max Verstappen estava na liderança da classificação com mais 12 pontos do que Lewis Hamilton — números que abriam a porta ao início dos cálculos mais complexos.

Hamilton, o atual campeão em título, foi o primeiro a delinear a estratégia. Ou, pelo menos, foi o primeiro a delinear a estratégia mais pública. “Se chegarmos ao cenário de estarmos na última corrida, em Abu Dhabi, a lutar pelo título, quem estiver à frente vai tentar fazer o que se fazia nos tempos do Senna e do Prost. Se estás a lutar pelo Campeonato e começas a vê-lo fugir porque o adversário está a ultrapassar-te, que ferramenta é que tens que não seja aquela que te garante que ele não te ultrapassa? Mas nunca ganhei um Campeonato dessa forma e não quero fazê-lo. Estou aqui para ganhar da forma certa e isso faz-se através da capacidade pura, da determinação e do trabalho duro”, disse o inglês, lembrando os anos em que Senna e Prost se desqualificaram mutuamente para atingirem o primeiro lugar e garantindo que não quer seguir esse exemplo.

Depois, seguiu-se Sergio Pérez. O mexicano, que corria em casa este domingo e é o colega de equipa de Max Verstappen na Red Bull, afirmou que não teria qualquer problema em abdicar de uma vitória no próprio país para beneficiar o neerlandês. “É complicado. Temos de ver as circunstâncias que temos na corrida. No final do dia, somos dois pilotos a trabalhar em equipa e esse é o foco principal, é o panorama geral. Teremos de olhar para as circunstâncias. Essa é a beleza da corrida: as decisões são tomadas no momento, em segundos, apesar de serem questões muito complicadas”, explicou Pérez, que celebrava o regresso da Fórmula 1 à Cidade do México depois de a corrida ter sido cancelada na época passada devido à pandemia.

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Era neste contexto que o circo da Fórmula 1 chegava ao Autódromo Hermanos Rodríguez. Na qualificação, apesar do favoritismo que a Red Bull foi demonstrando até aos terceiros treinos livres, a Mercedes carimbou uma Q3 perfeita e conquistou a primeira linha da grelha de partida, com Valtteri Bottas a agarrar a pole-position e Lewis Hamilton a sair da segunda posição. Max Verstappen ficou com o terceiro lugar, seguido de Sergio Pérez, e a qualificação ficou particularmente marcada por um acidente grave de Lance Stroll, que destruiu o Aston Martin e não fugiu à cauda do grid.

Ainda assim, Verstappen teve um arranque extraordinário e deixou os dois Mercedes para trás logo na primeira curva — em instantes em que ficou notório que Bottas travou cedo para deixar passar Hamilton e acabou por ser traído pelo oportunismo do Red Bull. Bottas, por sua vez, foi tocado por Ricciardo nessa altura e fez um pião, caindo na classificação e ficando desde logo arredado da luta pelo pódio, com Tsudona e Schumacher a abandonarem depois de uma colisão e abrirem a porta a um safety car que só deixou a pista ao fim de cinco voltas. Verstappen controlou o reinício e não deixou fugir a liderança, conquistando depois uma vantagem de três segundos face a Hamilton que levou o piloto britânico a referir o mais do que evidente via rádio: He’s quick, “ele é rápido”.

Hamilton foi o primeiro dos carros da frente a parar para trocar de pneus, numa paragem que não correu propriamente bem e que fez com que o inglês voltasse à pista atrás de Charles Leclerc. Seguiu-se Verstappen, que voltou à frente de Hamilton mas numa altura em que o Mercedes já estava de volta ao pódio na sequência da ida às boxes de Leclerc e Gasly, e a Red Bull adotou a estratégia de retardar a paragem de Sergio Pérez e lançar o mexicano para a liderança do Grande Prémio enquanto o neerlandês ultrapassava o tráfego das dobragens e conquistava novamente uma distância considerável para o principal rival.

Pérez só parou depois das 40 voltas, regressando a cerca de oito segundos de Hamilton e restituindo a liderança a Verstappen. Na mesma altura, Bottas teve uma paragem destrutiva, que demorou mais de 11 segundos porque uma da rodas do pneu demorou a ser colocada, e voltou à pista na 15.ª posição. Com o avançar da corrida, ia persistindo a ideia de que Verstappen estava efetivamente muito mais rápido do que Hamilton e só poderia perder a vitória por motivos externos ou inesperados, enquanto que Pérez ia encurtando a distância para o inglês da Mercedes a cada volta e lançava a luta pelo segundo lugar como grande filme da reta final do Grande Prémio.

A correr em casa, o piloto mexicano chegou a estar a um segundo de Lewis Hamilton mas não conseguiu capitalizar tudo isso nas últimas voltas, acabando por terminar em terceiro e deixar o inglês na segunda posição — algo que, tendo em conta a notória diferença de ritmo entre a Mercedes e a Red Bull no México, não deixou de ser um bom resultado para o campeão do mundo. Max Verstappen soube desforrar-se da pole-position no arranque, agarrou o primeiro lugar na curva inicial e não voltou a distrair-se, alcançando a vitória, consolidando a liderança do Campeonato do Mundo e aumentando para 19 pontos a vantagem em relação a Hamilton.