Não falou, mas havia muita curiosidade sobre o que teria a dizer. Falará depois do jogo, mas sempre condicionado pelo resultado e o que se passar dentro de campo. Em blackout, segundo a Roma pelo pouco tempo que teve para preparar a partida deste sábado, José Mourinho recusou-se a abordar o encontro desta tarde. Um jogo especial: o embate frente ao Inter, a primeira vez que defronta uma equipa onde ganhou tudo, incluindo um triplete em 2010, ao conquistar a liga italiana, a Taça de Itália e a Liga dos Campeões. Levou o Inter o mais longe que poderia ter levado, chorou com Materazzi num momento que ficou eternizado e saiu para o Real Madrid. Em Milão, nas hostes do Inter, é um ídolo. Este sábado, é adversário.

A Roma de Mourinho está a ter o que se pode muito bem chamar uma época de altos e baixos. Ganha aqui, perde acolá, empata de quando em vez. O último jogo, no entanto, aquele do qual os romanos tiveram pouco tempo para recuperar e que aconteceu a meio da semana, foi o Bolonha a estragar a festa. A Roma perdeu por 1-0 e interrompeu a senda de três vitórias consecutivas da equipa do Special One. Há quem diga que precisa de tempo, como Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, que referiu o facto de a Roma estar “num momento de transição”. “Mourinho precisa de tempo, acabou de chegar. Trouxe entusiasmo mas é preciso dar-lhe tempo”, frisou. Sobre o Inter, campeão italiano em título, disse estar “muito bem”.

E a verdade é que o Inter não está mal. No terceiro lugar a um ponto do eterno rival AC Milan e do líder Nápoles, está claramente na luta pelo título e apenas tem duas derrotas esta temporada para todas as competições: Lazio para a Serie A, Real Madrid na Liga dos Campeões. Há dez jogos que a equipa de Simone Inzaghi não perde e tenta assim no Olímpico de Roma chegar ao 11.º. Caso ganhe, agrava ainda mais a época de Mourinho.

O português seguia no quinto lugar da liga italiana, a 9 pontos do Inter, mas uma vitória esta tarde até pode relançar a luta da equipa da capital transalpina pelos lugares cimeiros. Poucos, nem Mourinho muito provavelmente, esperam que a Roma lute pelo título, mas dada a situação atual, chegar à Champions já significava uma época relativamente positiva.

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A estatística também não ajuda a Roma, visto que a equipa de José Mourinho não vence o Inter desde fevereiro de 2017 (em casa desde 2016). Foram duas derrotas e, no resultado que tem sido mais normal nos últimos anos, seis empates. Em suma, oito jogos sem conseguir bater os milaneses. José Mourinho tinha então uma tarefa complicada, frente a uma equipa mais forte, experiente e campeã em título.

Numa Roma sem Pellegrini, Karsdorp, El Shaarawy e o goleador inglês Tammy Abraham, a Roma cedo verificou que o Inter era mesmo mais forte e mais experiente. Com ambas as equipas a jogarem com três centrais, cedo se percebeu que a equipa de Milão era muito mais dinâmica e inteligente na pressão, dois aspetos que fizeram toda a diferença na primeira parte. Bastoni, central do Inter, aparecia várias vezes numa espécie de lateral esquerdo e os colegas mexiam-se em função uns dos outros, tendo facilidade em resolver problemas.

A equipa de Mourinho acabou por ser vítima de um lance que é paradigmático do futebol moderno, mas que ao que parece não foi grande ideia este sábado: não ter ninguém ao primeiro poste a defender um pontapé de canto. O turco Hakan Çalhanoglu, especialista em bolas paradas, marcou o chamado golo ou canto olímpico. O jogador do Inter (curiosamente ex-AC Milan) marcou o canto ao primeiro poste e esta entrou diretamente e sem tocar em ninguém, passando no meio das pernas de Rui Patrício.

A Roma queria reagir, mas o que fazia era pouco. Assim depois do 0-1, aos 15′, o Inter precisou de menos de dez minutos para, numa grande jogada de envolvimento, o mesmo Çalhanoglu assistir Dzeko para o 0-2. O bósnio, ex-jogador da Roma, não festejou, mas podia ter causado estragos à antiga equipa por mais duas vezes (29′ e 31′), uma das quais negada por uma grande defesa de Rui Patrício.

O 0-3 acabaria mesmo por surgir, aos 39′, num lance em que fica bem clara a dificuldade da Roma em bater-se com equipas como o Inter. Foi Bastoni, o tal central que descai para a esquerda se necessário na dinâmica, a cruzar ao segundo poste e Dumfries, lateral dos Países Baixos, fez de cabeça o terceiro dos milaneses. Foi um cruzamento do central para o lateral do lado oposto e com a Roma a olhar. Mourinho tinha muito que falar com os jogadores, que ainda criaram dois lances de algum perigo, ao intervalo.

A segunda parte não tem história. Houve lances perigosos? Sim. Alguma coisa mudou no jogo? Não. Os avançados da Roma pressionavam por pressionar e sempre em grande desvantagem numérica. A dada altura, o Inter descansava com bola porque o jogo do estava no bolso há bastante tempo. 

Foi um reencontro, mas nada feliz para Mourinho. O Inter ganhou bem perante uma Roma completamente perdida durante 90 minutos e que sofre a sétima derrota na Serie A e a oitava da época. Já tinha ficado na ideia e o treinador português falou sobre isso: este plantel da Roma é muito, muito curto para melhores resultados.