Portugal tem pelo menos 168.000 documentos sonoros “muito importantes e em grande risco” de degradação, e que serão os primeiros a serem digitalizados pelo Arquivo Nacional do Som, revelou esta quarta-feira Pedro Félix, responsável pela instalação do projeto.

Não há tempo a perder. A partir de 2025 vai ser muito difícil extrair informação contida em suportes de som, pela degradação dos materiais, mas sobretudo pela obsolescência tecnológica”, afirmou o antropólogo, numa sessão de apresentação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a Cultura, em Lisboa.

No âmbito do PRR, está previsto o investimento de dois milhões de euros, no final de 2024, para a concretização do Arquivo Nacional do Som, que ficará instalado em Mafra.

“Ao longo de 2022 vamos dedicar o esforço à construção da infraestrutura arquivística”, estando prevista a aquisição dos equipamentos em 2024, disse Pedro Félix.

“O objetivo do investimento no contexto do PRR é dotar o país de uma infraestrutura, adequada, eficaz e sustentável para permitir a preservação” do património sonoro português, cujo universo ultrapassa as 600.000 unidades de som.

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Segundo o antropólogo, 67% dos 600.318 bens sonoros documentais portugueses contabilizados estão sob tutela direta ou indireta do Estado.

Pedro Félix sublinhou que “é urgente” tratar e digitalizar cerca de 168.000 documentos sonoros (28% do universo total) no espaço de uma década.

“A vida útil dos suportes é limitada. A digitalização é determinante. Até agora, muitas das ações de preservação têm sido marcadas por uma certa inconsistência”, lamentou.

O Arquivo Nacional do Som será “uma estrutura arquivística focada nos documentos sonoros” em qualquer “suporte, sistema, ou formato hoje conhecidos ou a ser inventados”, lê-se na página oficial.

A principal função do arquivo será criar, reunir, catalogar, preservar e tornar acessíveis documentos áudio, que tenham uma relação com um contexto português ou com a língua portuguesa. Esse documento pode ser um discurso, uma conversa, uma música, uma paisagem sonora.

A primeira vez que em Portugal se falou da necessidade de criar um arquivo nacional para o som, tal como existe para as imagens em movimento, para os livros ou para a fotografia, foi em 1935, com a criação da antiga Emissora Nacional.

Em julho de 2020, a UNESCO publicou os resultados de um estudo que alerta “para uma situação dramática: A partir de 2025 os suportes magnéticos muito dificilmente poderão ser lidos“, sublinhou Pedro Félix.

“Temos de intervir. A janela de intervenção é muito curta. Estimamos que entre 10 a 15 anos é o tempo de oportunidade para intervir na preservação deste conteúdo”, reforçou.

O Arquivo Nacional do Som ficará instalado em Mafra, mediante um protocolo assinado a 3 de dezembro entre o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal.

A autarquia vai disponibilizar um imóvel para a instalação do Arquivo, bem como executar o programa preliminar e o projeto de arquitetura, num trabalho concertado entre a equipa de instalação do Arquivo Nacional do Som e a Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas.