Depois de o El País ter fornecido ao Papa e também ao presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) uma compilação de dados sobre abusos sexuais de menores, a Igreja abriu uma grande investigação sem precedentes em Espanha. A investigação visa 251 membros do clero e alguns leigos de instituições religiosas. O Vaticano, escreve aquele jornal, vai supervisionar todo o processo.

Em causa está um relatório de 385 páginas que o El País entregou ao Papa Francisco a 2 de dezembro, na sequência de uma viagem que o Pontífice fez com jornalistas à Grécia. O documento chegou, entretanto, às mãos da Congregação para a Doutrina da Fé, instituição da Santa Sé que centraliza a investigação relacionada com a pedofilia no universo católico. O mesmo estudo foi ainda entregue ao presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), o cardeal Juan José Omella.

O caso mais antigo recolhido pelo El País data de 1943 e o mais recente de 2018 — à exceção de 13 já anteriormente publicados (foram incluídos porque surgiram novas denúncias que visam os respetivos clérigos), todos são inéditos. Somando aos 251 casos aqueles já conhecidos e contabilizados pelo jornal, há pelo menos 602 casos, cada um referente a um réu, e 1.237 vítimas desde a década de 1930.

Igreja espanhola admite 220 casos de abusos de menores nos últimos 20 anos

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Desde que o jornal disponibilizou um endereço de e-mail para o efeito, há três anos, recebeu mais de 600 mensagens, sendo que muitos dos casos já foram publicados e os já referidos 251 constam no relatório em causa (é o resultado de um longo trabalho que arrancou em outubro de 2018). Os dados contrastam com os números providenciados em abril deste ano pela CEE, que os pediu à Congregação para a Doutrina da Fé: 220 clérigos foram denunciados nos últimos 20 anos. 

O mesmo jornal esclarece que, até agora, a Conferência Episcopal Espanhola diz não saber quantos casos de abusos ocorreram em Espanha, ainda que assegure que “são muito poucos” — a CEE não vai abrir uma investigação geral (as investigações devem ramificar-se segundo as entidades competentes, já que afetam 31 ordens religiosas e 31 dioceses). Já Roma espera resultados e, de acordo com o seu próprio código, eles deverão chegar num período máximo de três meses. A grande maioria dos casos afeta ordens religiosas, que não estão sob a autoridade dos bispos, sendo que as principais congregações informadas pelo jornal face às denúncias recolhidas já iniciariam uma investigação.

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