O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse esta sexta-feira que a pandemia da Covid-19 já está a passar à fase de “endemia” — ou seja, em que a circulação do coronavírus passa a ser considerada normal, como sucede com outros vírus com os quais a humanidade já convive habitualmente. Durante uma visita a um centro social paroquial em Almada, Marcelo disse que a situação atual, apesar dos recordes de números de casos, está longe do cenário do ano passado.

“Estamos a passar à endemia. A pandemia está ainda aí, mas já passámos à endemia”, disse Marcelo aos jornalistas.

“No ano passado o número de casos era muito inferior ao que é hoje. No entanto, o número de internados andava à volta dos 3 mil. O número de cuidados intensivos 500 e o número de mortes oscilava entre 66 e 73. Há uma diferença“, assinalou o Presidente da República.

“Há uma diferença importante entre esta ano e o ano anterior, que as pessoas já perceberam. Há uma multiplicação de contágios, a variante [Ómicron] contagia muito, há uma multiplicação porque há um grau de abertura [da sociedade], com o futebol, com os espetáculos, as pessoas trabalham e circulam, e isso naturalmente é diferente de uma situação de confinamento”, continuou Marcelo.

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Munido de um papel com o número de contágios, internamentos, hospitalizações em cuidados intensivos e mortes do último dia de 2020 e dos primeiros dias de 2021, o chefe de Estado explicou as diferenças entre a situação que o país viveu e aquela em que se encontra.

O aumento de infeções pelo SARS-CoV-2 agora, disse, “não é acompanhado pelo número de internados, que é um terço de há um ano, e o de cuidados intensivos é um quarto”, assim como o número de mortes, que no início de 2021 “foi galopando”.

“Quer isto dizer o quê? Que a situação é diferente, que devemos ter, naturalmente, as precauções e o bom senso impostos pelas circunstâncias, mas que nos habituámos aos poucos a viver com este fenómeno”, sustentou.

Portugueses “devem poder votar, independentemente de estarem isolados ou não”

O Presidente da República considerou também que há melhores condições para realizar a campanha eleitoral das legislativas do que havia nas presidenciais, acrescentando que o problema dos eleitores em isolamento está a ser acautelado.

“A campanha eleitoral neste próximo ano vai ser melhor do que aquela que eu tive. A campanha que tive em janeiro era com um galope monumental do número de mortes, internados e de cuidados intensivos… Mesmo assim foi feita, mas foi, sobretudo, uma campanha de debates televisivos e radiofónicos”, sustentou o chefe de Estado.

Reconhecendo que o esquema de campanha será semelhante este ano, com muito enfoque em debates, até porque a pandemia não acabou, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “há mais espaço para mais campanha”, justificando a afirmação com a situação pandémica diferente que o país vive, nomeadamente a inexistência de um confinamento.

O Presidente da República também foi questionado sobre a previsão de haver quase 600.000 pessoas em isolamento em janeiro, o que poderá impedir milhares de portugueses de se deslocarem às urnas.

“No ano passado o número de portugueses que estavam em isolamento profilático era provavelmente inferior àquele que vai ser agora, depende um bocadinho dos prazos de isolamento”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado acrescentou que “prazos mais curtos” de isolamento fazem com que haja menos isolados ao mesmo tempo, no entanto há um outro trabalho de preparação que tem de ser feito, nomeadamente na disponibilização de estruturas preparadas para impedir constrangimentos no voto.

“Exige às autarquias, que já o começaram a fazer, estruturas antecipadas, que no ano passado foi em cima da hora […], ter sobretudo voluntários disponíveis para esse esforço. Tem de ser feito, porque a ideia é ter o maior número de portugueses a votar, devem poder votar, independentemente de estarem ou não isolados”, concretizou.

Marcelo Rebelo de Sousa recordou que na “primeira vez foi um bocado de improviso”, da segunda vez “a pressão é maior”, mas também tem de haver mais organização para isso.

Sobre a possibilidade de uma solução estável sair das eleições de 30 de janeiro, o Presidente da República optou por dizer que essa decisão está nas mãos dos portugueses e que ninguém quer ter “eleições de dois em dois anos”.