André Ventura esteve, esta quarta-feira, por terras de Viseu e da Guarda. No antigo Cavaquistão — uma alusão aos tempos em que Cavaco Silva liderava o PSD e teve grandes resultados neste círculo eleitoral — o Chega ficou lado a lado com o palco do PSD, na Praça da República, e garantiu que não se tratou de mais do que uma “coincidência”. Apesar da proximidade física, André Ventura e Rui Rio não se cruzaram na cidade, nem estiveram juntos.

Mas falaram um do outro. Rui Rio disse que é uma “piada” André Ventura pensar ser vice-primeiro-ministro de um Governo de direita, mas não ficou sem resposta. No final do dia, no jantar-comício na Guarda, o líder do Chega contra-atacou: “Rui Rio acha graça, pelo que deve achar que as nossas bandeiras são para brincar. Se está aqui para brincar, vá para casa, que já não faz falta.”

O presidente do Chega considera que os “partidos do sistema” estão preocupados com o Chega por ser o “único” que procura “reformas a sério”, que “toca com o dedo na ferida” e que quer travar o “clientelismo”. “Não querem porque continuam todos a comer à volta deste sistema que foi criado por eles e que os alimenta a eles e às famílias”, acusa no jantar-comício que se realizou na Guarda. Em jeito de brincadeira, compara até com uma das músicas que foi cantada durante o evento: “Eles querem é mamar nos peitos da cabritinha.

As críticas começaram bem antes, ainda em Viseu, depois de ter passado ao lado de uma arruada dos sociais-democratas — e de ter virado à esquerda —, o líder do Chega quis aproveitar a presença num “bastião” do PSD para se distanciar do partido de Rio, ao dizer que “o Chega é um partido próximo da população e o PSD um partido que se fechou ao lado das elites e que não quer estar ao lado das pessoas”.

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A arruada do Chega durou quase uma hora e antes de regressar ao Rossio da cidade de Viseu, André Ventura aproveitou a passagem na Igreja da Misericórdia para rezar (um gesto do presidente do partido que já se tornou tradição). Na verdade, o tema que traz André Ventura a Viseu é a saúde e se encontrasse Rio pelas ruas, não lhe pedia que rezasse, mas que pedisse “desculpa às pessoas de Viseu por a saúde estar num estado desastroso”.

O presidente do Chega sublinhou que neste distrito há especialidades em que o “tempo médio de espera para algumas consultas é superior a dois e três anos”. O partido pretende “definir um tempo máximo de espera para consultas” e, a partir daí, “o Estado comparticipar no setor privado ou social”. “Por aqui passaram governantes do PSD, tivemos governos do PS e PSD e nunca foi feito nada pela saúde em Viseu, porque este é um dos problemas das pessoas e o PSD não tem conseguido dar resposta”, realça o líder do Chega.

Questionado sobre as palavras que teceu em Aveiro sobre a direita — primeiro que o debate tinha sido um “virar de página” para a direita e depois (no jantar-comício) que os possíveis parceiros só falavam para as “elites” —, Ventura recusou a ideia de incoerência: “Só teremos uma plataforma de direita se cada um perceber as diferenças de cada qual. Se o PSD estiver à espera de um parceiro que esteja lá para ser muleta e nunca criticar, não é connosco que contam.”

Passos Coelho volta a entrar na campanha do Chega

Depois de dois dias em que se citou Mário Soares na campanha do Chega, André Ventura fala pela segunda vez da troika e do Governo de Passos Coelho — altura em que o fundador do Chega ainda era militante do PSD e em que foi candidato à Câmara Municipal de Loures — e usa esses tempos para se distanciar dos sociais-democratas e para criticar Rui Rio, mesmo que o atual líder social-democrata não estivesse no Executivo nesses tempos.

“O PSD tem de explicar porque é que deixou o país com esta enorme carga fiscal, porque isto não é só responsabilidade do PS, o PS tem alguma responsabilidade nisto, mas antes disso houve uma governação do PSD que aumentou impostos, que diminuiu pensões e os portugueses não se devem esquecer disso quando forem votar no dia 30″, atirou André Ventura, num apelo aos eleitores e num sinal de que não se revê no que foi feito entre 2011 e 2015.

No jantar-comício em Aveiro, na terça-feira à noite, Ventura tinha deixado um recado para que Rui Rio “não vá ao engano”: “Não aceitaremos repetir o que foi feito entre 2011 e 2015, que é cortar milhões em pensões. Um governo de direita tem de aumentar pensões e não diminuir as miseráveis pensões em que vivem os portugueses.”

Ventura diz que debate foi “virar de página” para a direita e que Bloco está a “perder terreno para PS e Chega”

À noite houve tempo para mais um ataque ao PSD do passado: “Da última vez que tivemos um Governo dito de direita cortaram-se salários e pensões, é no caminho oposto que temos de ir, a nova direita não pode ser a dos cortes dos salários, das pensões ou de convidar quem quer que seja a emigrar, tem de ser a direita que aumenta salários, pensões e que quer fixar jovens.”

Voto dos isolados pode “afastar pessoas” e “aumentar infeções”

A 11 dias das eleições antecipadas, André Ventura considera que as regras estabelecidas para que os confinados possam votar vieram “tarde”. “Autarcas, eleitores e sociedade civil estão preocupados”, alertou o líder do Chega, preocupado que estas medidas “afastem algumas pessoas” e que “pode criar número de infeções também”.

Recordando que o Chega sugeriu criar “circuitos diferenciados” para confinados e a restante população, Ventura afirmou que este esquema irá levar a um cruzamento de pessoas infetadas e não infetadas, que vão “votar nas mesmas mesas e nos mesmos circuitos de voto”. “Foi tudo mal planeado e resultado pode ser ainda pior”, criticou, frisando que há o “risco de, a seguir às eleições, haver um nível mais elevado de infeções”.