A derrota no Wanda Metropolitano frente ao Maiorca no início de dezembro, consentida nos descontos e depois de ter estado em vantagem, foi na altura visto como um acidente de percurso de uma equipa que não atravessava a melhor fase mas que tinha sempre capacidade para se regenerar e entrar de novo nos eixos. Desta vez, não aconteceu. E apesar de alguns sinais em contraciclo como o triunfo no Dragão com o FC Porto que valeu o apuramento para os oitavos da Champions, esta era a pior fase da era Simeone.

A tarde em que Guedes não caiu e fez cair: Valencia empata Atl. Madrid com dois golos nos descontos

O argentino é um marco no clube depois de pouco mais de dez anos no comando dos colchoneros. Voltou aos triunfos na Liga quando Real Madrid e Barcelona, foi a duas finais da Liga dos Campeões (perdidas com o rival da capital), somou quatro títulos europeus entre Liga Europa e Supertaça Europeia. Todavia, e depois de uma série de mais resultados, começava pela primeira vez a ser apontado à saída, ainda que só no final da temporada. A derrota frente à Real Sociedad nos oitavos da Taça do Rei foi mais um capítulo dessa época muito aquém, com o treinador argentino a dizer apenas que a equipa teria de reencontrar-se.

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A receção ao Valencia, um conjunto com trajeto irregular mas que pode ser sempre uma ameaça a todas as principais formações, era mais uma oportunidade da tal redenção pedida pelo técnico, que nos últimos seis jogos a contar para a Liga tinha visto a equipa somar apenas um triunfo e quatro derrotas (seguidas), ficando a uma impensável distância de 16 pontos com menos um encontro do líder Real, a 12 do Sevilha e a sete do Betis estando ainda pressionada na quarta posição por Real Sociedad e Barcelona, entre outros. E, puxando o filme um pouco mais atrás, foi o empate no Mestalla com dois golos sofridos nos descontos que começou a atirar o Atl. Madrid para o período mais conturbado de resultados dos últimos tempos.

Esta sexta-feira, a Marca falava em “tensão no balneário” dos colchoneros, um cenário recusado por Diego Simeone na conferência de antevisão. “Espero que os jogadores possam mostrar em campo a união que existe na equipa e a vontade que têm de sair deste momento difícil. Não há outra forma para transmitir isso a não ser com vitórias. Não podemos mudar o que está para trás, só podemos controlar o que se vai passar daqui em diante. Peço aos adeptos que apoiem a equipa, não tenho dúvidas de que o vão fazer. 90% dos jogadores que vão jogar amanhã [sábado] foram campeões há uns meses. Por isso, precisamos que apoiem a equipa”, atirara num repto ao público do Wanda Metropolitano.

Melhor resposta não podia ter surgido mas foi preciso mais uma parte penosa para haver depois uma redenção digna de heróis no final de uma partida que até chegou ao intervalo com o Valencia na frente por 2-0: Musah inaugurou o marcador num lance em que Gonçalo Guedes deixou Hermoso para trás numa saída rápida antes do remate vitorioso do norte-americano (25′) e Hugo Duro aumentou a vantagem em cima do intervalo após mais um erro de Hermoso que deixou o avançado fazer o segundo (44′).

Ao intervalo, Simeone teve uma conversa dura com os jogadores, pedindo para que, se fosse para perder, mantivessem a cabeça erguida. Faltava um golo para acordar a equipa e relançar de novo a partida, algo que apareceria apenas aos 64′ por Matheus Cunha, já sem João Félix em campo. O melhor estava mesmo guardado para os minutos finais, com Correa a ser mais rápido na área a fazer a recarga para o empate no primeiro minuto de descontos e Hermoso, aproveitando novo erro da defesa do Valencia, a conseguir receber uma bola perdida na área para consumar a reviravolta aos 90+3′. Se na primeira volta o conjunto ché tinha empatado com dois golos nas compensações, agora o Atl. Madrid ganhou da mesma forma.