Na plateia junto à coxia há quem esteja de bloco de notas e esferográfica em riste a tomar notas. Em casa, os comunistas também esperam que Marcelo tenha prestado a devida atenção. É que os comunistas não mudaram de ideias quanto aos culpados destas eleições com que “não contavam” e antevendo um cenário de bloco central começam esta segunda e última semana de campanha a dar recados.

“[O Presidente da República] há-de ter que fazer um balanço daquilo que foi o exercício das suas competências e responsabilidades considerando a resposta que o povo der no dia 30 de janeiro”. Fica o aviso a Marcelo: Se os portugueses expressarem em urna uma maioria parlamentar de esquerda os comunistas esperam que essa vontade seja respeitada.

Há uma necessidade de obrigatoriamente respeitar o resultado que decorre do voto dos portugueses no dia 30 de janeiro e há uma obrigação de respeitar a correlação de forças que existem na Assembleia da República e as soluções que dali decorram”, disse João Oliveira.

E acrescenta ainda João Oliveira: “os portugueses têm que fazer opções não para dar resposta ao Presidente da República, mas aos problemas de fundo do país”.

Quanto ao atento militante sentado na plateia, continua de papel em riste e já conta com várias palavras-chave sublinhadas. João Oliveira dá uma ajuda quando fala na distribuição de dividendos que não ficam em Portugal: “Só este ano são 7 mil milhões de euros, é um 7 com nove zeros à frente”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aqui e ali há palavras que merecem maior atenção e um sublinhado. A “soberania alimentar”, tema que ocupou parte do dia da CDU no distrito é um deles. Sublinhado com vários riscos. Não esteve presente na ação da caravana em pleno IP8, onde os comunistas aproveitaram um ponto mais alto da estrada onde tudo o que a vista alcançava em volta era olival e amendoal em exploração intensiva para atacar as políticas de produção nacional.

O trocadilho com a produção de azeite a falta de “batatas para regar” até começou em João Dias, mas João Oliveira gostou tanto que o repetiu uma e outra vez e ainda lhe acrescentou a “açorda, que sem pão não se faz”. Queriam com isto dizer os comunistas que Portugal tem de apostar numa exploração diversificada, que crie uma situação de “soberania alimentar” onde haja equilíbrio.

A analogia do azeite era para evidenciar isso mesmo: Portugal até pode produzir o suficiente para o mercado externo e exportar, mas se não tiver batatas para regar de pouco lhe servirá.

Mas o comício em Beja também se fez de elogios. Primeiro o autoelogio, na boca de João Dias “um deputado da CDU trabalhou mais que os dois do PS que foram lá para resolver a sua vida”, referindo-se aos deputados socialistas eleitos pelo ciclo de Beja.

E se podia ter caído mal o autoelogio — ainda que as palmas do auditório não o demonstrassem — João Oliveira confirmou-o logo nos primeiros momentos de intervenção no púlpito: “João Dias tem um trabalho ímpar, não temos medo de comparar com nenhum outro deputado. Não encontramos trabalho mais empenhado”.

Acreditando na manutenção do mandato nas próximas eleições, João Oliveira terá que se esforçar para arrecadar o galardão. Para isso, terá que conseguir renovar a eleição enquanto cabeça de lista em Évora. Com o regresso de João Ferreira já na terça-feira, cumpridos que estão os sete dias de confinamento, João Oliveira estará bem cedo no terreno na cidade de onde é natural.

Quanto ao militante atento, já não tomou nota da convocatória feita no púlpito para a participação na arruada de encerramento da campanha na sexta-feira. Mal João Oliveira terminou dobrou o pequeno bloco de notas em quatro, guardou no bolso de trás das calças e saiu discretamente da sala.