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Um banho rosa por todo o país com dois marcos, derrotas históricas à esquerda de antigos bastiões da CDU, o fenómeno Chega disseminado por quase metade dos distritos, o CDS fora do Parlamento. É este o resumo de uma noite que se explica também pelos fenómenos locais que se registaram esta noite.

Açores: a vitória da ordem por 3-2 e com uma diferença de votos muito semelhante

Depois dos quatro deputados conseguidos pelo PSD em 1987 e 1991, os Açores são o território do 3-2 onde PS e sociais-democratas lutam para ter mais votos e segurarem o quinto elemento que é mais volátil. Desta vez, os socialistas fizeram um hat-trick dos triunfos, ganhando como em 2015 e 2019 (antes, em 2011, tinha perdido) e conseguindo uma série de três legislativas a vencer como nunca tinha acontecido. E até nos votos não houve grande diferença, mantendo-se a diferença a rondar os 8.000 votos estando o PSD coligado com PPM e CDS com 42,84%, longe dos 53,15% de 2005 na maioria de José Sócrates. Também aqui, e só a nível de votos, manteve-se a tendência de Portugal Continental: Bloco e CDU foram os partidos que mais caíram, Chega e Iniciativa Liberal foram os partidos que mais subiram e a Aliança desaparece.

Aveiro: CDS sem eleitos pela segunda vez, queda abrupta do Bloco e estreia do Chega

O PS voltou a ser o partido mais votado em Aveiro, aumentando a diferença em relação ao PSD de 2.700 para quase 14.000 votos e ganhando mais um deputado em relação a 2019 à semelhança do que aconteceu com os sociais-democratas. No entanto, estas foram eleições marcantes no distrito por três outros motivos: o Bloco perde os dois deputados com uma redução de mais de metade a nível de votos (de 35.068 para 16.700) e não consegue eleger pela primeira vez desde 2009; o CDS fica com a votação mais baixa de sempre e falha pela segunda vez a eleição de um deputado (a primeira tinha sido em 1987 mas com 5,3% e 18.974 votos contra apenas 2,46% e 8.962 votos agora); o Chega passa de 2.600 para 20.546 votos e elege pela primeira vez um deputado pelo distrito de Aveiro, neste caso Jorge Rodrigues de Jesus.

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Beja: ficou tudo na mesma mas no limite para um virar de página para a CDU

Beja foi um dos distritos que não sofreu nenhuma variação a nível de deputados, com o PS a eleger dois (Pedro Carmo e Nelson Brito) e a CDU a manter um (João Dias). O que mudou? Os socialistas tiveram uma ligeira subida, o Bloco conseguiu menos de metade dos votos, o Chega passou de 1.313 para 6.932 apenas em três anos e o CDS passou de quinta para oitava força política. Em relação à CDU, houve uma descida de cerca de 2.400 votos perante um ligeiro crescimento do PSD mas, com 12.442 votos, o partido que como PCP ou Aliança Povo Unido tinha vitórias esmagadoras foi perdendo, perdendo e perdendo votos ao longo das várias eleições legislativas, registando em 2022 o pior resultado bruto no distrito. Agora está no limite.

Braga: o distrito que é a cara da nova configuração do Parlamento

Braga e Porto foram os dois únicos distritos a registarem a eleição de pelo menos um deputado de duas novas forças políticas, Chega e Iniciativa Liberal. Mais do que isso, Braga funcionou como o melhor espelho de uma viragem de página no Parlamento pelas trocas que se registaram em relação a 2019: o PS, com quase mais 50.000 votos, elegeu mais um, passando de oito para nove; o PSD, com mais 13.500 votos, elegeu também mais um, passando de sete para oito; o Bloco teve menos de metade dos votos e perdeu os dois deputados que tinha; o CDS desce mais de metade para sétima força política e também não elege; o Chega e a Iniciativa Liberal conseguem um deputado cada, com o partido de André Ventura a ter sete vezes mais votos.

Bragança: a primeira vitória de sempre do PS por uma margem de 15 votos

O distrito que tendencialmente elegeu sempre mais deputados do PSD (e quando assim não foi houve um empate) e que, desde que passou a somar apenas três deputados para o Parlamento, contou sempre com vitórias dos sociais-democratas foi uma das surpresas da noite, com o PS a conseguir pela primeira vez ter mais um deputado (João Sobrinho Teixeira e Berta Nunes) do que o PSD (Adão Silva). Mais curioso ainda, a viragem foi feita por uma margem de apenas 15 votos (26.495-26.480). De resto, nota para a subida do Chega a terceira força política mais votada, passando de 0,84% em 2019 para 8,55% em 2022.

Castelo Branco: o maior resultado socialista desde a maioria de Sócrates

Castelo Branco não trouxe grandes alterações em relação aos dados de 2019, com o PS a manter os três deputados eleitos contra apenas um do PSD. A única diferença foi mesmo a margem do triunfo socialista, com 47,65% e uma diferença de quase 20.000 votos para os sociais-democratas (45.622-26.237), naquele que foi o melhor resultado no distrito desde a maioria do albicastrense José Sócrates em 2005. Em relação aos outros partidos, a tendência transversal no país: o Chega passa de 1.187 para 7.958 votos, tornando-se a terceira força política do distrito com 8,31%; o Bloco desce de 10.352 para 4.069 votos e 4,25%.

Évora: um líder parlamentar de fora numa derrota histórica da CDU

A primeira grande queda da noite tinha sido a de António Filipe em Santarém, a segunda chegou de Évora com João Oliveira, líder da bancada parlamentar, a não ser também eleito – e também aqui a CDU, sozinha ou em coligação, falhou pela primeira vez a eleição no distrito. Mesmo sem ter uma votação muito maior do que em 2019, o vencedor em Évora acabou por ser o PSD que, alcançando mais 3.965 votos do que nas últimas legislativas, volta a eleger no distrito (Sónia Ramos). O PS conseguiu cresceu cerca de 6.500 votos mas manteve os dois deputados, ao passo que o Chega passa de 1.645 para 7.222 ainda longe da fasquia para alcançar um eleito. A CDU cai de 13.980 votos, que serviu para eleger, para apenas 11.494.

Faro: o distrito onde o Chega conseguiu crescer mais do que PS e PSD

À semelhança do que aconteceu em todos os concelhos, PS e PSD tiveram mais votos em 2022 do que em 2019; à semelhança do que aconteceu em alguns concelhos, PS e PSD mantiveram os mesmos deputados do que nas últimas legislativas, com os socialistas a ficarem com cinco e os sociais-democratas com três. No entanto, e ao contrário do que acontece pelo país, o Chega, além de conseguir eleger também um deputado, teve um aumento bruto superior aos dois partidos que conseguiram também deputados, alcançando mais 20.000 votos do que conseguira há três anos passando de 2,14% para 12,3% com 23.988 votos. O grande derrotado acabou por ser o Bloco, que viu a votação reduzida para metade e perdeu o deputado.

Leiria: PS consegue maior vitória de sempre e Chega segura décima vaga

O PS conseguiu uma das maiores vitórias da noite em Leiria, onde nas primeiras eleições de 1975 igualou o número de deputados do PSD com menos 221 votos (69.457-69.236): pela primeira vez os socialistas tiveram o maior resultado no distrito a nível de eleitos, com cinco deputados contra apenas quatro do PSD. Dois fatores que desequilibraram a balança: o PS ganhou mais 15.000 votos do que nas últimas eleições e o PSD curiosamente também subiu de 74.961 para 81.778 mas o Chega cresceu de 3.321 para 18.918, o que valeu ao partido liderado por André Ventura o décimo eleito da noite no distrito.

Lisboa: o desaparecimento do CDS, a falência da CDU e a IL como terceira força política

A eleição no distrito de Lisboa trouxe vários números para reflexão dos diversos partidos: o PS, uns meses depois da derrota de Fernando Medina com Carlos Moedas para a Câmara, consegue eleger 21 deputados, o maior número desde a maioria de 2005, e soma mais 78.000 votos do que em 2019; o PSD sobe em número de deputados (de 12 para 13), de percentagem (de 22,60% para 24,16%) e de votos (248.937-285.522); o CDS baixou a nona força política na capital com menos de 20.000 votos e falhou pela primeira vez desde 1975 a eleição; a CDU perdeu metade dos deputados (4-2) e teve o número de eleitos mais baixo de sempre com menos 26.000 votos do que em 2019; o Bloco voltou aos resultados das primeiras legislativas em que entrou com pouco mais de 50.000 votos e caiu de cinco para dois deputados; a Iniciativa Liberal e o Chega passam de um para quatro deputados mas com a IL mais votada e como terceira força política; o PAN teve metade dos votos e perdeu um deputado; e o Livre manteve o deputado, neste caso Rui Tavares.

Santarém: CDU falha pela primeira vez eleição, Chega com seis vezes mais votos

António Filipe foi um rosto que corporiza uma das maiores derrotas da CDU esta noite: pela primeira vez o partido, sozinha ou em coligação, falhou a eleição de pelo menos um deputado por um distrito onde chegou a conseguir três em 1979 e 1983. Ainda assim, e olhando para os números, percebe-se a queda com aquilo que foram dois fenómenos paralelos: a CDU perdeu cerca de metade dos votos entre 2015 e 2022, caindo mais de 3.800 votos em relação às últimas legislativas; o Chega conseguiu seis vezes mais do que no último sufrágio, passando de 4.210 para 23.813 votos, o que valeu a inédita eleição Pedro Frazão no distrito. Na outra alteração em relação às últimas legislativas, o Bloco perde o deputado que tinha e o PS ganha mais um.

Setúbal: PS consegue maior número de deputados de sempre, Chega e IL elegem

Setúbal foi um dos últimos distritos a ter os seus resultados conhecidos devido à contagem na Moita e ficou assim reservada como uma das derradeiras surpresas da noite: o PS conseguiu pela primeira vez eleger dez deputados no distrito, mais um do que em 2019 com um aumento de 46.000 votos (até em termos percentuais conseguiu ficar acima do que fizera o PS com maioria absoluta em 2005); o PSD mantém os três deputados mas tornando-se a segunda força com mais 11.000 votos do que em 2019; CDU e Bloco perdem um deputado cada, com os bloquistas a terem uma descida mais acentuada a nível percentual em relação às últimas legislativas (47.863-24.931); o PAN não consegue eleger um deputado como aconteceu em 2019 com Cristina Rodrigues vendo a votação reduzida para metade; e Chega e IL conseguem eleger.

Vila Real: 1.354 votos decidiram uma viragem para o PS que não acontecia desde 2005

O PS voltou a conseguir eleger mais deputados do que o PSD em Vila Real, algo que já não acontecia desde 2005 quando os socialistas chegaram também à maioria absoluta. Ainda assim, e depois de Bragança, este foi o triunfo mais apertado de todos, com 1.354 votos a fazerem a diferença no final e a contribuírem para que o PS tirasse um deputado ao PSD depois da vitória com pouca margem dos sociais-democratas em 2019. Nos restantes partidos, o Chega, mesmo longe da eleição de um deputado, tornou-se a terceira força política passando de 0,79% para 7,19%, ao passo que o Bloco cai dos 6.078 votos (6,06%) para os 2.443 votos (2,32%). O CDS teve a outra grande queda da noite, de 4,50% para 1,58%.

Viseu: a mesma divisão de deputados com o maior resultado de sempre do PS

PS e PSD voltam a conseguir eleger quatro deputados cada no distrito de Viseu mas com um número total de votos que mostra também uma viragem histórica: os quase 10.000 votos a mais dos socialistas em relação aos sociais-democratas são um recorde, tendo em conta que apenas por uma vez tiveram uma votação maior (em 2005, com 449 votos a mais). Mais: se o PSD teve ainda assim mais 3.515 votos do que em 2019, o PS alcançou quase mais 14.000 votos em relação às últimas legislativas. Para se ter noção da hegemonia que o PSD chegou a ter no distrito, em 1987 os sociais-democratas ganharam 8-2 em deputados (64,1%-17.9%).