Para se conseguir entrar na Nova Zelândia é preciso, antes de mais, conseguir vaga num dos locais de isolamento e quarentena definidos pelo governo (MIQ, “Managed isolation and quarantine”). A jornalista Charlotte Bellis, grávida de 25 semanas, teve de pedir ajuda ao Afeganistão por não conseguir uma. O ministro responsável pela resposta à Covid-19 na Nova Zelândia, Chris Hipkins, diz que não faltam vagas de emergência para a poder receber, noticiou o jornal The Guardian.

Impedida de voltar a casa, devido à Covid, jornalista neozelandesa grávida pediu refúgio aos talibãs

Chris Hipkins negou, esta segunda-feira, que não houvesse vagas no MIQ para pessoas em circunstâncias especiais. Sobre o caso da jornalista neozelandesa disse que ela não queria viajar antes do final de fevereiro e que lhe foi dito que voltasse a apresentar o pedido mais tarde — isto porque quem tiver autorização para entrar no país tem de fazê-lo no espaço de 14 dias. Um relato muito diferente do que conta a jornalista.

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“As autoridades também a convidaram a apresentar o pedido numa outra categoria de emergência”, disse o ministro neozelandês. “Encorajo-a a levar esta oferta a sério.” Chris Hipkins disse, no entanto, que as grávidas podem recorrer ao pedido de tratamento médico de emergência — tal como fez a jornalista sem sucesso.

Charlotte Bellis já viu dois pedidos serem rejeitados e definiu o final de fevereiro, quando terá já 30 semanas de gestação, como limite para conseguir sair do Afeganistão, como contou à Associated Press. Este domingo, recebeu mais uma resposta da Nova Zelândia com uma alternativa — mas não uma alternativa que todas as grávidas consigam aceder.

A jornalista expôs no Twitter o email com a resposta ao pedido de “alocação de emergência”, onde os serviços aconselham que em vez de se candidatar na categoria 1a(i), destinada a quem precisa de cuidados médicos que não podem obter no país onde se encontram (e onde se incluem as grávidas), se candidate na categoria 1a(iii), para quem está em perigo e cuja única opção é voltar para a Nova Zelândia. Além disso, pedem que envie mais informação.

A jornalista critica o sistema altamente burocrático e o facto de as grávidas terem dificuldade em conseguir assegurar um lugar no MIQ. Na resposta aos serviços, Charlotte Bellis destaca que já apresentou 59 documentos a explicar a situação em que se encontra e que não tem nada de novo a acrescentar e que a justificação para viajar fora dos 14 dias foi apresentada, mas não considerada pelos serviços.

Charlotte Bellis considera que dizer que está em perigo e que a única opção é voltar à Nova Zelândia acarreta dois problemas, como citou o jornal The Sydney Morning Herald: o primeiro, a mensagem que dá a outras grávidas que não estão em países com falta de segurança, mas que não têm cuidados médicos apropriados — quase dizendo que não têm forma de voltar ao país; depois, que se apresente como estando em risco depois de ter sido acolhida pelos talibãs quando pediu refúgio.

O sistema de isolamento e quarentena da Nova Zelândia tem permitido que o país tenha a pandemia sob controlo, mas impediu muitos cidadãos de regressarem a casa por não conseguirem vaga no MIQ, incluindo dezenas de grávidas. Tudor Clee, advogado de Bellis, já ajudou outras 30 grávidas ou casais a voltar à Nova Zelândia, mas disse ao The New Zeland Herald que há 200 casos que não sabe como se resolveram.

A jornalista neozelandesa tem recebido mensagens de apoio desde que expôs o caso, incluindo a oferta de asilo de um outro país (não identificado) e de pessoas que lhe querem oferecer a vaga que têm no MIQ (solução que não é permitida pelas autoridades).