O Chega vai apresentar Diogo Pacheco Amorim para a vice-presidência da Assembleia da República. Depois da polémica em torno do tema (e da possibilidade de um dirigente do partido ser recusado), André Ventura aposta no ideólogo do partido, um dos nomes mais conhecidos do Chega e aquele que tem mais experiência política.

“Diogo Pacheco Amorim tem um percurso quer no Parlamento quer fora dele e tem sido presença construtiva dialogaste, capaz de estabelecer pontes”, justificou André Ventura, frisando que o nome apresentado pelo Chega tem “provas dadas”.

O líder do Chega disse que “não passa pela cabeça” que possa haver uma “conspiração na Assembleia da República” para travar o nome do deputado sugerido pelo Chega para a vice-presidência. “Se o resultado acabar por ditar um chumbo desse nome, o regimento é muito claro e voltará a haver uma nova eleição”, assegura o presidente do Chega, frisando que poderá haver “um impasse no primeiro dia de funcionamento”.

Ventura explica que “no limite” o Chega continuará a apresentar nomes de deputados até que o regimento seja cumprido e considera que os partidos poderão mostrar se existe “uma cultura democrática ou não democrática” por parte dos partidos.

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“Uma coisa é aceitar a democracia, outra é não aceitar e seremos opositores dos que não aceitam”, insiste o presidente do Chega, frisando que “em democracia não pode haver partidos filhos e enteados” e que “a questão não é se é legal ou não”, mas sim “o respeito pela democracia e pelo voto”.

Feitas as contas aos deputados dos partidos da Assembleia da República, André Ventura sabe que a decisão está nas mãos de socialistas e sociais-democratas: “Sobretudo PS e PSD devem perguntar-se a eles próprio que cultura democrática querem na Assembleia da República.” O presidente do Chega pede “bom senso” aos maiores partidos e questiona se “vão também impedir a presidência de uma comissão parlamentar”.

O nome escolhido pelo Chega: Diogo Pacheco Amorim

O agora candidato a vice do Parlamento tem 72 anos, já foi vice-presidente do Chega e tem agora o cargo de vogal da direção — após uma decisão do presidente do partido tomada no Congresso de Coimbra. Depois da eleição de André Ventura como deputado único, Diogo Pacheco Amorim fez parte da equipa que o líder do Chega escolheu para o gabinete parlamentar. Agora, pouco mais de três anos depois, é um dos deputados que vai ter lugar na bancada do Parlamento, tendo entrado como segundo no Porto (uma missão que o próprio partido considerava difícil).

A vida política do dirigente não começou com o Chega. No partido que adaptou o lema de Salazar para Deus, Pátria, Família e Trabalho encontrou uma saída para dar continuidade a uma carreira aliada à direita mais radical em Portugal. Fez parte do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) — uma organização com ligações à Igreja Católica e que tentava travar o crescimento do PCP — que operou atentados bombistas — e pertenceu ao Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN), de Kaúlza de Arriaga, um partido igualmente nacionalista e associado à extrema-direita.

Pacheco Amorim esteve com Manuel Monteiro (de quem foi chefe de gabinete) no CDS e depois na Nova Democracia (tendo sido um dos ideólogos do partido); esteve ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa na oposição interna a Francisco Pinto Balsemão; ajudou a fazer a Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral (de quem chegou a ser assessor) e Ribeiro Telles.

A polémica em torno da vice-presidência do Chega

O Chega saiu das eleições legislativas como a terceira força política nacional o que lhe dá o direito a indicar o nome de um dos vice-presidentes da Assembleia da República — tendo em conta que este é um direito atribuído às quatro forças com mais lugares no Parlamento. Contudo, o voto é secreto e a esquerda prepara-se para chumbar o nome de Pacheco Amorim.

Aliás, Jerónimo de Sousa disse-o de viva voz: “Não será com os votos do PCP.”

Depois da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, André Ventura disse acreditar que o tema “não passa de uma polémica de poeira” e realçou que um chumbo dos nomes do partido “era a prova de que há um boicote tremendo ao Chega, injustificado”.

“O regimento é muito claro, diz que os quatro maiores partidos indicam o vice-presidente, tem sido sempre assim, acho que nenhum português compreenderia que entrássemos numa maratona de votações no dia da instalação porque os partidos bloqueiam o vice-presidente indicado pelo Chega”, disse à saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa.

E foi ainda mais longe: “Haver um boicote a todo e qualquer nome que o Chega indique parece-me uma coisa que ninguém em Portugal compreenderia e partidos ficariam muito mal.” “Isto é uma democracia, não é uma tirania.”

Também à saída da audiência com o Presidente da República, e questionado sobre se há ou não legitimidade na vice-presidência do Chega na Assembleia da República, Rui Rio não tem dúvidas: “Em termos regimentais, seguramente. Há uma votação, o povo votou e deu uma dada hierarquia, não há que distorcer o que o povo votou. É a democracia, respeitamos os resultados.”

Já no PS, pela voz de José Luís Carneiro, o assunto foi remetido para o Parlamento, quando este estiver a funcionar.

Pouco antes, João Cotrim Figueiredo tinha recusado dar uma opinião definitiva, mas deixava tudo em aberto: “Eu tenho a minha opinião, que vou partilhar com eles [deputados] e que penso que será acolhida e nesse caso terei todo o gosto em partilhar convosco. Mas posso adiantar que não somos propriamente um partido como os outros, como a nossa história recente já prova.”