Com a saída de Eduardo Ferro Rodrigues do cargo de presidente da Assembleia da República as regras e a tradição parlamentar deixam em aberto o nome do deputado que vai presidir à eleição do próximo presidente do Parlamento, mas nesta legislatura, a presidente interina pode até vir a ser uma das candidatas. Edite Estrela — que tem sido apontada como potencial candidata do PS a presidente da Assembleia da República — é vice-presidente de Ferro Rodrigues e pela tradição pode vir a ser convidada para liderar a sessão inaugural e, caso seja candidata, presidir à própria eleição. Anda assim, existem mais opções.

Em 2019, Ferro Rodrigues, enquanto presidente cessante foi convidado a liderar a sessão inaugural e presidiu à sua própria reeleição, tal como aconteceu em 2009 com Jaime Gama. Com Ferro Rodrigues a retirar-se da política ativa e a não marcar presença no próximo quadro parlamentar a escolha fica em aberto e cabe ao grupo parlamentar do PS indicar um nome.

Entre as opções para essa liderar essa sessão inaugural está Edite Estrela, que será até a mais natural: foi a primeira vice-presidente de Ferro Rodrigues, é deputada do partido mais votado e é entre os vice-presidentes reeleitos deputados a mais antiga, tendo tomado posse pela primeira vez em 1987. Do PSD, Fernando Negrão, o outro vice-presidente que vai tomar posse como deputado, foi eleito a primeira vez em 2002.

A escolha do mais graduado vice-presidente da legislatura anterior foi o método seguido em 2011, quando o PSD indicou o nome de Guilherme Silva — que tinha sido vice-presidente de Jaime Gama — para liderar a primeira sessão, onde falhou a eleição de Fernando Nobre e viria a ser eleita Assunção Esteves. Em 2011, na primeira sessão plenária, o líder do grupo parlamentar do PSD, Miguel Macedo, foi o primeiro a usar a palavra para comunicar que “nos termos desta praxe parlamentar, ouvidas todas as bancadas e obtida a aquiescência de todos, quero convidar o Sr. Deputado Guilherme Silva a assumir, interinamente, a função de Presidente da Assembleia da República”.

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Ainda assim, há outros formatos que foram já utilizados na história recente. Em 2015, o ano em que António Costa formou a ‘geringonça’, o PSD foi o partido mais votado e por isso indicou o nome do presidente interino. Não tendo sido reeleitos como deputados Assunção Esteves e Guilherme Silva, o líder parlamentar do PSD justificou que “na ausência da Presidente da Assembleia da República cessante e do Vice-Presidente da Assembleia da República cessante representativo do mesmo Grupo Parlamentar, gostaria de vos propor para exercer essa função aquele que de entre nós, digo eu, embora não pareça, há mais tempo viu a luz do dia”, convidando o deputado socialista Alberto Martins para liderar a sessão e a primeira eleição de Ferro Rodrigues. Entretanto, o critério mudou e a escolha já não é entre o deputado mais velho mas sim entre o mais antigo em função.

Ora, este ano, o Partido Socialista tem à disposição uma vice-presidente do mesmo partido, mas pode vir a escolher o deputado mais antigo, que é Jerónimo de Sousa. O secretário-geral do PCP foi eleito parlamentar pela primeira vez na Assembleia Constituinte e vai iniciar nesta legislatura a 13ª como deputado à Assembleia da República. No critério anterior, de deputado mais velho, a escolha já podia cair em Alexandre Quintanilha, que encabeçou a lista do PS pelo circulo eleitoral do Porto.

Com o guião para esta legislatura ainda por fechar, esta é uma matéria que pode ficar alinhavada na reunião da Conferência de Líderes que está marcada para a próxima quarta-feira, 9 de fevereiro, data em que já será conhecido o apuramento eleitoral dos círculos da emigração.

A eleição da mesa da Assembleia da República terá particular interesse este ano com o reforço de poder do Chega, que vai indicar o nome de Diogo Pacheco Amorim para vice-presidente, mas que contará com a oposição dos partidos mais à esquerda. Também a Iniciativa Liberal se vai estrear nestas lides, tendo indicado o nome de João Cotrim Figueiredo.