O ator Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia, gravou um vídeo onde pede o fim de uma guerra que considera “ilegal” e em que se dirige diretamente ao Presidente russo para lhe pedir que acabe com a invasão à Ucrânia:”Começou esta guerra. Está a liderar esta guerra. Pode parar esta guerra”.

O conteúdo, que já recebeu elogios de analistas nos Estados Unidos da América (EUA), pode ter um alcance suficiente para chegar efetivamente aos olhos de Vladimir Putin, que tem o ator na curta lista de páginas que segue no Twitter e que o Observador revelou aqui.

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Numa gravação de mais de nove minutos, o ex-governador da Califórnia apela “aos cidadãos russos e aos soldados russos a combater na Ucrânia que entendam a propaganda e desinformação de que estão a ser alvo“.  Recordando o sofrimento e sentimento de culpa do próprio pai, que lutou pela Alemanha Nazi na II Guerra Mundial, quando se apercebeu das atrocidades e mentiras do regime de Adolf Hitler, Schwarzenegger alerta os militares russos para o facto de que a história se pode repetir com eles.

O ator explica que o objetivo é chegar aos seus “queridos amigos russos” e aos “soldados russos na Ucrânia”. Mas, especialmente, diz que decidiu lançar um apelo público “porque há coisas que estão a acontecer no mundo que estão a ser escondidas“. “Coisas horríveis sobre as quais deviam saber”, diz.

Schwarzenegger revela que, “desde que tinha 14 anos” — altura em que conheceu Yuri Petrovich Vlasov, um halterofilista russo, campeão olímpico e mundial que o “inspirou a levantar pesos” —, não sente “nada mais do que afeto e respeito pelo povo russo”.

A força e o coração do povo russo têm-me inspirado sempre. É por isso que espero que me deixem contar a verdade sobre a guerra na Ucrânia e o que está a acontecer lá”, explica.

O ator e político de 74 anos começa então por apontar que a “Ucrânia é um país com um presidente judeu, cujos três irmãos do seu pai foram assassinados por Nazis”, para concluir: “Estão a ver? A Ucrânia não começou esta guerra. Nem nacionalistas ou Nazis”.

Aqueles no poder no Kremlin começaram esta guerra. Isto não é uma guerra do povo russo. Não”, diz.

Schwarzenegger lamenta os vários bombardeamentos na Ucrânia, como aquele que atingiu uma maternidade de Mariupol, e a crise de refugiados que se vive. Mas lamenta também “que centenas de soldados russos [tenham sido] mortos”. “Aqueles que não merecem, de ambos os lados da guerra, vão sofrer“, diz também, referindo-se às sanções impostas à Rússia.

As vossas vidas e os vossos futuros estão a ser sacrificados por uma guerra sem sentido, condenada pelo mundo inteiro. Àqueles no poder no Kremlin, pergunto apenas: porque é que sacrificam estes jovens pelas vossas próprias ambições?”, questiona.

O ator acusa o governo russo de mentir “não só aos seus cidadãos, mas aos seus soldados”. “A alguns dos soldados foi dito que iam lutar contra Nazis. A alguns foi dito que o povo ucraniano os ia saudar como heróis. E a alguns foi dito que iam simplesmente fazer exercícios. Eles nem sequer sabiam que iam para uma guerra“, argumenta.

Rob Flaherty, diretor da estratégia digital da Casa Branca, adjetivou o vídeo de “muito, muito notável”, mas esclareceu ao The New York Times que a administração Biden não participou na execução do vídeo: “Isto veio do coração do Arnold, não do governo”. O porta-voz de Schwarzenegger, Daniel Ketchell, confirmou que as declarações foram redigidas pelo próprio artista e político com o apoio da sua equipa de comunicação; e que o vídeo foi gravado na terça-feira.

A advogado de Alexei Navalny, Lyubov Sobol, também respondeu ao ator no Twitter, afirmando que a opinião de Schwarzenegger é “muito importante” para o povo russo porque várias gerações cresceram a ver os filmes protagonizados pelo artista.

Para o The Washington Post, o conteúdo pode mesmo contribuir para desmascarar as intenções de Vladimir Putin junto da população russa. É que Schwarzenegger “encarna um pouco da mesma fisicalidade que Putin” e oferece “um outro tipo de [imagem de um] homem forte”: “As pessoas que associam a força masculina à autoridade moral podem ser mais propensas a acreditar nas palavras — e repassar os vídeos, por canais secretos, se necessário — de um homem como Schwarzenegger do que um homem como, digamos, Joe Biden”, analisou o jornal norte-americano.