A mulher do Presidente ucraniano, Olena Zelenska, não vê o marido desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia e não sabe se os seus familiares estão vivos. À Vogue, criticou o líder russo, Vladmitir Putin, e avisou que os outros países podem ser igualmente invadidos — basta Moscovo não gostar dos mesmos.

“Eu lembrar-me-ei para sempre dos meus familiares e dos meus amigos. Eu vou sempre lembrar-me do quão corajosas são as minhas amigas. O que essas mulheres — frágeis e elegantes em tempos de paz — são capazes de fazer quando há guerra”, contou, sinalizando que essas “histórias a inspiram”. “Estou tão orgulhosa de todos. Eu sonho em vê-los outra vez.”

Tendo-se convertido num símbolo das mulheres ucranianas, Olena Zelenska recordou a madrugada do início da invasão. “Era um dia normal”, apesar de ressalvar que havia “muita tensão” e que toda a gente falava sobre uma “possível invasão”. “Mas até ao último minuto era impossível acreditar que isso fosse acontecer… No século XXI? Neste mundo moderno?”, questionou, detalhando depois que acordou entre as quatro e as cinco da manhã por causa de um ruído: “Não percebi que fosse uma explosão”.

Nessa madrugada de 24 de fevereiro, Olena Zelenska reparou que o marido, Volodymyr Zelensky, “não estava na cama”. “Quando me levantei, vi-o já vestido com fato e gravata como o habitual. ‘Começou’. Foi tudo o que ele me disse.”

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“Não diria que se sentisse pânico. Talvez confusão”, recordou, sendo que a prioridade na altura passava pelos dois filhos do casal. Zelensky pediu à mulher para “esperar” e para “ir buscar bens essenciais e documentos”.

“Depois disso, saiu de casa”, lembrou Olena Zelenska, que revelou que não está com o marido desde esse dia: “A partir daí, temos comunicado somente por telefone”. O Kremlin considerou a família do Presidente ucraniano como um alvo a abater, o que a obrigou a procurar um “lugar seguro”. “Nesses primeiros dias, tinha esperança de que talvez pudéssemos estar com ele. Mas o seu gabinete tornou-se um quartel militar e eu e a minhas crianças estamos proibidas de lá estar”, desabafou.

A primeira-dama ucraniana chama “tirano” a Vladimir Putin e apontou, na mesma entrevista, aquilo que considera ser o “seu erro fatal”. “Todos nós somos ucranianos primeiros, e depois o resto. Ele quis dividir-nos, destruir-nos, provocar confronto interno, mas é impossível de fazer isso com os ucranianos”, afirmou, acrescentando que o povo da Ucrânia não “precisa de propaganda para sentir consciência cívica”. “É esta fúria e dor, que todos nós sentimos, que instantaneamente ativa a nossa vontade de agir, de resistir a agressão, de defender a nossa liberdade”, explicou.

“Todos nós estamos a fazer tudo o que está a nosso alcance”, prosseguiu, denunciando que a Rússia “tem mentido” quando diz que “atinge apenas alvos militares”. “A destruída e bloqueada Mariupol é a nossa dor terrível. E a região de Kiev tornou-se horrível”, sublinhando e descreve o cenário de “horrores”: “Pessoas mortas nas ruas. Não militares — civis! Sepulturas junto de parques infantis”.

Olena Zelenska também deixou um aviso “ao mundo”, frisando que o que aconteceu na Ucrânia pode repetir-se “a um país que a Rússia não gosta”. Além disso, assumiu não acreditar de uma retirada por parte das forças russas. “Honestamente, ninguém na Ucrânia acredita nas declarações do agressor”, atirou, justificando que a os russos diminuíram a sua presença militar “perto da região de Kiev”, mas “intensificaram os ataques nas regiões de Donetsk e Odessa”.

Insistindo que o Ocidente deve implementar a zona de exclusão aérea em todo o território ucraniano, Olena Zelenska pediu uma resposta mais agressiva e concertada aos líderes ocidentais. “Os russos sabem que o Ocidente não vai proteger os céus e isso encoraja-os a cometer atrocidades”, sublinhou, pedindo que o “mundo democrático se una e dê uma resposta dura para mostrar que não há lugar para a matança de civis no século XXI”.