A histórica Académica, vice-campeã nacional em 1966/67, caiu hoje, pela primeira vez na sua história, para o terceiro escalão do futebol português, ao empatar a zero com o Penafiel, em jogo da 30.ª jornada da II Liga.

Em Coimbra, o empate consumou a oitava descida da história da Académica, a primeira ao terceiro escalão, uma vez que, com quatro rondas por disputar, os ‘estudantes’ matematicamente já não podem deixar os lugares de despromoção: somam 16 pontos, menos 11 do que o Académico de Viseu, também em zona de despromoção direta, e 12 do que o Trofense, que ocupa o lugar reservado ao ‘play-off’ de manutenção, com estas duas equipas a defrontarem-se ainda hoje.

A Académica, um dos históricos clubes nacionais, jogará assim na Liga 3 em 2022/23, depois de 88 épocas consecutivas, desde 1934/35, entre a primeira e a segunda divisões do futebol luso, num trajeto que até hoje contava com sete descidas e 24 presenças na divisão secundária.

Coimbra, 16 abr 2022 (Lusa) — O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, lamentou hoje a descida da Académica da II Liga portuguesa de futebol, considerando que o clube tem de se repensar, caso contrário fará “uma longa travessia no deserto”.

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“É uma profunda tristeza. A Académica, como instituição, não merecia a descida. Um clube com a história da Académica faz falta nos escalões mais altos do futebol português”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Coimbra, sobre a despromoção da ‘briosa’.

Para José Manuel Silva, as dificuldades que a ‘Briosa’ foi sentindo nos últimos anos — primeiro com a relegação à II Liga, em 2015/16, e agora com a descida à Liga 3 – refletem também o facto de, “por responsabilidade” dos autarcas que o antecederam, “a atividade económica em Coimbra não ser suficientemente forte para manter a Académica na primeira divisão”. No entanto, o autarca nota que o próprio clube “tem de se repensar”.

“Uma instituição — seja um clube de futebol ou não — quando tem problemas não os pode empurrar para a frente com a barriga. O que vimos foi um arrastar de problemas estruturais que culminaram nesta circunstância”, notou. Segundo José Manuel Silva, a atual situação obriga a Académica “a repensar-se, a reorganizar-se, a pensar nos seus objetivos, na área de formação, na política de contratação de jogadores, na aposta numa estabilidade a médio prazo”.

“Se nada mudar, então a Académica fará uma longa travessia no deserto”, sentenciou o autarca, que é sócio da ‘Briosa’ mas também de outros clubes da cidade.

Sobre o apoio à Académica, José Manuel Silva frisou que os municípios não podem financiar os clubes e, caso pudessem, “são tantos no concelho, que não haveria orçamento suficiente para as necessidades de todos”. “A Câmara apoia associações desportivas, culturais e recreativas de forma transparente e com equilíbrio e sentido de justiça. Não podemos apoiar mais a Académica do que fazemos a todos os outros clubes do concelho”, vincou. Para o autarca, mais importante que a questão financeira, será a mudança de estratégia desportiva, que terá de passar por uma “aposta na formação e em condições de formação”.

“Se não há política desportiva, não há política económica que resista”, disse José Manuel Silva, frisando que lhe custa muito — “de forma particular e emocional” — assistir ao “caminho penoso da Académica nos últimos anos”.