Já é oficial: o PCP não vai mesmo ouvir o discurso que Volodymyr Zelensky fará, por videoconferência, na Assembleia da República nem participará nessa sessão, marcada para esta quinta-feira.

Depois de alguns dias de suspense em relação à posição dos comunistas, a novidade foi dada pela líder parlamentar do PCP, Paula Santos, numa conferência de imprensa marcada especificamente para o efeito, esta quarta-feira. Justificação? O partido considera que a sessão proposta pelo PAN e aprovada por todos os partidos menos o PCP é “concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra, contrária à construção do caminho para a paz”.

Mas o partido também pessoaliza as críticas, garantindo que o presidente ucraniano “personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi”.

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Para isso, o PCP usa como argumento a existência de batalhões de extrema-direita integrados nas Forças Armadas ucranianas com elementos neonazis, lembrando as forças “de caráter para-militar, de que o chamado batalhão Azov é exemplo”. E recorda que Zelensky “deu palco” a essas forças quando interveio no Parlamento grego (durante a intervenção do presidente ucraniano foi transmitido um vídeo de um soldado dos Azov que está a combater em Mariupol).

Esses batalhões existem e estão de facto integrados no exército ucraniano, embora a nível de representação política a extrema-direita tenha obtido apenas 2,15% nas últimas legislativas e falhado a eleição para o Parlamento da Ucrânia.

Ainda assim, o PCP insiste que a guerra não começou agora, mas há oito anos, com os confrontos na região do Donbass que se arrastam desde 2014, e aponta culpas ao governo de Zelensky: “Um poder que desde há oito anos ataca e massacra a própria população ucraniana na região do Donbass e persegue e elimina quem se lhe opõe”, além de, segundo o PCP, “discriminar os seus cidadãos com base na sua cultura e língua, atacar o direito de opinião, promover a perseguição política” (o partido comunista foi ilegalizado na Ucrânia).

“Um poder que ao mesmo tempo enaltece os colaboracionistas das SS nazis na Segunda Guerra Mundial e branqueia as suas atrocidades cometidas contra as populações da Ucrânia e da Polónia”, lê-se ainda na nota do PCP lida por Paula Santos.

Neste contexto, diz o partido, o convite a Zelensky feito “à margem dos critérios institucionais estabelecidos” não passa, na verdade, de “um ato de instrumentalização de um órgão de soberania” que coloca Portugal no caminho da “guerra” e associado a um dos lados dessa mesma guerra.

O PCP continua a não usar, nesta nota, o termo “invasão” e a atribuir as maiores responsabilidades não à Rússia, mas aos Estados Unidos, NATO e União Europeia, a quem atribuem a “intensificação da escalada belicista” que se vive na Ucrânia.

Por isso, o que o partido diz defender são iniciativas para “uma solução negociada” e para chegar à “paz”. Questionada pelos jornalistas sobre se não quereria deixar um apelo ao próprio Vladimir Putin para acabar com a invasão da Ucrânia, Paula Santos preferiu dizer que o partido “apela” apenas à paz. Mais: o PCP não só é contra o que classifica como uma “corrida aos armamentos” na Europa como também rejeita as sanções aplicadas à Rússia, defendendo que estão a prejudicar as populações europeias — “como se vê no nosso país”.

Por tudo isto, o caminho para acabar com a guerra na Ucrânia deve mesmo ser “o contrário do que está a ser feito”, defendem os comunistas.

O partido faz ainda questão de reafirmar que “não tem nada a ver com o governo russo e o seu presidente”, uma vez que Putin está longe de ser comunista: “A opção de classe do PCP é oposta à das forças políticas que governam a Rússia capitalista e dos seus grupos económicos”. Ainda assim, a posição do PCP é de condenação bem mais veemente dos Estados Unidos e NATO — que Paula Santos insistiu várias vezes terem “grande responsabilidade” pelo que se passa na Ucrânia — do que da Rússia, que condena pela recente “intervenção militar”.