Igor Khashin, um dos líderes da comunidade russa em Portugal que ajudou a Câmara Municipal de Setúbal no acolhimento de refugiados ucranianos de quem recolheu informações pessoais, defendeu, em 2015, que há em Portugal ucranianos “radicais”. A declaração foi feita numa entrevista publicada num site criado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

A entrevista, dada em 2015 — numa altura em que se agravava o conflito entre a Ucrânia e a Rússia no Donbass — à Fundação para o Apoio e Proteção dos Direitos de Compatriotas, e publicada inclusive num site do governo russo, foi citada pela Visão e a CNN Internacional. Igor Khashin dizia que o conflito estava a dividir a comunidade.

“A situação aqui é certamente tensa. Existem definitivamente elementos radicais, que tentam apresentar qualquer acontecimento exclusivamente de uma forma politizada e à sua própria maneira”, referiu, acrescentando que a situação é “muito complicada”.

“Neste momento, há uma grande onda de refugiados, e não posso dizer que são pessoas das regiões orientais da Ucrânia: há do leste, também há do ocidente. Naturalmente, tivemos conflitos internos e uma rutura nas relações. Isso também foi observado entre a diáspora ucraniana”, explicava. Igor Khashin, próximo da Embaixada da Rússia, chega mesmo a defender que “é difícil falar com os radicais”, porque têm uma “ideologia distorcida”, sendo “impossível explicar-lhes alguma coisa”.

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À CNN, Pavlo Sadhoka, presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, disse acreditar que Igor se referia aos ucranianos que organizaram manifestações contra a anexação da Crimeia e em defesa da UE. Sadhoka revela que Igor Khashin chegou a acusá-los de serem “neonazis” e de dividirem a comunidade ucraniana.

Na entrevista, Igor Khashin conta ainda que, como membro do Conselho Coordenador dos Compatriotas, teve reuniões com órgãos ligados ao Kremlin para “levantamento das questões que dizem diretamente respeito tanto aos compatriotas que vivem no estrangeiro como aos que vivem diretamente na região europeia”.

“Há muitas questões, tentamos resolvê-las gradualmente, delineamo-las, damos recomendações para a sua solução nas reuniões com os funcionários. Gostaria de notar que temos frequentemente representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros, membros da Duma [Parlamento russo], do Conselho da Federação e outros ministérios e agências relevantes, tais como o Ministério da Juventude, o Ministério da Cultura, o Ministério da Educação e o Serviço Federal de Migração. Isto é importante para nós”, referiu.

Como o Observador já escreveu, a autarquia de Setúbal confirmou que Igor Kashin colaborou “já este ano” nas instalações de alguns serviços no acolhimento de refugiados de guerra. Essa colaboração é regular — acontece “há vários anos” — e feita “com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras”. Igor Kashin esteve “também a dar apoio” desde 2005 entre a Câmara de Setúbal e a Edinstvo, a “associação de imigrantes de leste, nos serviços municipais responsáveis pelo acolhimento de refugiados.”

O caso dos refugiados ucranianos recebidos por russos em Setúbal (explicado em 17 respostas)