“A lama não sujou o alvo que visava mas sim a mão que atirou. E posso dizer que vou mover um processo-crime contra Luís Filipe Vieira”, anunciou na primeira intervenção João Malheiro, conhecido benfiquista que tinha sido alvo na véspera de um ataque a propósito da relação que mantinha com Eusébio. O antigo líder dos encarnados ainda esteve em dúvida ao longo do dia mas voltou mesmo à CMTV, desta vez num painel que tinha também o antigo capitão Diamantino Miranda e o comentador Pedro Guerra. “Não venho para aqui lavar roupa suja, venho para aqui defender o Benfica”, garantiu. No entanto, teve mesmo um diálogo mais quente com o ex-jornalista, ainda a propósito das críticas que fizera em entrevista.

“Não vou voltar, nunca mais serei presidente do Benfica. Mas se amanhã houvesse eleições, eu ganhava”: a entrevista de Vieira

– Vou dar-te um conselho: vais ter com a Dona Flora…
– Não vás por aí, não metas outras pessoas…
– Vais ter com a Dona Flora…
– Mas em tribunal vamos resolver isto!
– Não venho aqui lavar roupa suja, que seja…
– Sim mas vou mover-te um processo.
– Fico muito grato…
– Então prepara-te para isso…
– Vais falar com a Dona flora, ela vai dizer-te o que me disse e se tiveres decência pedes desculpa por tudo o que fizeste ao Eusébio. Mete os processos todos, ficamos por aqui.
– Vamos ver, então… Eu não tenho duas caras!

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Antes, voltando a falar do Benfica, o antigo presidente do clube falou do pós-entrevista. “Se Rui Costa ligou depois da entrevista? Não. Nem estava à espera e se não ligar não faz falta, por amor de Deus… Café ou almoço? Disponível sim, claro, sem problema nenhum”, atirou. Depois, abordou outros temas. Uns pela primeira vez, como a possibilidade de limitação de mandatos na presidência ou a remuneração dos dirigentes do clube, outros com mais detalhes, nomeadamente o líder Rui Costa e Rui Pedro Braz.

“O Benfica sempre foi um clube democrático, os benfiquistas é que têm de decidir quem é o presidente. Se está um, dois, cinco, seis mandatos, isso é um problema só dos benfiquistas, que têm de tomar a decisão. Não é uma Assembleia Geral. Não estou a ver que isto seja uma decisão tomada numa Assembleia, conhecendo como conheço o Fernando Seara [n.d.r. presidente da Mesa da Assembleia Geral] é uma decisão muito de fundo. Não são 2.000 ou 3.000 sócios que decidem por 200.000 ou 300.000 sócios mas todos. Referendo? Logicamente. O Benfica é dos benfiquistas, não se vai decidir o futuro do Benfica numa situação dessas numa Assembleia”, defendeu Luís Filipe Vieira perante essa possibilidade.

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“Sobre remuneração, quem anda no mundo do futebol sabe que todos os clubes cada vez mais se estão a profissionalizar. Nunca o Benfica poderá voltar para trás porque foi o amadorismo que levou o Benfica ao estado a que levou. Aceito que tenha uma Direção mas a profissionalização do Benfica nunca pode ser condenada. Vou dar um exemplo desta Direção ou da minha, pouca gente estava à altura de estar à frente de um clube como o Benfica. Um dos momentos mais frágeis que notei quando entrei no Benfica foi a falta de profissionalização. Disse-o ao Manuel [Vilarinho]. A primeira coisa que fiz foi profissionalizar o Benfica. Sou contra a remuneração dos órgãos sociais porque o Benfica não chama ninguém para ir para lá, são as pessoas que vão porque têm vontade de forma gratuita”, assegurou, antes de vincar a importância da profissionalização de todo o universo encarnado nos últimos anos na Luz.

“Por exemplo, quando fui detido, em qualquer clube não profissionalizado seria um problema gravíssimo mas o Benfica ultrapassou esta transição de forma natural, cumprindo com toda a gente. Há muita gente que contesta mas porque não sabe, o Benfica é uma super empresa, uma das maiores empresas do país. O Benfica não pode ser gerido por amadores, não pode ser de pessoas que não têm emprego. Têm de ser profissionais a sério. Ainda agora saiu um elemento que acho que era um quadro fabuloso, o mais inteligente, o Miguel Moreira. Um ‘sim’ era difícil, fazia toda a gente puxar pela cabeça. Faz-me confusão como algumas pessoas ainda contestam a profissionalização do Benfica”, destacou Luís Filipe Vieira.

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“Eu disse que tive divergências claras com Rui Costa, quem não sente, não é filho de boa gente. Por isso, volto a dizer: o discurso de entrada do Rui Costa foi muito incorreto, assumo isso. Se tivesse um telefonema do Rui Costa a pedir desculpa, porque o Rui Costa sabe o que trabalhei para o Benfica, sabe qual é o meu feitio, tive ‘pegas’ profissionais com ele mas sabia que ‘as pilhas do Vieira não acabavam’, estava sempre em cima do acontecimento. Agora, nunca fui amigo do Rui Costa, ele sabe disso, pelo contrário. Estou a falar da parte pessoal mas acho que tem de me pedir desculpa. Eu sei que não foi ele que escreveu o documento mas se fosse o contrário tinha-me recusado ler porque tinha sido companheiro de trabalho dele, sabia as virtudes dele e dizia que não admitia aquilo de alguém que esteve comigo”, explicou.

“O Rui precisa de tempo, tem sete ou oito meses. Oxalá fique muitos anos e ganhe muitos títulos. Já vi alguns positivos, já vi muitos negativos mas o Rui é que tem de ver. Começar a fechar o Seixal é positivo mas não é com as pessoas que estão lá. O Benfica o pior caso que teve foi Jorge Jesus e Cardozo, muito pior. Foi público, não ficavam etc. de forma discreta, resolvi a situação. Se continuassem assim, iam os dois embora. Recentemente houve um problema a seguir ao Benfica-FC Porto, comigo isto não era assim. Comigo mudava logo o tom. Não é um Rui Pedro Braz que lidera o Benfica no balneário. O Pizzi sempre foi um ótimo profissional! Quem passa para cá? Então o Benfica é gerido pela comunicação social hoje… E com pessoas bastante responsáveis…”, comentou, antes de abordar o diretor desportivo.

“Eu assumi que fui eu que admiti mas ninguém da administração o queria. Ninguém, inclusive o Rui Costa. Mais: sei com quem é que o Rui Costa falou para tentar persuadir para não pôr lá o Rui Pedro Braz. Já fez tantas asneiras e continua no Benfica, agora quem é o presidente? Tantos, tantos erros… Sim, antes de ir para a Argentina. Olha, vender o Waldschmidt por 12,5 milhões quando nos estávamos a preparar para vender por 25 milhões… Aliás, eu disse-lhe isto: vendeu um jogador sem minha autorização no preço e disse-lhe que nunca mais vendia um jogador sem eu dizer o preço. Sim, foi no negócio do Nuno Tavares. E se lá estivesse, ele não trabalhava mais no Benfica. Eu fui levado pelo currículo, via o gajo na televisão, as pessoas falaram comigo, o Pedro Pinto disse que ele era um profissional. Esteve quase a ir para Itália para o Tiago enquadrar na Roma. Mas também disse depois ‘Ele saiu e eu fiquei aqui sozinho…’. Quando disse que foi ele que puxou o tapete ao Jorge Jesus, sei o que digo…”, referiu.

Mais tarde, Vieira respondeu a duas perguntas sobre os antigos homólogos, da permissão para Pinto da Costa fazer gravações para um programa na Luz ao acordo com Frederico Varandas nas modalidades.

“Se alguém tinha divergências com Pinto da Costa era eu. Não vejo no futebol as pessoas como inimigas. É preciso situarmo-nos nos tempos – estávamos nos tempos de pacificação do futebol português. No dia em que falou comigo não vi problema nenhum, desde que não falasse mal do Benfica. Dei autorização. Como Rui Costa apertar a mão a Pinto da Costa, como se tivesse feito um crime… Se não houver a pacificação que é precisa… Não estou arrependido de ter autorizado. Na minha vida não me arrependo de nada. Muito tempo falei com o Pinto da Costa. Tínhamos um acordo: não nos sentávamos lado a lado. Em termos profissionais, tínhamos profissionais do Benfica a trabalhar com os do FC Porto. Isto é a parte institucional. As pessoas têm de entender isso. Isto é uma indústria, tem de dar lucro. Se passarem na parte emotiva, isso é nas quatro linhas. Houve situações que causaram bastante estrago ao Benfica mas isso são os tribunais que vão dizer, não vou ser eu”, frisou, recordando o caso dos emails.

“Frederico Varandas ligou-me para tentarmos baixar o teto salarial das modalidades e encontrámo-nos, eu, ele e responsáveis das modalidades do Benfica e do Sporting. Era um pacto de não agressão porque as modalidades atingiram um nível insuportável e parece que foi cumprido”, disse sobre o líder leonino.