Foi apenas uma entrada no programa Liga d’Ouro, teve apenas alguns minutos mas foi muito mais do que isso. Após a vitória do Benfica na Youth League, Luís Filipe Vieira, então de férias no Brasil, fez questão de abordar a conquista do título que o clube tanto perseguia a nível de formação na sequência de três finais perdidas mas não se limitou a dedicar o mesmo a Mário Dias, pela influência na construção do Centro de Estágios do Seixal, a Jaime Graça, pela coordenação técnica que assumiu no arranque, e aos jogadores e treinadores. Longe disso. E foram muitas as “farpas” que foi deixando ao longo da conversa, com essa promessa de que iria guardar outras considerações para “a” entrevista, marcada para 9 de maio inicialmente mas adiada para quase um mês depois por ter entretanto contraído Covid-19.

Vieira quebra silêncio e fala sobre vitória na Youth League: “Influência de Rui Costa no Seixal tem sido praticamente inexistente”

“Neste momento, o Benfica tem uma situação privilegiada, pode manter a formação toda porque tem todo o seu património pago. Não é dizer que é formação nas palavras e depois ouvirmos dizer que com a formação não ganhamos nada. Ou apostam ou não apostam (…) Se quer que lhe diga com honestidade, o mérito que existe da Youth League é dos treinadores e dos jogadores. Que eu saiba, a influência do Rui [Costa] no Seixal tem sido praticamente inexistente ao longo dos anos (…) Eu tinha de vender para liquidar o que tinha de liquidar, hoje o Benfica não tem necessidade disso até porque os ativos que deixei chegam e sobejam para qualquer questão que o Benfica possa ter (…) Acho que nenhum adepto deve estar satisfeito este ano. Vou dar uma entrevista e depois volto ao mesmo sítio onde tenho estado, calado. Vou acompanhar o Benfica à distância porque tem de ser bem acompanhado. Treinador estrangeiro? Foi o presidente que escolheu, ele é que sabe. Há treinadores portugueses que serviriam perfeitamente”, disse.

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Entrou sem seguranças, saiu por outra porta, ouviu insultos de um adepto (entre muitos aplausos): o regresso de Vieira à Luz

Desde que deixou a presidência do Benfica após 18 anos na liderança do clube, na sequência da detenção no âmbito da operação “Cartão Vermelho” e das respetivas medidas de coação com que ficou depois da saída, Vieira não teve muitas intervenções públicas. Não foi por isso que deixou de tomar posições, mesmo que as mesmas fossem por vezes transmitidas por pessoas que estavam à sua volta e em off. O “regresso” acabou por ser assinalado no dia das eleições das águias, onde foi cumprimentado por muita gente mas ainda teve um pequeno momento de tensão com um sócio quando se preparava para falar à BTV.

– Ainda tens a lata de cá vir? És uma vergonha
– Lata? Deve ser mas é cego…

“Para quem esteve no Benfica cerca de 20 anos, acho que criei uma dimensão incalculável, como ninguém pensava. Projetei o Benfica para um mundo onde já não estava projetado. Não consegui acabar o que pensei e toda a gente sabe o que se passou comigo. A única coisa que quero adiantar a todos os benfiquistas é que não lesei nem nunca roubei o Benfica, que fique claro (…) Quando cá estava ouvia toda a gente mas também dizia que quem decidia era eu. A democracia a mais faz mal e a democracia neste clube faz mal. Por não haver democracia é que crescemos como crescemos. Hoje, mesmo que me queiram esquecer não me vão esquecer porque quando forem à casa de banho, quem se sentar numa secretária tem de se lembrar de mim”, referiu na altura, onde se comparou como uma “peça de caça”. Depois disso, o antigo líder teve ainda o incidente na final da Taça da Liga, em Leiria, quando precisou de escolta policial para chegar à sua viatura no parque de estacionamento perante os insultos e ameaças de alguns sócios.

Vieira sai escoltado do estádio em Leiria após ser insultado e ameaçado por adeptos do Benfica

Esta segunda-feira, à CMTV (“porque foi o canal que fez um julgamento público da situação”, como referiu logo no arranque da entrevista), Luís Filipe Vieira deixou uma garantia em relação à operação Cartão Vermelho: “Não roubei o Benfica, o Benfica é que roubou muito da minha vida familiar e empresarial. Passei 12 anos por burlão no caso BPN, espero que neste caso também seja inocentado em vida, não em morto. Têm de provar que fiz o que quer que seja ou então aquilo que não fiz”. “Em janeiro podiam pensar que ia desestabilizar o Benfica, era capaz não ser agradável dar uma entrevista naquela altura.Vocês fazem as perguntas, eu respondo a todas. Quem não deve, não teme. Acho que fui mais absolvido do que condenado, porque ando na rua normalmente. As manifestações de carinho que tenho tido, nunca fui ofendido”, disse ainda na primeira resposta, antes de falar do momento da sua detenção.

“No dia da detenção almoçaram comigo dois ou três…”

“Dia da detenção? Estava numa reunião de manhã e estava a chamar o Bruno Maruta [diretor do futebol de formação do Benfica], quando alguém me interrompe a dizer que o Maruta não pode vir. Disseram que ia ser ouvido. Fizeram buscas no meu gabinete, no meu quarto lá no Seixal, até nos tetos falsos andaram a mexer. Não sei do que andavam à procura. Umas pessoas fizeram buscas na minha casa, na casa do meu filho… A seguir fui para minha casa. Almoçaram comigo dois ou três… Se eu ia almoçar, podiam almoçar comigo, não? Disseram-me que ia ficar detido e perguntei ‘Porquê? Para prestar declarações? Para isso passo por lá quando quiserem’. Percebi após o almoço que ia ser detido. Estavam diversos agentes nessas buscas. Parece que alguém quer a minha cabeça ou que sou um troféu de caça. Não sei para quem”, contou sobre esse dia da detenção antes de quatro dias até ficar à condição em prisão domiciliária.

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“Vou do Seixal até casa, almoço, depois do almoço é que disseram que eu tinha de acompanhá-los. Passou-se uma coisa terrível nesse dia. Cheguei, pus a mala na cela, nem podia estar com atacadores, dos meus medicamentos só podia deixar um comprimido para o dia seguinte. Disse que me ia vestir. Quando vinha no corredor perguntaram se não queria ver o meu filho. Longe de mim pensar que o meu filho Tiago estava detido. Ele dá um sorriso e não vale a pena comentarmos a seguir. Foi terrível… Só lhe disse ‘Tiago, tem calma.’ Essa noite fiquei em branco, nunca imaginei do meu filho. O José António dos Santos também. Custou-me. É um dos maiores empresários do país, tem 4.000 empregados. Ele vende frangos e outras coisas, não tem de ser conhecido como Rei dos Frangos. É super meu amigo, continua a ser”, acrescentou.

Juiz Carlos Alexandre decreta prisão domiciliária de Vieira até pagar caução

“Parece que saiu uma lista e fui escolhido por alguém para ser um bode expiatório para muita coisa. Já disseram que ia ser o biombo da justiça… Olhe, eu nem sabia o que era isso do biombo, veja lá”, destacou ainda o antigo presidente dos encarnados a propósito do dia que marcou essa operação.

“Novo Banco? Fui o único que dei a cara e não tive perdão de nada”

“Dívida ao BES, Novo Banco? É preciso ser-se muito ingénuo para uma acusação dessas. Alguma vez ia manipular um banco? Nunca mostrou interesse na Imostep. Até hoje nunca tive noção exata do que valia. Não quis ficar com o ativo nem desenvolver, não quis nada. O Novo Banco, no mínimo, podia dizer que tinha o dinheiro salvaguardado porque o dinheiro está aqui. Mas nunca se interessou. O banco parou, não houve interlocutor, não ligou mais. Não manipulei ninguém. Só quando soubemos que o banco ia colocar NATA2 é que o senhor António fez a proposta para comprar e o fundo de resolução aceitou. Não manipulámos ninguém. Foi feito às claras. São os dois fundos que vêm falar connosco. O senhor José António fez uma proposta aos dois. Disse-lhe ‘É grande negócio para ti’”, explicou.

Luís Filipe Vieira “apagou” dívidas de 160 milhões das empresas imobiliárias à revelia do Novo Banco que avalia liquidação

“Não tinha nenhum problema com o Novo Banco. Fala-se só do Luís Filipe Vieira porque é presidente do Benfica. Fui o único que dei a cara e não tive um perdão de nada por ser uma figura pública. Na minha ótica há uma gestão danosa por parte do Novo Banco, não pergunte porquê. Não sei quais foram as motivações das pessoas nem sei quem foi. Há um determinado ativo que vale aquele dinheiro que vai para o Nata II, não sou eu que tenho de dar explicações. Sobre a Imosteps, tudo o que está escrito ou que me acusam, não faz sentido nenhum. António Ramalho? Não estava nesses negócios, de certeza. Não sei os nomes. Dentro do banco alguém tinha de avaliar o que valia o ativo. O banco não fez nada… O Ministério Público não me está a acusar? Então tem de ir até ao fundo para ver o que houve. Podia haver alguém do Novo Banco a achar ‘Isso é no Brasil, deixa passar’. E mandaram aquilo para o Fundo”, prosseguiu.

Relatório do inquérito conclui que reestruturação da dívida de Vieira aumentou riscos para Novo Banco

“Fundo de Investimento Alternativo Especializado (FIAE)? Não há nada de estranho, acha que eu mando no banco? Conhecia poucas pessoas desta administração do Novo Banco, da outra é que conhecia todos. Disse diversas vezes que bastava financiarem e que íamos desenvolver os terrenos. Na primeira vez em que fui chamado ao Novo Banco para ser confrontado com uma dívida, disse que de certeza não ia pagar essa divida. Emprestaram-me o dinheiro e eu tinha cinco ou dez anos para desenvolver os terrenos. Não tinha dinheiro para pagar essa dívida. Eu disse que iam ser ressarcidos”, salientou ainda Vieira.

Como Vieira se apropriou de 8 milhões de euros do Novo Banco que acabaram por ser compensados pelo Fundo de Resolução

“O Novo Banco fez o FIAE, onde estão todos os ativos e a partir daí entendeu que havia capacidade para desenvolver os ativos e reaver o dinheiro. Fizeram o plano de negócios aprovado por todos para o desenvolvimento a 15 anos. Acha que eu é que digo qual vai ser a sociedade gestora? O Banco é que escolheu a Capital Criativo para sociedade gestora. Não sou visto nem achado. Quando a Capital ia ficar com a gestão do fundo, vendi as minhas participações. O banco afastou-nos da gestão dos nossos ativos. Era o próprio banco que ia gerir, tinha sempre a última palavra. Tinha 220 mil quadrados para começar a construir, em Santa Iria da Azóia, Alverca e Algarve. Têm de perguntar quem boicotou. Quem mandava era o banco. Se o banco não deu os meios necessários para desenvolver os ativos, o que se há-de fazer? Se não há dinheiro, o que se faz? Tenho a noção exata de que se o BES tivesse sido nacionalizado, ninguém era penalizado. Os bancos iam receber o dinheiro todo. De mim iam receber o dinheiro todo”, garantiu.

O devedor “que não foge”, mas que já gerou perdas de 181 milhões. O que disse (e o que não disse) Luís Filipe Vieira

“Se sou uma vítima? Não tenha dúvida nenhuma disso. Como se cai nessa esparrela? Não é esparrela, não é ingenuidade… Não sou santo, nem nunca serei. Se não recuperaram o dinheiro, foi porque não quiseram. O dinheiro não desapareceu, os terrenos estão lá todos. Não desviei um tostão da empresa, não comprei avião, não comprei casas para mim. As empresas eram auditadas. Se algo não está resolvido não me venham culpar a mim. Nem eu, nem o meu filho, nem o José Gouveia tivemos interferência na gestão. A principal gestão foi do banco. A responsabilidade é do Novo Banco, não é a minha”, concluiu nessa parte.

“Inflacionar a compra de um jogador? Eu era um gajo que regateava tudo”

Luís Filipe Vieira abordou depois a OPA abortada do Benfica e o alegado esquema com o agente Bruno Macedo de que é acusado pelo Ministério Público para desviar dinheiro do clube. “O senhor José António [Santos] nunca foi avisado. Só eu, o Domingos Soares de Oliveira e o Miguel Moreira sabíamos desta OPA. Ninguém pode ter nada que diz que eu avisei o José António, nem escutas nem nada. É impossível. O José António soube no dia em que a OPA foi lançada e imediatamente disse que não venderia as suas ações. De certeza que não lhe dei nenhuma informação, como não dei a ninguém. Tenho noção exata que o Domingos Soares de Oliveira e o Miguel também não”, começou por referir a esse propósito.

Os detalhes da investigação: Vieira suspeito de ter desviado 2,5 milhões do Benfica para pagar créditos e terrenos das suas empresas

“José António dos Santos a comprar ações? Podem fazer essa pergunta a ele, de certeza que não sabia de nada. As primeiras ações que comprou ao BES foi um grande negócio. Não é por acaso que tem a fortuna que tem, sabe antecipar-se, era fácil de ver que as ações do Benfica estavam muito baratas. Quando pensámos na OPA, a primeira proposta que fizemos foi de dois preços, a três e a cinco euros. Passados uns meses a CMVM disse que era possível e depois que só podia ser um preço. Chumbou um preço, tínhamos de fazer a cinco. Estava preocupado com o Benfica. Na operação desenhada deixaríamos 5% em bolsa, o Benfica ficaria com 45% e o resto para parceiros, como o modelo do Bayern. Posso garantir que nos próximos anos éramos bem geridos e somos bem geridos. Teríamos a garantia de salvaguardar o Benfica para o futuro com estes parceiros, como o Bayern. Iam entrar 200 milhões. Talvez o grande culpado tenha sido eu porque trouxe o Benfica para um patamar que nunca ninguém imaginou”, destacou.

Como Derlis González, Cláudio Correa e César terão servido para Vieira e Bruno Macedo desviarem 2,5 milhões de euros do Benfica

“O Ministério Público tem de provar tudo o que diz. O Bruno Macedo é um empresário como outro qualquer. Como é que vou inflacionar a compra de um jogador? É impensável. Alguma vez vou comprar um jogador e pagar o dobro? Não é só no Benfica, é em qualquer clube. Eu não tenho culpa de que o Bruno Macedo tivesse feito um negócio com o meu filho, de comprar uma determinada mercadoria. A venda foi a preço de mercado. Tive uma discussão, a pior que tive, por causa do Darwin. Só lhe dei 500 mil euros de comissão, ele queria mais, não lhe dei mais e se calhar ele merecia. Nem queira saber a pega que houve. As coisas são claras como a água. Como é possível que o dinheiro foi desviado para vender património? Como é possível vender a preço de mercado? Para isso vendia a outro qualquer”, disse.

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“Toda a gente sabe a fama que eu tinha, que era um gajo que regateava tudo. Todos os negócios para o Benfica foram feitos de consciência tranquila. Nunca paguei comissão de 20% a ninguém. A única de 15% foi por causa do Raúl Jiménez, que estava a acabar contrato. Acordei com Jorge Mendes, 3,5 milhões de euros de empréstimo e 38 milhões da venda para o Wolverhampton ou saía a custo zero. Nunca inflacionei nenhuma comissão. Podem chamar os empresários todos. Só pagava a 10% quando era venda de jogadores. A média era 8%, havia médias muito superiores a 8%. Que se investiguem todos e vão ver a média. Os sócios do Benfica devem estar felizes porque o Benfica deu sempre resultados positivos”, acrescentou.

“Rui Costa suspendeu dois fisioterapeutas de virem a minha casa”

“Desiludido com Rui Costa? Não, não estou… Acho que houve uma deselegância muita grande quanto tomou posse, quando estava detido, não referir o meu nome. Magoou-me bastante. Em termos humanos tinha uma relação com ele e gostava bastante dele, apesar de muitas vezes não estarmos de acordo. Fiquei magoado. Fiquei também magoado com o facto de dar instruções para se suspenderem dois fisioterapeutas de virem a minha casa tratar de mim, depois de saírem do Seixal. Como se fosse possível eles darem-me informações de lá, sendo curioso como as informações saem todas do Benfica para os jornais, é gerido de fora. Os fisioterapeutas disseram-me que foram proibidos”, apontou Vieira.

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“Rui Costa não fala de mim? Não sei. O que me dizem é ‘Não digas que falaste comigo, parece que é proibido falar de ti’. Parece que se esquecem que fui presidente do Benfica. O Benfica cresceu de uma maneira que ninguém pensava… Fui 19 anos presidente, durante este período todo o Benfica cresceu de uma maneira que nunca ninguém pensou: criou património, profissionalizou-se ao nível dos melhores clubes do mundo, fez um museu, fez um estádio que é o orgulho de todos. Eu tive o privilégio de os benfiquistas confiarem em mim. É uma obra do Benfica, não é o do Luís Filipe Vieira. Dizem que isto é o vieirismo mas o vieirismo é o Benfica. O Benfica, nestes anos, além dos títulos, com um tetra inédito…Não tenho dúvidas que me confundo com a história do Benfica nos últimos anos”, continuou.

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Sobre o resto da estrutura, o alvo das críticas foi Rui Pedro Braz, diretor desportivo dos encarnados. “Jesus não teve culpa disto. Vem para o Benfica porque era treinador de ganhar rápido. A verdade é que nos reforçámos bastante. O primeiro ano com a Covid-19… No segundo ano, este agora, o Benfica tinha plantel mais do que suficiente para ser campeão e não era preciso fazer aquisições depois da minha detenção. Tínhamos na formação jogadores melhores. Se Jesus fosse bem apoiado seria diferente, tinha jogadores de muita qualidade. Com o Rui Pedro Braz a fazer o trabalho que fez contra Jesus, como podia Jesus brilhar? Andava todos os dias a tirar o tapete a Jesus e a dizer que para o ano não era treinador”, comentou.

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“Quando perde com o Sporting, Jesus foi vaiado. Quem saiu em defesa de Jesus? Zero. Ninguém veio. Quando Rui Vitória foi cilindrado pelo Jesus em casa, apareceu o Vieira no final do jogo a dizer ‘Este é o meu treinador, é com este que vamos ganhar’. Geriram mal a situação do Jesus. A seguir ao jogo com o Porto, quem disse ao Pizzi ‘Deixem o homem desabafar’?. Foi o Rui Pedro Braz. Sabia que havia adjuntos do Jesus ali. Esse tema foi mal gerido. Fui eu que o contratei e ninguém na administração queria. Foi um erro meu. Se ninguém o queria, não sei porque ainda está lá… Jesus foi aprovado por toda a gente, agora parece que todos têm amnésia. A única pessoa que não queria Jesus foi Tiago Pinto. Está na Roma, vamos ver se não vai parar a outro lado. Foi o diretor geral mais completo que tive. Vai aparecer-lhe um grande clube, Real, City e United. Saiu por Jesus ter vindo”, admitiu Luís Filipe Vieira.

“Treinador? Batia a cláusula dos 30 milhões para Rúben Amorim vir”

“Treinador estrangeiro? O Rui [Costa] é que é responsável, não discuto nada disso. Mas na minha opinião pessoal contrataria um português. Quem? Mourinho? Não… Leonardo Jardim? Sim, era esse”, disse, antes de abordar também a possibilidade Rúben Amorim. “Apresentaram um projeto ao Rúben e ele entendeu que esse projeto não fazia sentido. Ele sabia que eu estava dentro do Seixal e devia ter falado comigo, foi o único erro dele. Disseram-lhe como o Benfica trabalhava e aquilo não fez sentido na cabeça dele. Falou com Pedro Mil-Homens e Pedro Marques. Ele sabia bem o que andávamos a falar, andávamos a falar que ele tinha de ser treinador do Benfica. Não seria treinador da equipa principal na altura mas chegaria lá. Se eu fosse o presidente do Benfica, tinha uma conversa séria e exercia a cláusula de opção de 30 milhões de euros. Passado um ano, estava pago. Pagava os 30 milhões de euros. Batia a cláusula para ele vir mas o Rúben agora não sai do Sporting, ele está farto de dizer que não saía. Até teve algumas propostas, segundo consta mas não quer sair. Acho que conseguia convencê-lo…”, frisou o ex-líder dos encarnados.

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“Darwin? Tinham criticado que eu tinha pago uma fortuna por um gajo da Segunda Divisão… Havia muita gente que dizia que vender Félix por 60 ou 70 milhões estava bem vendido, saiu por 120. Comigo só saía pela cláusula de 150 milhões. O Benfica não deve vender Darwin. Este é imprescindível. Falei com o Jorge Mendes e podíamos ter alterado a cláusula para 200 milhões de euros”, abordou sobre o uruguaio.

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“Nunca mais voltarei a ser presidente do Benfica, estarei disponível para ajudar no que precisarem. Já viram agora? Tenho tempo para tudo, pareço mais novo, ando bronzeado… Lá trabalhei como um escravo para alguns que não faziam nada”, adiantou mais tarde. “Mas se fosse a eleições, ganhava. Não tenho dúvidas, ganhava. É ponto assente que não voltaria a ser presidente, dei o meu contributo e está a vista. Não mudo de opinião, não há hipótese. Não vou. Não há hipótese de voltar. O que se passou comigo, o que fiz passar o meu filho, é impossível para mim…”, acrescentou ainda a esse propósito.