A Reserva Federal dos EUA aumentou as taxas de juro em 75 pontos-base, para um intervalo entre 1,5% e 1,75%, e garantiu ter um “compromisso forte” com a descida da taxa de inflação para a meta de 2%. Desde 1994 que não havia uma subida tão rápida nas taxas de juro, três quartos de ponto percentual, e o banco central sinaliza que irá acelerar o ritmo de subida das taxas de juro daqui para a frente.

Depois de o Presidente Joe Biden ter considerado a inflação elevada “uma cruz na nossa existência”, a Reserva Federal (Fed) escreve no comunicado divulgado esta quarta-feira que “o Comité de Operações no Mercado Aberto [a cúpula da Fed, que decide sobre política monetária] tem um compromisso forte em fazer regressar a inflação ao objetivo de 2%“. A taxa de inflação nos EUA atingiu os 8,6% em maio, no que se está a tornar uma matéria cada vez mais delicada para Biden, que enfrenta eleições intercalares em novembro próximo.

A estimativa que a Fed faz neste momento é que as taxas de juro irão duplicar até ao final do ano, para um nível na ordem dos 3,4% na viragem de 2022 para 2023 e, no final de 2023, 3,8%. Quanto à inflação, ela deverá abrandar de 5,2% em 2022 para 2,6% em 2023 e para 2,2% para 2024 – a anterior previsão para a inflação média anual em 2022 era de 4,3%.

O tom agressivo da Fed acentuou a valorização do dólar face ao euro, aproximando as duas moedas cada vez mais da paridade. No ponto mais baixo, nos minutos que se seguiram à divulgação do comunicado da Fed, o euro caiu para a casa dos 1,035 dólares – um valor que compara com os 1,14 do início deste ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Euro está cada vez mais próximo da paridade face ao dólar, algo que não se verifica desde 2002. FONTE: TradingEconomics

“Este aumento das taxas em 75 pontos-base sinaliza uma determinação cada vez maior, por parte da Fed, no sentido de ajustar rapidamente a política monetária”, comenta James McCann, economista-chefe adjunto da Abrdn Research Institute, em nota enviada aos clientes.

E para a próxima reunião, a de 26 e 27 de julho, Jerome Powell admite avançar na mesma amplitude, ainda que na conferência de imprensa que se seguiu à reunião tenha assumido que subidas desta dimensão são raras e “não acredito que movimentos deste nível se tornem comuns”. Mas “na próxima reunião” será natural que haja nova subida de 75 pontos-base ou 50 pontos-base, concretizou, garantindo que “nos próximos meses vamos esperar ver sinais notórios de que a inflação começa a descer” ou que começa a estabilizar para começar a descer, consistente com o plano de a colocar no patamar dos 2%. Mas as decisões serão tomadas reunião a reunião, ficando a Fed atenta aos riscos da inflação, assumindo, no entanto, “que a economia dos Estados Unidos é muito forte e bem posicionada para enfrentar uma política monetária mais restritiva”.

As projeções mostram que os responsáveis da Fed veem uma subida de taxas de cerca de 3,75% até ao final de 2023, mais do que os 2,75% que antecipavam mas projeções de março.

As projeções dos responsáveis da Fed para a subida de taxas

Mas Jerome Powell diz-se consciente de que a Fed não conseguirá fazer sozinha descer a inflação para o patamar dos 2%. “Torna-se cada vez mais clara de que muitos fatores que não controlamos vão desempenhar um muito significativo papel na decisão sobre se isso é ou não possível”, mas “não vai ser fácil”. Um sinal claro, nesta reunião, era necessário, realçou o presidente da Reserva Federal.

Sabendo que “as nossas ações afetam as comunidades, famílias e empresas, em todo o país, tudo o que fazemos é assegurar a nossa missão pública” e “tudo faremos os possíveis para endereçar os objetivos em termos de emprego e da inflação”. Para já, nas projeções económicas a Fed não antecipa qualquer recessão nos Estados Unidos, mas desceu a projeção de crescimento para a 1,7% em 2022, uma revisão em baixa face aos 2,8% de março.