A Reserva Federal norte-americana manteve inalteradas as taxas de juro nesta quarta-feira, confirmando as expectativas de que não seria para já que o banco central começaria a diminuir os juros. Ainda assim, o banco central reiterou a expectativa de baixar as taxas de juro em 75 pontos-base (três cortes de 25 pontos base cada um) até ao final deste ano, o que foi bem recebido nas bolsas de valores já que os recentes dados da inflação poderiam ter abalado essa previsão.

A taxa de juro manteve-se no nível onde está desde julho, no intervalo entre 5,25% e 5,50%, o valor mais elevado dos últimos 23 anos. A expectativa dos analistas é que o primeiro corte pode chegar em junho, mas os dados recentes – que mostram uma inflação ainda elevada – têm vindo a diminuir as probabilidades de que essa decisão possa ser tomada ainda neste primeiro semestre.

A taxa de inflação nos EUA desceu em relação aos máximos mas tarda em alinhar-se com o objetivo de 2% do banco central. As estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias mostraram a inflação (homóloga) nos EUA novamente a acelerar em fevereiro, para 3,2%, mais uma décima do que no mês anterior. Foi apenas uma décima de aumento na taxa de inflação mas mostrou como a reta final do processo de desinflação é mais custoso do que o início, tal como os economistas tinham alertado.

“A inflação baixou significativamente mas continua demasiado elevada“, atirou Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA (Fed), na conferência de imprensa desta quarta-feira. “A trajetória daqui para a frente é marcada pela incerteza”, acrescentou, admitindo que as taxas de juro podem manter-se no atual nível “mais tempo do que o previsto, se for necessário“.

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Jerome Powell reconheceu que as últimas leituras sobre a inflação foram mais elevadas do que se previa, porém, continua a ser convicção do banco central que haverá vários cortes da taxa de juro neste ano – uma declaração que levou as ações de Nova Iorque, medidas pelo índice S&P 500, a subirem para um novo máximo histórico.

Tomaremos as nossas decisões reunião a reunião”, afirmou o presidente da Fed.

Christoph Balz, analista do Commerzbank, considera que a orientação dada por Jerome Powell leva a crer que “uma primeira descida em junho ainda é provável, assumindo que os próximos dados da inflação mostram alguns progressos”.

Sobre o que acontecerá daí para a frente é que os analistas têm mais dúvidas: a Fed indicou que 10 dos 19 membros do comité que decide as taxas de juro são favoráveis a “três ou mais cortes” da taxa de juro no corrente ano. “Isso significa que basta que um desses 10 mude de opinião, para menos do que três cortes, e passamos a ter uma maioria que já só quer dois cortes”, salienta Christoph Balz.

O risco é que, “se a próxima leitura da inflação voltar a dececionar, então a Fed poderá esperar mais [do que junho] para descer as taxas de juro”, acredita o analista do banco alemão, em nota de análise distribuída após o final da conferência de imprensa de Powell.

Com uma diferença de quatro longos meses, a Reserva Federal dos EUA começou mais cedo do que o BCE a subir as taxas de juro. Para combater o surto inflacionista que começou em 2021 (bem antes da guerra na Ucrânia) e se agravou em 2022, Jerome Powell começou logo em março desse ano a apertar a política monetária, ao passo que o BCE só avançou em julho. Por ter começado mais cedo, faria sentido que a Reserva Federal fosse também a primeira a inverter o rumo – e, regra geral, é isso que historicamente costuma acontecer. Mas desta vez, com uma crise económica europeia que contrasta com o fulgor que existe nos EUA, Christine Lagarde poderá não se dar ao luxo de esperar pelos norte-americanos para começar a baixar as taxas de juro.

Descer juros? BCE gosta de esperar que os EUA deem o primeiro passo, mas a crise europeia pode forçar a mão de Christine Lagarde