A Junta de Freguesia da Madalena, em Gaia, espera apresentar esta semana à Infraestruturas de Portugal (IP) uma proposta para manter o mirante ferroviário cuja demolição está prevista para este mês, disse esta segunda-feira à Lusa o presidente da autarquia

“Olhámos para o projeto e temos uma proposta que vamos apresentar em primeira mão” à IP, disse à Lusa, Miguel Almeida, presidente da junta da Madalena, em Vila Nova de Gaia (distrito do Porto), sobre o projeto para a construção de uma passagem superior pedonal junto ao apeadeiro local, que prevê a demolição de um mirante do século XIX.

“Trata-se de um mirante de estilo revivalista, com aspeto de torre castelã, aqui construído posteriormente à construção da linha ferroviária (1864/65), para que dele se pudesse contemplar a passagem dos comboios”, pode ler-se no Estudo do Património Arqueológico e Arquitetónico consultado pela Lusa.

De acordo com o autarca, a reunião esteve para realizar-se na semana passada, mas espera agora que ocorra esta semana, última do mês de junho, apesar de ainda não estar marcada.

No dia 15 de junho, fonte oficial da IP disse à Lusa que o mirante iria ser demolido ainda no final do mês, que termina na quinta-feira.

Questionado sobre se não teme que o mirante seja demolido a qualquer momento, Miguel Almeida admitiu que “há sempre esse risco”, mas disse ter “a indicação” de que, enquanto não houver reunião, “não avançarão os trabalhos” de demolição, apesar de salvaguardar que “não é bem uma garantia”.

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Quanto à proposta a apresentar pela junta, vaticinou que se “for viável” não tem “grandes dúvidas de que a IP terá interesse em acolhê-la”.

“Dessa forma, realizará o desiderato da manutenção do mirante – que ninguém quererá ver destruído, com certeza, se houver uma alternativa – e claramente a passagem desnivelada, que é fundamental que exista no apeadeiro da Madalena”, referiu o autarca.

O presidente da junta da Madalena acrescentou ainda que o seu desafio posterior, por acreditar que o mirante “será salvo”, é “a sua reabilitação”.

O presidente da junta de freguesia disse ainda que a reunião prevista com a IP contará também com a Câmara Muncipal de Gaia e com a Santa Casa da Misericórdia gaiense, anterior proprietária do terreno onde está o mirante.

“Até ao momento, não foi dado nenhum passo por esta junta de freguesia que não tivesse sido conversado e combinado, em certa medida, com a câmara municipal. A coordenação aqui é total”, disse ainda.

Questionado acerca das declarações do presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, que no dia 20 de junho disse que o assunto estava “nas mãos” da junta, Miguel Almeida afirmou que “todos os passos que foram dados foram sempre dados com o senhor vice-presidente da câmara, engenheiro Patrocínio Azevedo”.

“Houve umas respostas das Infraestruturas [de Portugal] a dizerem que iriam reunir conjuntamente connosco e com a câmara municipal, e portanto a câmara foi sempre ouvida neste projeto”, assegurou.

Para esta segunda-feira às 18h00, no apeadeiro, a CDU/Gaia convocou uma manifestação contra a demolição do mirante, tendo Miguel Almeida considerado que “todos os contributos” que possam “chamar à atenção” são “interessantes”, mas disse também existir “muito cinismo” e “muito oportunismo político”.

O autarca socialista disse ainda que a junta foi interpelada para liderar uma petição e manifestações, mas recusou, pois “enquanto a negociação for possível, não parece razoável”.

O mirante ferroviário da Madalena está catalogado como alvo de “proteção integral” de nível I, o mais alto em termos municipais, segundo a informação oficial disponível.

O historiador de arte Francisco Queiroz alertou que o mirante é “dos melhores exemplares no país” e “um exemplo paradigmático de uma tipologia de arquitetura específica de uma época”.