Em reta final de sessão legislativa, e com o PSD ainda a reorganizar-se, o Chega está a apostar tudo em aproveitar a tensão no Governo para marcar posição — e carregar na oposição. Com uma moção de censura já apresentada e agendada, o partido quer agora marcar também umas jornadas parlamentares de última hora — o que apanhou de surpresa e indignou outros partidos, tendo pelo menos PS e Bloco de Esquerda questionado, à porta fechada, a decisão e os seus impactos no Parlamento.

Segundo várias fontes presentes na conferência de líderes parlamentares extraordinária desta terça-feira — marcada precisamente para agendar o debate da moção de censura, e empurrando outros agendamentos para depois — relataram ao Observador, a reunião foi passada a tentar perceber como fazer o tetris da maratona parlamentar final e deixar todos os dossiês fechados.

De resto, foi por isso mesmo que os líderes parlamentares concordaram em não fazer plenários na próxima semana, permitindo aos deputados que “mergulhem” nas comissões e terminem os processos legislativos que estão pendentes (para dia 21 de julho, por exemplo, ficarão todas as votações, normalmente distribuídas por várias fases, da proposta de lei do Governo sobre a entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros).

Foi já no final da reunião que o líder do Chega, André Ventura, decidiu, no entanto, anunciar que o partido quer marcar jornadas parlamentares na próxima semana — dois dias em que a prática parlamentar passa por congelar o resto dos trabalhos, permitindo aos deputados do partido em causa deslocarem-se sem faltar a nenhuma comissão ou plenário, o que normalmente é anunciado com semanas de antecedência para ajustar os trabalhos do Parlamento. Mas fê-lo sem dizer em que dias é que o Chega está a planear realizar as suas jornadas.

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“Uma coisa extraordinária”, comenta ao Observador uma das fontes presentes na reunião, notando que isto “cria uma indeterminação sobre os trabalhos das comissões, marcação de audições com entidades externas, etc” — e, na prática, pára o resto do Parlamento, concentrando-se apenas no evento do Chega. Isto “entope” os trabalhos, nota outra fonte, dizendo que o resto dos partidos aguarda agora que o partido dê mais informações.

Chega lembra Sampaio e Santana Lopes para justificar moção de censura. Governo atingiu “grau zero de credibilidade”

Com a moção de censura do Chega, que será debatida na quarta-feira, às 15h, fica adiada para quinta-feira a interpelação ao Governo que o PCP tinha anunciado nas suas próprias jornadas parlamentares, na semana passada, sobre o aumento dos preços e a perda de poder de compra.

No meio destas alterações, caem assim o debate que estava marcado, pelo Chega, sobre “a salvaguarda dos direitos das crianças” e o debate setorial com a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, sobre a Agenda do Trabalho Digno proposta pelo Governo.