Portugal defendeu esta segunda-feira em Bruxelas que as relações da União Europeia com a América Latina não podem ser negligenciadas face à guerra na Ucrânia nem devem estar reféns de impasses em negociações comerciais.

Numa discussão em sede de Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, promovida por Portugal, que apresentou um documento de reflexão informal, a maior parte dos Estados-membros apoiou o documento, revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, em declarações à imprensa.

[Houve] Uma discussão muito interessante sobre a América Latina, que foi liderada por nós, na medida em que nós apresentámos um papel informal de reflexão sobre as relações da UE com a América Latina. Esse documento acabou por recolher o apoio de 16 outros países. Alguns outros não apoiaram totalmente por uma razão ou outra, digamos menor, mas o certo é que se gerou um grande consenso em torno da necessidade de aproveitarmos as dinâmicas atuais para reforçarmos as relações com a América Latina”, adiantou o ministro.

Perante os seus homólogos europeus, o chefe da diplomacia de Portugal defendeu que “aquilo que passa na Ucrânia naturalmente é o cerne da atenção geopolítica da UE, mas não pode ser o exclusivo”.

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Ou seja, a nossa posição no mundo não pode ser exclusivamente uma função daquilo que se passa na Ucrânia. Nessa medida, pareceu-nos muito útil aproveitar este momento para falar da América Latina, e essa nossa posição foi bastante reconhecida por parte dos outros Estados-membros, que apelaram também a que se realize em 2023 uma cimeira entre a UE e a América Latina e trabalhos preparatórios entre agora e 2023.

Relativamente ao documento de reflexão apresentado, João Gomes Cravinho apontou que, em primeiro lugar, expõe aquilo que Portugal considera ser “a relevância geopolítica da América Latina para a União Europeia”, enfatizando que “se a UE quer ser um ator geoestratégico, tem de saber interagir com outras partes do mundo para além dos seus interesses imediatos aqui na Europa”.

Em segundo lugar, sublinhámos que a América Latina é uma região do mundo que é tributária do ponto de vista filosófico e político da Europa, e nesse sentido é muito fácil encontrarmos uma plataforma de diálogo comum. Há uma diversidade de expressões políticas na América Latina e há uma diversidade de expressões políticas na Europa, e, portanto, isso deve ser um estímulo, e não uma preocupação no nosso diálogo”, argumentou.

Entre muitas áreas de interesse comum, o ministro salientou a transição verde, afirmando que “a América Latina tem um contributo muito importante a dar, e também a Europa a dar à América Latina” neste campo, assim como “a transição digital, tudo o que tem a ver com biodiversidade e proteção dos oceanos”, ou ainda “a necessidade de superar problemas de injustiça social e de divisão social na América Latinha”, que “são temas para os quais importa a relação com a Europa”.

Aquilo que nós quisemos sublinhar é que o facto de não haver acordo sobre algumas temáticas comerciais, nas negociações comerciais, não deve fazer com que todo o pacote de relacionamento União Europeia-América Latina fique refém. Nós podemos avançar, defendemos isso, no plano das negociações comerciais, enquanto simultaneamente vamos avançando também noutros dossiês. Não devemos ficar à espera de um acordo sobre todos os pontos comerciais”, reforçou.

Também sobre esta matéria dos acordos comerciais, observou que “o acordo com o México está concluído, pronto e à espera de tramitações burocráticas há vários anos”, acrescentando que “não há desculpa para isso”, assinalou que “igualmente em relação ao Chile estamos muito próximos de um entendimento“, enquanto “com o Mercosul, alguns países da UE têm posições divergentes, há mais trabalho a fazer, mas também não estamos longe de um entendimento”.

“E, portanto, parece-nos que estes temas têm assumido uma função desproporcionada ao condicionar o relacionamento e isso é muito prejudicial para todos, incluindo obviamente para a União Europeia”, concluiu.