Apresentava-se como Maria Adela Kuhfeldt Rivera. Durante cerca de uma década, era esta a história que contava às pessoas que ia conhecendo: dizia que era uma designer de jóias peruana, que tinha nascido na cidade de Callao, no Peru e que era filha de pai alemão e mãe peruana.

Só que a suposta Maria Rivera era, na verdade, uma oficial do Departamento Central de Inteligência russo, tal como indicava o seu apelido: “Riviera” é o nome pelo qual um agente infiltrado, treinado para se fazer passar por um estrangeiro, é conhecido entre a comunidade de serviços de inteligência. A identidade da espiã russa foi revelada numa investigação jornalística publicada esta quinta-feira pelo site holandês Bellingcat, em parceria com vários meios de comunicação: o jornal italiano La Repubblica, a revista alemã Der Spiegel e o site norte-americano The Insider.

Passando primeiro por Roma, Malta e Paris, a espia acabou por se estabelecer, por volta de 2013, em Nápoles, em Itália, precisamente onde está a sede do Comando Militar da NATO (Joint Force Command), que coordena a força da NATO no Kosovo e o apoio da organização às missões militares da União Africana. Nesta cidade italiana, a espia abriu até uma joalharia — que transformou mais tarde um clube frequentado pela alta sociedade local — e tornou-se secretária na filial da Lions Clube Internacional — a maior organização de clubes de serviços do mundo que procura ajudar causas humanitárias e promover trabalhos voltados a comunidades locais.

A tudo isto juntou-se uma vida social muito ativa, permitindo-a assim fazer amizade com muitos funcionários da NATO e outros afiliados. Um funcionário da organização disse aos autores da investigação jornalística que teve um breve relacionamento romântico com Rivera.

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A espia terá saído de Itália em 2018 para nunca mais voltar. A 15 de setembro de 2018, Rivera comprou um voo de Nápoles para Mocovo. No dia anterior, o jornal Bellingcat tinham publicado um artigo sobre os dois homens envolvidos no envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal e a sua filha Yulia, no qual revelava que, durante quase uma década, a agência de inteligência militar russa tinha fornecido aos seus espiões passaportes numerados consecutivamente — o que revelava uma grande falha de segurança.

Dois meses após sua partida repentina de Nápoles, Rivera fez uma publicação na sua página de Facebook, em italiano, aparentemente como uma forma de explicar seu desaparecimento e silêncio: “É a verdade que devo finalmente revelar. O cabelo está a crescer agora após a quimioterapia. Muito curto, mas está lá. Sinto falta de tudo, mas estou a tentar respirar. Obrigada a todas as pessoas que não pararam de me ‘bombardear’ com mensagens nestes últimos 5 meses! Amo-vos”.