A equipa multidisciplinar de obstetrícia e neonatologia do Hospital Santa Maria prestou esclarecimentos sobre a grávida que morreu após o transporte entre o maior hospital do país e o Hospital São Francisco Xavier e deixou duas garantias: em primeiro lugar, a decisão clínica tomada é normal, a mais segura e aconteceu quando a situação estava estabilizada e, depois, é preciso travar o “empolamento mediático-político” feito à volta do caso. O bebé está bem de saúde.
Luísa Pinto, diretora de obstetrícia do Hospital Santa Maria, explicou que a mulher foi atendida no Santa Maria, ficou a ser vigiada durante várias horas e, devido à falta de vagas no serviço de neonatologia — a gravidez ia na 31.ª semana —, a equipa clínica decidiu a transferência para o São Francisco Xavier. Uma das ressalvas deixadas pela equipa é o facto de o sistema não ter qualquer historial clínico da grávida, de nacionalidade indiana, por esta ter sido a primeira vez que recorreu ao SNS.
Ainda assim, nada indicava que pudesse haver complicações durante o transporte. A responsável garante que foram “tomadas todas as medidas” necessárias e que, após a assistência no Santa Maria, a grávida “ficou estabilizada” e tomou-se a decisão da transferência. “Não era de todo expectável a paragem cardiorespiratória” durante a deslocação, garantiu a médica, que explicou ainda que “a mãe não carecia de internamento em cuidados intensivos no momento em que foi transferida”.
Grávida morre após transferência de hospital por falta de vaga
As razões para a transferência são claras: de acordo com as indicações científicas, é benéfico para o bebé que o transporte seja feito antes do parto, ainda com o feto no útero, em vez da existência de transporte de um recém-nascido prematuro. Apesar de ter sido diagnosticada com pré-eclâmpsia, uma complicação grave da gravidez, à entrada do Santa Maria, os níveis de tensão arterial e da frequência cardíaca estabilizaram, não deixando dúvidas que o melhor, no entendimento do hospital, era a sua transferência.
Os profissionais de saúde realçaram que o transporte de grávidas não é raro, já que o SNS trabalha em rede e acontece muitas vezes não haver vagas para receber recém-nascidos. “Os recursos não são ilimitados e por vezes há picos em que não há mesmo vagas”, sublinha André Graça, diretor de neonatologia.
“Não podemos multiplicar as vagas. Temos 100% e não podemos chegar aos 110%. Estamos permanentemente com taxa de ocupação alta”, admite o especialista, que exemplificou com o caso em causa: “Não podemos pegar num bebé de 31 semanas e colocá-lo numa maca.”
Também Luís Pinheiro, diretor clínico do Hospital Santa Maria, fez questão de se referir ao caso como um “acontecimento inesperado e trágico”, que não é indiferente para os profissionais de saúde: “Não somos neutros.” Porém, alertou para o facto de esta ser um situação não dever ser usada num “registo de empolamento mediático-político” — já que se tratou de um problema clínico e não de uma decisão errada.