No arranque da Festa do Avante, Jerónimo de Sousa deixou três garantias relativamente ao presente e futuro do PCP: o partido vai voltar às ruas para reivindicar os direitos dos trabalhadores; o secretário-geral para o ano estará na Quinta da Atalaia pelo menos como “militante comunista” — se será como líder ou não logo se verá; e a tradicional festa é um “espaço de paz“, que deve ser visto com “olhos limpos do preconceito”.

Num ano em que a rentrée comunista volta a acontecer debaixo de polémica, desta vez por causa da posição do partido sobre a invasão da Rússia à Ucrânia, Jerónimo de Sousa inovou no primeiro dia: ao contrário do habitual discurso ou das declarações que se ouviram nas colunas nos dois anos de pandemia, o líder comunista decidiu marcar uma conferência de imprensa após a primeira visita ao recinto.

A mensagem principal foi exatamente sobre a guerra. “A Festa do Avante é uma festa da paz, não é uma festa da guerra. Este é um espaço de paz, não é um espaço de guerra.” A referência foi reiterada várias vezes durante as curtas declarações, com um pedido específico para quem tem colocado em causa a postura dos comunistas: “É preciso vir cá com os olhos limpos do preconceito, independentemente de possíveis reparos críticos.”

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Para o líder comunista, o tempo deve ser investido na valorização das propostas do PCP, com a correção das “inquietações” da população e com a expectativa de “abrir caminho a problemas sérios”. “As pessoas estão a viver com dificuldades e preocupadas com o que aí vem em relação ao aumento dos preços”, alertou Jerónimo de Sousa, frisando que é preciso agir para contrariar os lucros que os grandes grupos económicos estão a ter devido à inflação.

“Se o lucro é extraordinário, deve haver exceções. A possibilidade de uma taxa extraordinária não acaba com a injustiça, mas poderia levar a que os sacrifícios dos portugueses fossem ultrapassados”, realçou, sublinhando que um “grupo pequeno de grandes grupos económicos” está a ver os “lucros a crescerem” como “nem eles acreditavam que fosse possível”.

Jerónimo de Sousa considera que são precisas soluções, já que “os salários e reformas cada vez minguam mais, [por haver um] avassalador aumento do custo de vida e pela “necessidade de defesa dos serviços públicos”. Mas alerta que estas não devem ser “formas de apoio a prazo”, até porque, realçou, “a questão central passa pelo aumento dos salários, das pensões e das reformas, pelo investimento dos serviços públicos”.

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Ainda sobre a Festa do Avante em si e questionado sobre o futuro, Jerónimo de Sousa garantiu que voltará para o ano como “militante comunista”. Já sobre se será ou não como secretário-geral — o que implica deixar a liderança do PCP — disse apenas: “Um dia será.” A resposta foi o ponto final da conferência, que Jerónimo de Sousa deixou entre sorrisos e sem mais respostas à questão que há anos se impõe sobre o futuro do partido.