As manifestações em pelo menos 16 cidades chinesas contra a política de tolerância zero à Covid-19 parecem ter surtido algum efeito. Esta quarta-feira, a vice-primeira-ministra sinalizou uma alteração na posição do regime chinês, garantindo que a China está a entrar numa “nova fase e numa nova missão” e até a adotar uma resposta mais “humana” à crise pandémica.

Como conta o The Guardian, com base em declarações citadas pela agência estatal chinesa Xinhua, Sun Chunlan falava numa conferência com vários responsáveis chineses pelo setor da Saúde, reconhecendo que a menor “patogenicidade” da variante Ómicron, o aumento da vacinação e a experiência cada vez maior do país a lidar com surtos e a preveni-los contribuem para essa nova “fase”.

Além disso, as palavras da responsável do Governo chinês surgem numa altura em que várias regiões, incluindo Xangai, começam a pôr termo aos períodos de quarentena, enquanto a arranca uma campanha nova de vacinação dirigida sobretudo a pessoas mais velhas — a faixa etária acima dos 80 é a que se vacinou menos.

Agora, numa altura em que o país continua a registar um número alto de contágios — cerca de 37 mil novos casos diários —, o Governo chinês prefere, em vez de falar diretamente numa política de “tolerância zero” à Covid como até aqui, falar de uma “abordagem humana” e frisar a importância da vacinação, enquanto são levantadas restrições em várias regiões.

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O que não significa, como o mesmo jornal recorda, que a tolerância para os protestos que têm assolado o país seja maior ou que o Governo reconheça a sua eficácia publicamente.

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De resto, ainda esta segunda-feira as autoridades chinesas reforçaram a vigilância das ruas, temendo novos protestos. Depois do protesto do cidadão que foi apelidado de “Homem da Ponte” — em paralelismo com o “Homem do Tanque” da Praça Tiananmen —, os protestos continuaram, começando por queixas em graffiti e acabando com fortes manifestações nas ruas.

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A ferramenta China Dissent Monitor, da Freedom House, que recolhe dados sobre protestos no país, registou 668 protestos entre julho e setembro. O sentimento de frustração com a política rígida anti-Covid na China reforçou-se com a morte de dez pessoas num incêndio em Xinjiang, com muitos manifestante a acreditarem que o confinamento naquela região atrasou a operação de socorro das vítimas.