O 335.º dia de guerra na Ucrânia acordou com a demissão de Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial de Volodymyr Zelensky. A saída de Tymoshenko surge horas depois do presidente ucraniano anunciar tolerância zero à corrupção, bem como futuras alterações no seu gabinete, nas regiões e forças seguranças.

Em menos de 24 horas, houve 11 demissões nas estruturas de poder da Ucrânia: seis saíram do governo e cinco retiraram-se dos cargos enquanto governadores regionais.

Onda de demissões na Ucrânia: entre vice-ministros e governadores regionais, já caíram 11 figuras das estrutura de poder de Kiev

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há “muito esforço, palavras e promessas” sobre o envio de tanques à Ucrânia, mas para o Presidente ucraniano é preciso medidas. “As discussões têm de acabar com decisões”, sublinhou Volodymyr Zelensky no habitual discurso.

O dia também ficou marcado pelas declarações do líder russo, Vladimir Putin, que garantiu que o país está a produzir tantos mísseis antiaéreos como todos os países do mundo juntos. A defesa aérea russa é “uma das melhores no mundo”, destacou.

Estes são os principais acontecimentos que marcaram as últimas horas:

O que aconteceu durante a noite?

  • O diretor da CIA, William Burns, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, terão discutido, no encontro que ocorreu há cerca de duas semanas em Kiev, o assassínio do líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin. “É uma ideia muito boa. Concordo que é hora de liquidar Prigozhi. Se eles entrarem em contacto comigo, certamente ajudarei”, ironizou o líder da companhia militar.
  • A Alemanha acabou com o impasse e já terá decidido enviar os tanques Leopard-2 para a Ucrânia, avançou o Der Spiegel. Berlim também deverá dar autorização para que outros países, como a Polónia ou a Finlândia, enviem estes modelos para a Ucrânia. Numa outra reviravolta na política externa, também a Suíça deverá permitir que outros países enviem tanques e munições feitas no país, divulgou o jornal Neue Zürcher Zeitung. Já o primeiro-ministro dos Países Baixos indicou que estão a considerar a hipótese de adquirir Leopard-2 alemães para enviar a Kiev.
  • O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica insistiu na necessidade de criar uma área de segurança em torno da central nuclear ucraniana de Zaporijia, para evitar acidente de proporções catastróficas. A AIEA garantiu também que, ao contrário das acusações russas, não existem armas ucranianas armazenadas nas centrais nucleares no país.
  • O grupo de mercenários Wagner dava conta, na semana passada, que dois cidadãos com nacionalidade britânica, Chris Parry e Andrew Bagshaw, tinham morrido em Soledar. Esta terça-feira chegou a confirmação por parte da família: os dois homens morreram quando estavam a ser retirados de um dos pontos mais quentes na guerra na Ucrânia.

O que aconteceu durante a tarde?

  • A Turquia adiou indefinidamente uma reunião agendada para o início de fevereiro com a Suécia e a Finlândia sobre o processo de adesão dos dois países nórdicos à NATO. A candidatura sueca – bloqueada desde maio por Ancara – ficou num impasse, após as recentes manifestações anti-turcas em Estocolmo.
  • O Presidente ucraniano garantiu que Kiev nunca teve a intenção de atacar a Bielorrússia, apelando a que o país vizinho não entre numa guerra “absolutamente vergonhosa” ao lado do invasor russo. As declarações surgem depois de o Presidente da Bielorrússia, um aliado do líder russo, ter revelado que a Ucrânia propôs um pacto de não-agressão.
  • Os Estados Unidos estão inclinados a fornecer à Ucrânia os tanques de última geração Abrams M1. A notícia foi avançada pelo Wall Street Journal, que adianta que a decisão deverá ser oficializada ainda esta semana. Para já, o Pentágono não confirmou nem negou os relatos. “Não tenho nada a anunciar sobre o assunto”, sublinhou o porta-voz Pat Ryder em conferência de imprensa.
  • A União Europeia está “solidária” com a Moldávia e por isso foi proposto esta terça-feira uma pacote de ajuda financeira no valor de 145 milhões de euros. O anúncio foi feito pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, numa altura em que as “ondas de choque da guerra brutal da Rússia continuam a atingir” a Moldávia.

  • As autoridades russas não estão a planear reconstruir a fábrica de Azovstal, em Mariupol, uma vez que seria uma tarefa impossível que não traria lucros. Imagens divulgadas pelo Ukraine Worl mostram o grão de destruição do complexo, onde as forças ucranianas e civis resistiram durante várias semanas a intensos bombardeamentos antes das forças russas tomarem controlo da cidade.

  • Um tribunal ucraniano condenou uma mulher a cinco anos de prisão por ter colaborado com a organização russa dos referendos de anexação em Beryslav, na região de Kherson.

O que aconteceu durante a manhã?

  • Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, demitiu-se. Foi o primeiro numa onde de 11 demissões em menos de 24 horas nas estruturas de poder ucranianas. “Agradeço ao presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky pela confiança e pela oportunidade de fazer boas ações, todos os dias e a cada minuto”, escreveu, numa nota publicada na rede social Telegram.
  • Seguiu-se a demissão de Vyacheslav Shapovalov, vice-ministro da Defesa ucraniano, que citou “acusações dos media” de corrupção, que, tanto ele, como o ministério, afirmam ser infundadas. No mesmo dia o vice-procurador geral ucraniano, Oleksiy Symonenko, foi demitido, segundo a Reuters.

Vice-ministro ucraniano detido por suspeitas de corrupção

  • A Finlândia deve considerar juntar-se à NATO sem a Suécia, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Pekka Haavisto. Os dois países lançaram uma proposta conjunta de adesão à NATO, mas a Suécia poderá enfrentar um bloqueio, provocado pelo aumento da tensão nas relações com a Turquia, que levou a que Ancara lançasse a ameaça da retirada do apoio. Ainda assim, a Finlândia mantém entrada conjunta como “primeira opção”, cita a Sky News.
  • O Governo polaco pediu formalmente autorização à Alemanha para enviar carros de combate Leopard 2 para a Ucrânia, anunciou esta terça-feira o ministro da Defesa da Polónia, enquanto o seu homólogo alemão garantiu que irá responder em breve. O pedido será analisado “com a urgência necessária”, de acordo com representantes do governo de Berlim.
  • Vários sistemas de defesa antiaérea têm sido colocados para defender cidades e pontos estratégicos dentro da Rússia de um possível ataque aéreo ucraniano — incluindo na casa do próprio Presidente russo. Um sistema de defesa antimísseis Pantsir-S1 foi avistado recentemente na vila de Yascherovo, a poucos quilómetros de uma das propriedades de luxo de Vladimir Putin.
  • O conselheiro presidencial de Volodymyr Zelensky comentou durante a manhã as várias demissões no governo de Kiev, na sequência da promessa de Zelensky de tomar ações contra a corrupção. Numa publicação na sua página do Twitter, Mykahilo Podolyak defende a mudança no executivo, sustentando que “durante a guerra, todos devem entender a sua responsabilidade”, antes de garantir que o Presidente ucraniano “vê e houve” as exigências da sociedade por “justiça”.

  • A Polónia deverá pedir à União Europeia (UE) reembolsos para compensar o custo de enviar os tanques Leopard 2 que pretende enviar para a Ucrânia. A informação foi avançada pelo primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki. “Iremos candidatar-nos a um reembolso da UE — será mais um teste de boa vontade”, afirmou o responsável polaco, citado pelo The Guardian.

“Tecnicamente superiores” aos russos, mas com um “problema de fundo”: as vantagens e inconvenientes dos tanques Leopard-2

  • Duas pessoas foram hospitalizadas em Kharkiv depois de um bombardeamento. A emissora noticiosa ucraniana Suspilne News escreveu no Telegram que “as forças militares russas bombardearam a aldeia de Lystsi, no distrito de Kharkiv: dois voluntários ficaram feridos.” Segundo a mesma publicação, estas pessoas estavam a transportar “apoios humanitários” para Lyptsi.
  • O primeiro-ministro ucraniano acredita que o país tem reservas de gás e carvão suficientes para sobreviver aos meses de inverno. Citado pelo Reuters, Denys Shmyhal disse que, depois de meses de ataques russos que danificaram cerca de 40% das infraestruturas energéticas, a situação na Ucrânia se mantém complicada, mas controlada.
  • A Rússia tem armas e artilharia “suficientes” e novos equipamentos militares estão a caminho do país, declarou Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia. As declarações surgem na sequência dos rumores sobre a possibilidade de a Rússia estar a ficar sem armamento, depois de alguns recuos na Ucrânia.”Gostaria de desapontá-los. Temos o suficiente de tudo”, disse, citado pela Sky News.