Ditou o sorteio dos oitavos de final da Liga dos Campeões que, esta terça-feira, se cruzassem em San Siro duas equipas com características muito especiais. Não eram teóricos outsiders, como o Club Brugge. Também não eram crónicos favoritos à conquista do troféu, como o Bayern Munique ou o Real Madrid. E também não eram habitués nestas andanças nos últimos anos, como o Benfica ou o FC Porto. Entravam numa categoria única: a categoria do “vamos ver no que dá”.

Tradução? Esta terça-feira, o AC Milan recebia o Tottenham em Milão. De um lado, um campeão italiano que não vai além dos oitavos de final da Liga dos Campeões desde 2012. Do outro, um clube inglês que não voltou a sonhar desde a final perdida para o Liverpool em 2019 e que na época passada não passou da fase de grupos da Liga Conferência. Ainda assim, os momentos de uns e de outros são distintos: o AC Milan encerrou no fim de semana uma série de sete jogos seguidos sem ganhar, enquanto que o Tottenham só perdeu um dos últimos quatro encontros (e venceu o Manchester City pelo meio).

“Rafael Leão tem a cabeça nos contratos, noutro lugar. Talvez esteja a ser mal aconselhado”, avisa Fabio Capello

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Ora, em Milão e bem no centro da crise dos italianos, está Rafael Leão. O avançado português quebrou o ritmo desde o recomeço da Serie A após o Mundial do Qatar e até ficou no banco nas últimas duas jornadas do Campeonato, com Stefano Pioli a admitir que “perdeu o brilho”. E Fabio Capello, antigo treinador dos rossoneri, foi mais longe. “O Leão é um fenómeno. Não está a ser o mesmo que foi na época passada mas não pode ser deixado de fora. É um jogador essencial para o AC Milan. Neste momento, talvez esteja a ser mal aconselhado. Tem a cabeça nos contratos, noutro lugar. Devemos falar com ele, deixá-lo de fora não serve de nada e não o ajuda. Na verdade, só o entristece mais. Deve sentir-se importante e ser ajudado também pelos colegas de equipa”, defendeu o experiente técnico em declarações à Rai Radio 1.

Neste contexto, esta terça-feira, Pioli voltava a apostar em Leão e lançava o português no onze inicial, assim como Giroud, Saelemaekers e Brahim Díaz. Já Antonio Conte apresentava Kulusevski, Son e Perisic no apoio ao inevitável Harry Kane, com Richarlison a começar no banco e os reforços Pedro Porro e Danjuma a serem também suplentes.

O AC Milan começou o jogo praticamente a vencer, com Brahim Díaz a abrir o marcador ainda dentro dos 10 minutos iniciais: Theo Hernández apareceu na esquerda a rematar cruzado, Forster defendeu para a frente e ainda evitou a primeira recarga de Díaz com uma grande intervenção mas já não chegou à segunda, com o espanhol a encostar de cabeça para o fundo da baliza (6′).

O jogo arrastou-se de forma algo equilibrada e sem grandes oportunidades até ao intervalo, ainda que o Tottenham tivesse mais posse de bola e os italianos jogassem essencialmente no erro do adversário e à procura de espaço nas costas da defesa — numa lógica onde Rafael Leão, descaído na esquerda, era constantemente o elemento mais procurado. Ainda assim, os ingleses não tiveram propriamente uma ocasião em que tivessem ameaçado o empate, à exceção de um lance em que Kane acertou na barra mas em posição irregular (45′), e o AC Milan chegou ao fim da primeira parte a vencer em San Siro.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o jogo manteve-se muito equilibrado e discutido principalmente no meio-campo. Conte foi o primeiro a mexer mas apenas a 20 minutos do fim, trocando Kulusevski por Richarlison, e Pioli aguentou o onze inicial em que apostou até ao derradeiro quarto de hora e à altura em que decidiu lançar Junior Messias e De Ketelaere.

O impacto do belga foi praticamente imediato, protagonizando a melhor oportunidade da segunda parte com um cabeceamento ao lado na sequência de um desvio de Giroud (78′), e Thiaw também ficou muito perto de aumentar a vantagem de cabeça após um cruzamento de Leão na esquerda (79′). O AC Milan ia aproveitando o aparente desgaste do Tottenham, que acumulava erros e indefinições defensivas, e aproximava-se mais do segundo golo do que propriamente de sofrer o empate.

Até ao fim, e com Rafael Leão a ser substituído já à beira dos descontos, já nada mudou. O AC Milan parte para a segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões com uma vantagem mínima mas importante perante o Tottenham — e tudo graças ao golo madrugador de Brahim Díaz, que aproveitou o dia 14 de fevereiro para mostrar que é amor.