As ruas da capital moldava, Chișinău, foram novamente palco de manifestações. As ações de protesto, maioritariamente ligadas a partidos pró-russos, têm-se repetido nas últimas semanas. Mas a contestação deste domingo subiu de tom, com quatro ameaças de bomba, com o principal aeroporto do país a ser evacuado e ainda o anúncio de que um grupo de sabotadores pró-russo foi detido.

Várias pessoas saíram às ruas para contestarem a atuação da Presidente pró-Europa, Maia Sandu, assim como do governo da Moldávia. De acordo com a agência de notícias Moldpres, os manifestantes, que gritavam “não à guerra na Moldávia” e “contra o aumento do custo de vida”, chegaram a bloquear as estradas da capital. 

A polícia moldava anunciou que, durante os protestos, foram detidos 54 manifestantes, 21 dos quais eram menores de idade. Além disso, as autoridades do país deram conta de que houve quatro alertas de bomba durante a manhã deste domingo.

Um desses alertas de bomba aconteceu no aeroporto internacional de Chișinău. Por volta das 12h50 deste domingo (menos duas horas em Lisboa), as autoridades moldavas ordenaram a evacuação daquele que é o único aeroporto do país, com os passageiros e os funcionários a terem de sair do edifício. Em causa, estaria a descoberta de uma mina. 

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As autoridades da Moldávia anunciaram também, este domingo, que detiveram um membro do grupo Wagner, a milícia privada russa que está a combater na Ucrânia. O homem chegou ao aeroporto de Chișinău por via aérea na semana passada, mas foi imediatamente extraditado. “O cidadão em questão não foi autorizado a entrar no país”, informou a segurança aeroportuária do país.

Para mais, a polícia moldava deteve o que diz ser uma rede “orquestrada” pela Rússia com o objetivo de desestabilizar o país. Após buscas na noite de sábado, 25 homens foram interrogados pelos investigadores e sete deles ficaram detidos, revelou o chefe de polícia, Viorel Cernautean, em conferência de imprensa.

Segundo o chefe da polícia, o cabecilha da rede era um homem, que entrou em território moldavo com o pseudónimo Mayin Sandu (parecido com o nome da Presidente da Moldávia, Maia Sandu), com nacionalidade russa e moldava e que “foi enviado para Chișinău” para organizar “ações de desestabilização”. 

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Os serviços de informações moldavos já aguardavam estas ações contra o governo pró-europeu moldavo. O seu diretor, Alexandru Musteata, advertiu, numa entrevista no final de dezembro, que a Rússia poderia atacar a Moldávia nos inícios de 2023. “A pergunta não é se a Rússia lançará uma ofensiva em direção ao território moldavo, mas antes quando acontecerá”, avisou.

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Na ida de Volodymyr Zelensky a Bruxelas, o Presidente ucraniano revelou aos líderes dos 27 Estados-membros que informou a Chefe de Estado moldava, Maia Sandu, sobre um possível ataque russo. “Recentemente falei com a Presidente da Moldávia sobre o facto de os nossos serviços de informações terem conseguido intercetar um plano detalhado russo para destruir a situação política na Moldávia.”

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Mais recentemente, os Estados Unidos acusaram a Rússia de querer “desestabilizar a Moldávia”. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Washington considera que Moscovo quer colocar um líder pró-russo na liderança do país. “Atores russos, alguns dos quais ligados aos serviços secretos russos, estão a procurar orquestrar manifestações na Moldávia e usá-las para fomentar uma insurreição contra o Governo moldavo.”

Por sua vez, o Kremlin rejeita as acusações, falando numa “histeria anti-Rússia” na Moldávia. A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zahkarova, denunciou a proliferação de “informações falsas sobre os planos inexistentes de Moscovo para desestabilizar a situação” no país.