A qualificação para o próximo Europeu começou como o anterior terminou. Inglaterra e Itália reeditaram a final de Wembley que deu vitória da seleção azzurri num jogo decisivo que, oficialmente, sendo jogado em campo neutro, foi disputado em casa dos ingleses. Desta vez, após dois confrontos para a Liga das Nações, o último dos quais voltou a sorrir aos italianos, as equipas voltaram a encontrar-se. A Itália recebeu a seleção dos Três Leões no Estádio Diego Armando Maradona, que tem funcionado como metáfora da resistência para o clube que dele faz casa, o Nápoles.

O selecionador italiano, Roberto Mancini, convocou um lote alargado de 30 jogadores, o que deu espaço a estreias. Wladimiro Falcone (Lecce) e Alessandro Buongiorno (Torino) foram duas, mas a que tem causado maior sensação é a de Mateo Retegui (Tigre), avançado que também tem nacionalidade argentina e que tem realizado toda a carreira no país da América do Sul. Curiosamente, fez a primeira internacionalização no estádio batizado com o maior nome do futebol alviceleste. “Já o acompanhávamos há algum tempo. Tem qualidade e é um jovem inteligente. Não achámos que ele dissesse que sim. A esperança é que possa ser importante”, comentou o selecionador italiano quanto à possibilidade de perder o jogador para a seleção Argentina.

Na Inglaterra, Gareth Southgate chamou 25 nomes, mas sofreu três baixas. Nick Pope, Mason Mount e Marcus Rashford abandonaram a concentração da equipa em St. George’s Park. Apenas o primeiro foi substituído, tendo sido chamado à última hora Fraser Forster. De resto, tal como aconteceu na convocatória para o Mundial do Qatar, apenas Jude Bellingham não atua na Premier League. A grande surpresa na equipa inglesa foi a inclusão de Ivan Toney nos convocados. Com Sterling ausente, o jogador do Brentford foi convocado para ser observado de perto pelo técnico.

Frente a frente estavam os principais candidatos a ficar nos dois primeiros lugares do grupo C que valem o apuramento para o Euro 2024 que decorre na Alemanha. A Itália falhou o Campeonato do Mundo e encontra-se num processo de reformulação da equipa. A Inglaterra manteve a mesma linha que valeu a chegada aos quartos de final no Qatar. “Para o Mundial, toda a gente estava motivada para estar lá e a luta pelas vagas era imensa, a fome estava lá e era nítida. Agora, temos que começar tudo de novo. Sei exatamente como é que os nossos jogadores mais experientes estão para esse desafio: estão prontos. Os Hendersons, os Kanes, eles dão o mote para esse tipo de mentalidade que vai ser necessária”, disse Southgate, deixando o alerta para os níveis de competitividade necessários para garantir o apuramento.

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“Nesta altura, um Itália-Inglaterra é um clássico”, foram as palavras de Mancini para classificar um duelo que os azzurri não perdiam, a jogar em casa, desde 1961. “Eles são uma grande seleção há algum tempo, cheia de jogadores talentosos, fortes e técnicos. Têm mais opções do que nós por várias razões, mas, em Nápoles, queremos fazer um bom jogo, jogar bem e começar bem”. Southgate, por sua vez, lançou a partida nos mesmos moldes. “Em poucas palavras, é o tipo de desafio que temos que enfrentar e o tipo de jogo que temos para começar a vencer”, explicou. “Dito isto, não ganhamos aqui desde 1961, por isso também é mais um pedaço de história que estamos a tentar quebrar, o que é um grande desafio para esta equipa, que já derrubou muitas dessas barreiras no passado. A Itália não se qualificou para o Mundial, mas ainda tem alguns jogadores excelentes e também terá muita motivação, então será um jogo fabuloso”.

A Itália recuperou o esquema de 4x3x3 com que se sagrou campeã da Europa. Com Retegui como homem mais adiantado, Pellegrini e Berardi foram os extremos. No meio-campo, o requinte de Jorginho, Verratti e Barella. A Inglaterra manteve o 4x2x3x1 que usou no Mundial. Jude Bellingham foi o homem mais adiantado do meio-campo, enquanto que, no lado direito da defesa, um dos lugares mais disputados da equipa — Ben White e Trent Alexander-Arnold ficaram de fora da convocatória — foi ocupado por Kyle Walker. Na frente, Harry Kane ocupou a posição mais favorável para se tornar no melhor marcador de sempre da seleção inglesa. 

Ao avançado do Tottenham chegou-lhe a primeira parte para conseguir o feito. Através do penálti que castigou a mão na bola de Di Lorenzo, confirmada pelo VAR, Kane (44′) chegou a 54.º golo, ultrapassando Wayne Rooney no topo da lista de melhores marcadores da seleção dos Três Leões.

Na altura em que Kane bateu o recorde, já a Inglaterra estava em vantagem. Jude Bellingham rematou fortíssimo para que Donnarumma assumisse o papel de salvador. Só que, na sequência do canto que se seguiu, Declan Rice marcou (13′). O que é que o jogador do West Ham e a estrela norte-americana Kim Kardashian têm a ver um com o outro? Nada que ultrapasse os limites do humor. Rice recebeu Saka na concentração da Inglaterra com uma piada. “Ele fez videochamada com a Kim Kardashian. Já não nos quer mais”, disse o médio dirigindo-se a ao extremo do Arsenal. Acontece que as equipas de futebol a que Kim se tem associado — esteve presente no jogo em que o Sporting eliminou os gunners na Liga Europa e na partida que o Paris Saint-Germain perdeu em casa com o Rennes — têm invariavelmente saído por baixo. Desta vez, não aconteceu.

Houve ainda tempo para Retegui marcar na estreia com a camisola azzurri (56′). Apesar da Itália ter reduzido para 2-1, os campeões europeus não foram a tempo de inverter a tendência do resultado.