Tudo começou quando uma equipa açoriana, habituada a viajar de avião, perdeu o controlo do espaço aéreo. Por o Santa Clara passar muito tempo no ar, ganhou alguma simpatia com a lua e, numa visita à amiga, não só deixou lá a cabeça, como o discernimento. Afinal, uma e outro nem sempre estão em sintonia. Num voo à Alvaláxia, Paulinho intrometeu-se num pedaço de atmosfera e, com a cabeça, atirou aos insulares — o primeiro de três corpos celestes não identificados.

Com as raízes bem presas à terra, as flores têm que ser cuidadas com o rigor dos assobios dos pássaros quando assobiam junto ao canteiro e embalam as pétalas. Se algo falha nesse processo, as plantas perdem a cor e o cheiro. Devido a causas naturais ou a erro humano, quando a vida das flores acaba, a água deixa de lhes servir a vida. Por muito que se lhes queira dar de beber, as tentativas são rejeitadas perante a inevitabilidade de que estas já não queiram seguir o movimento do sol. O Sporting tem as esperanças de conquistar o título em cuidados paliativos. Por muito que a vontade de as reavivar persista, os degraus até ao topo são uma aventura à qual é impossível responder. Então a equipa verde e branca faz o que pode.

Os leões reconheceram que alcançar o Benfica no primeiro lugar do campeonato é impossível, mesmo com a conquista de três pontos diante do Santa Clara. “Acredito que não possamos recuperar ao primeiro lugar, não consigo estar a esconder isso das pessoas e dos meus jogadores”, admitiu o treinador do Sporting, Rúben Amorim. “O campeonato está longe, diria que chegar ao título torna-se quase impossível. Mas só falo por mim, não falo pelos outros. Sou treinador do Sporting. Acho que, em relação a nós, é difícil chegar lá”.

Ainda assim, há que fazer contas ao futuro. “Acredito que, se ganharmos tudo até ao fim, vamos à Liga dos Campeões ou à pré-eliminatória, mas os outros também têm de perder pontos. Jogamos contra o Benfica apenas e eles já têm uma vantagem muito grande. FC Porto e Sp. Braga têm de perder pontos. Mas nós temos de ganhar os nossos jogos. Vai ser muito difícil, mas acredito que o possamos fazer até ao fim. Esse é o nosso foco: jogo a jogo”, indicou Rúben Amorim que, se conseguir o objetivo a que se propõe vai igualar o recorde de Paulo Bento ao colocar o Sporting pela terceira vez consecutiva na Liga dos Campeões.

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Sem Bellerín (lesionado e com o futuro incerto em Alvalade) e Esgaio (castigado), Amorim teve que improvisar um jogador para fazer o corredor direito. Arthur Gomes, que já tinha desempenhado o papel em várias circunstâncias, nomeadamente quando a equipa se encontrava em situações de desvantagem, foi o escolhido. Pedro Gonçalves foi médio, Paulinho o avançado, os extremos Edwards e Trincão. Na linha defensiva, o internacional português Gonçalo Inácio, Diomande e Matheus Reis atuaram como centrais. No 3x4x3 do Sporting não houve surpresas de maior. A novidade não foi titular, ficou sentada no banco. O jovem Afonso Moreira, que se tem destacado na equipa B e na Youth League, entrou na convocatória dos leões.

Ficha de Jogo

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Sporting-Santa Clara, 3-0

26.ª jornada da Primeira Liga 

Estádio de Alvalade, em Lisboa

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Sporting: Adán, Arthur, Gonçalo Inácio (St. Juste, 45′), Diomande, Matheus Reis (Neto, 69′), Nuno Santos, Ugarte (Tanlongo, 69′), Pedro Gonçalves (Morita, 69′), Edwards (Rochinha, 74′), Trincão e Paulinho

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Sotiris, Chermiti, Afonso Moreira

Treinador: Rúben Amorim

Santa Clara: Gabriel Batista, Pierre Sagna, Nogueira, Adriano, Paulo Henrique, Bobsin (Jordão, 45′), Kento Misao, Bruno Almeida (Costinha, 68′), Gabriel Silva (Andrezinho, 79′), Allano (MT, 69′) e Tagawa (Matheu Babi, 68′)

Suplentes não utilizados: Marcos Díaz, Boateng, Calila e Rildo

Treinador: Accioly

Golos: Paulinho (14′), Trincão (22′) e Edwards (50′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Sagna (45+2′), Misao (77′), MT (81′), Adriano (85′) e Matheus Babi (90′)

Com a facilidade que o conjunto verde e branco chegou aos golos, nem parece que tinha pela frente um bloco baixo que, contente com pouco, se podia tornar impertinente. Sob o comando do antigo jogador do clube, Accioly, o Santa Clara recorreu a uma linha de cinco defesas, para tentar angariar pontos em Alvalade que ajudassem a uma campanha pobre que mantém os açorianos, não só abaixo do limiar da insuficiência, como também no último lugar da Primeira Liga.

Tal como a situação classificativa da equipa indicava, era de esperar que o Sporting encontrasse algumas debilidades. A bola parada defensiva foi uma delas. Livre lateral de Pedro Gonçalves e golo de Paulinho (14′) de cabeça. Num lance semelhante, mas cobrado do lado esquerdo, Gonçalo Inácio atirou à barra.

Marcus Edwards era o homem mais em Alvalade. No golo de Trincão (22′), recuperou a bola, definiu com qualidade no último terço e somou a assistência. Era pouco para ficar registado numa exibição que foi bem mais do que isso. Aos 50 minutos, após o Sporting voltar a recuperar a  bola na primeira fase de construção do adversário, o inglês chegou ao golo com um forte remate de pé direito que deu contornos de goleada ao resultado.

Os leões tinham o jogo controlado e, na altura em que ambos os técnicos abdicaram da partida, — no mesmo momento realizaram-se seis substituições, três para cada lado — as contas estavam fechadas (3-0) e o Sporting ia garantindo mais um resultado positivo após ter eliminado o Arsenal da Liga Europa. Rúben Amorim promoveu então o regresso de Neto que estava fora dos relvados desde setembro. Adán entregou ao central a braçadeira de capitão quando o experiente jogador de 34 anos entrou. O final perfeito de uma história de outro planeta que ainda viu o Santa Clara acertar no poste.