O que devia ter sido uma noite de sábado passada em casa de amigos transformou-se em tragédia para Kaylin Gillis, uma jovem americana de 20 anos que morreu no último fim de semana depois de ter sido baleada por Kevin Monahan, de 65 anos, o dono da propriedade onde o grupo de amigos entrou acidentalmente quando procurava o seu destino.

O caso aconteceu pouco antes das 22h do último sábado na pequena vila de Hebron, uma povoação rural no norte do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Segundo o The New York Times, Kaylin e um grupo de amigos, que seguiam em dois carros e uma motorizada, estavam à procura da casa de um amigo quando, por engano, viraram na pequena estrada privativa que conduz à casa de Kevin Monahan.

A zona, composta essencialmente por casas dispersas e estradas de terra batida, tem também muitas falhas na cobertura da rede telefónica, o que terá dificultado a navegação pelo GPS ao grupo.

Quando chegaram à casa de Kevin Monahan, no final da estrada privativa, e perceberam que estavam no lugar errado, deram meia volta, mas não antes de o dono da casa — conhecido na pequena vila pelo seu temperamento pouco amigável e por detestar que se aproximem da sua propriedade — os procurar expulsar a tiro, a partir do alpendre da casa.

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Um dos tiros atingiu mortalmente Kaylin Gillis, que seguia no lugar do pendura do último carro.

Em pânico, o grupo de amigos acelerou para fugir da propriedade e tentou, em vão, ligar para o 911 (o número de emergência nos Estados Unidos, equivalente ao 112 europeu) — precisaram de viajar quase dez quilómetros até encontrarem rede telefónica para completar a chamada. Kaylin acabaria por ser declarada morta pelos médicos.

Em declarações ao The New York Times, um dos vizinhos disse que telefonou para o número de emergência quando ouviu os disparos — mas que até a polícia teve dificuldade em encontrar o lugar do crime, de tão remoto.

Quando a polícia chegou à casa de Monahan, o homem recusou sair de casa e falar com a polícia — e, segundo as autoridades, tratou de contactar um advogado ainda antes de abrir a porta aos investigadores. Só depois foi levado pela polícia.

No início da semana, o responsável pela polícia local, o xerife Jeffrey Murphy, confirmou que sobre Monahan recai uma acusação de homicídio em segundo grau — algo que pode ser comparado, no direito penal português, ao crime de homicídio simples, sem o agravamento da premeditação. “Não havia qualquer ameaça”, disse Murphy. “Eles estavam a ir embora.”

Já o advogado de Monahan, Kurt Mausert, apresentou uma versão diferente e explicou, em declarações citadas pelo The New York Times, que o homem de 65 anos se sentiu ameaçado pelos veículos a acelerar rumo à sua casa isolada. Segundo Mausert, a chegada dos jovens “certamente causou algum nível de alarme a um senhor idoso, que tem uma esposa idosa”.

O advogado salientou também que aquela situação pode ser comparada a um “cenário indutor de medo”. Para Mausert, este “não é o cenário simples de um grupo de pessoas que se enganou no caminho e 20 segundos depois de eles se enganarem estava um tipo no seu alpendre a disparar”.

Segundo o advogado, Monahan “lamenta sinceramente esta tragédia”, que, diz Mausert, não tem culpados. “Quando há uma tragédia e uma vítima, toda a gente quer um vilão. Mas às vezes há simplesmente tragédias e vítimas e não há vilões. E este é um desses casos.”

Nascida em fevereiro de 2003, Kaylin tinha terminado a escola secundária em 2021 e planeava estudar para se tornar veterinária ou bióloga marinha, devido ao seu amor pelos animais, de acordo com o tributo disponível na página da casa funerária. Os amigos e família abriram uma angariação de fundos online para juntar dinheiro para pagar o funeral.

Homem de 84 anos acusado de disparar sobre jovem negro que se enganou na morada

O caso aconteceu apenas dois dias depois de um jovem de 16 anos ter sido baleado em Kansas City, no estado do Misouri, por ter batido à porta de um idoso de 84 anos por engano, quando procurava ir buscar os irmãos a casa de amigos e errou a casa. O proprietário da casa disparou sobre o jovem alegando que tinha medo do rapaz. As autoridades disseram também estar convictas de que o crime teve uma componente racial, já que o jovem era negro e o homem que disparou era branco.