É difícil dar nomes ao desastre que tem sido a época do Liverpool, mas Diogo Jota e Luiz Díaz não podem ser incluídos na lista dos responsáveis pelo descalabro. O regresso de ambos após lesão mostrou que era justificado Klopp ter saudades quando os maus resultados dos reds tornavam presente a ausência dos dois jogadores. O português recuperou a forma e marcou o quinto golo em quatro jogos. O colombiano voltou a saber o que era marcar. No fim de contas, Díaz marcou presença no onze inicial pela primeira vez desde outubro e marcou o primeiro golo desde setembro na vitória por 4-3 contra o Tottenham, em Anfield, num duelo importante na luta pelos lugares europeus da Premier League.

Se Luiz Díaz se podia sentir fragilizado, apesar de já ter feito três jogos vindo do banco desde que recuperou do problema no joelho, foi o Tottenham que se mostrou debilitado, o que fez com que alguns adeptos dos spurs abandonassem o estádio aos 15 minutos quando a equipa perdia por 3-0. Nem sabem o que perderam. No entanto, ver os jogadores de Liverpool e Tottenham a saudarem-se antes do encontro, ao som do You’ll Never Walk Alone, era assistir a cumprimentos entre desiludidos uma vez que a Premier League afogou os dois conjuntos num poço de amargura.

Nas palavras do treinador, Jurgen Klopp, sentia-se alguma resignação por parte do Liverpool, mas que não se notou em campo. “Ficamos com o que tivermos. Não é aquilo que, no início da época, achámos que seria fantástico, mas esta temporada ensinou-nos muitas coisas. Se tivermos de jogar a Liga Europa, jogamos a Liga Europa”, refletiu. “Esta é obviamente uma temporada em que as coisas foram difíceis para muitas equipas. Tivemos os nossos problemas, o Chelsea teve problemas, o Tottenham teve problemas. Não é bom para nós, mas abre as portas para outras equipas. As vagas na Liga dos Campeões estão aí para serem conquistadas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Tottenham não tinha vencido nenhum dos últimos sete jogos fora de casa. Aliás, a última vez que os spurs estiveram longe de Londres saíram humilhados pelo Newcastle (6-1) e a determinado momento pensou-se que podia acontecer algo semelhante em Anfield. Ainda assim, nem em casa a equipa da capital inglesa teve sossego. Na jornada anterior, na receção ao Manchester United (2-2), o Tottenham viu os adeptos adversários, cantarem Harry Kane, we’ll see you in June [Harry Kane, vamos-te ver em junho] como se os red devils tivessem ido aos aposentos de alguém e remexido nos seu bem mais precioso. Não passou de um pesadelo. Quando o despertador assinalou a hora de acordar com chinfrim estridente, Kane acordou ao lado dos spurs. Para já.

O melhor marcador de sempre da seleção inglesa, apesar de tudo, deu conta do chamamento do Manchester United. “Eu ouvi o que eles disseram, mas estou focado apenas nesta equipa e em tentar terminar a época forte”, comentou Kane. Para isso, diante do Liverpool, o avançado tinha que repetir o que está habituado a fazer, uma vez que formou com Son Heung-min uma dupla responsável que por seis dos últimos sete golos do Tottenham contra os homens de Jurgen Klopp. O próprio treinador dos londrinos, Ryan Mason, destacou o talento que tem em mãos e com quem, enquanto jogador, partilhou o campo. “Este país provavelmente não aprecia o quão bom ele é. Do ponto de vista futebolístico, ele é incrível”, afirmou ao mesmo tempo que destacou os anos que Kane leva no clube. “Valorizo ​​a lealdade e quando vejo um jogador mostrar lealdade”.

Apesar da boa exibição frente ao West Ham (2-1) em que esteve perto de conseguir marcar, Diogo Jota saiu lesionado. Klopp não colocou o português no onze inicial, sentando-o ao lado de Fábio Carvalho e de Darwin Núñez no banco de suplentes. Por seu lado, Luiz Díaz foi titular. Do lado do Tottenham, Porro esteve nas escolhas iniciais e ocupou o lado direito da defesa.

Foi preciso muito pouco tempo para que se percebesse que o Liverpool podia mesmo alargar a sequência de invencibilidade contra o Tottenham que vem desde 2017. Cody Gakpo fez aquilo que Firmino tantas vezes mostrava quando era a principal escolha de Klopp para o centro do ataque nos tempos áureos dos reds sob o comando do alemão. O neerlandês saiu da zona de ponta de lança e combinou com Trent Alexander-Arnold que esperava o passe do avançado no lado direito. O lateral tirou o cruzamento que serviu para Curtis Jones (3′) dar o primeiro passo na humilhação que os spurs não tardaram a sentir.

Dois minutos depois, Luiz Díaz (5′) respondeu à assistência de Cody Gakpo e aumentou a vantagem do Liverpool, batendo Fraser Forster que rendeu Lloris na baliza do Tottenham. Se já era visível que os reds tinham entrado bem na partida, ainda mais claro se tornou o domínio quando o 3-0 chegou. Trent Alexander-Arnold ia sendo um dos melhores elementos da equipa de Klopp. Posicionado no corredor central quando em fase ofensiva, o inglês assumia um papel de destaque na construção de jogo. Estranho para quem está habituado a ver as cavalgadas do jogador de 24 anos junto à linha, menos supreendente quando se percebeu que com esta dinâmica, facilmente o Liverpool libertava Harvey Elliott junto à faixa. Melhor que Alexander-Arnold, só mesmo Gakpo que voltou a ser preponderante ao arrancar o penálti que Salah (15′) converteu no jogo 300 do egípcio ao serviço dos reds.

Um quarto de hora e três golos a favor do Liverpool era um cenário que parecia incongruente com a distância de um ponto que separava as duas equipas na classificação à entrada para o encontro. Klopp tinha avisado que o Tottenham, na opinião do alemão, tinha argumentos ao nível dos melhores da Europa no que às ações de contra-ataque dizia respeito. O trio da frente dos spurs — Son, Kulusevski e Kane — começou a causar problemas a uma linha defensiva do Liverpool que tantas vezes se posicionou excessivamente alto no terreno, demonstrando as debilidades que faziam com que os reds viessem de um ciclo de cinco jogos consecutivos a sofrer. Tais lacunas voltaram a refletir-se quando Perisic teve todo o espaço que precisou para correr na esquerda, deixou Virgil van Dijk sentado no chão e assistiu Kane (39′) para que os comandados de Ryan Mason conseguissem reduzir.

Estava visto que o fuso horário da sesta é diferente em Londres e em Liverpool. Se os spurs dormiram nos 15 minutos iniciais, os reds dormiram nos últimos 15 da primeira parte. Andy Robertson perdeu a bola com a equipa mal posicionada e Kulusevski avançou para a baliza. Valeu um intervenção de Alisson Becker a contrariar a inércia. Ainda antes do intervalo, Son rematou ao poste, embora o lance tenha sido invalidado por fora de jogo.

Os momentos de maior relevância pareciam ter ficados concentrados na primeira parte. No entanto, o Tottenham vinha a tempo de ganhar ascendente. Em menos de um minuto, os londrinos acertaram duas vezes no poste da baliza de Alisson. Primeiro, foi Son e, logo a seguir, foi Romero a estar perto de reduzir, o que acabou mesmo por acontecer. Os spurs continuaram a explorar as costas da defesa do Liverpool e assim deram a Son (77′) o golo. Ainda sobrava tempo para muito mais.

Ryan Mason retirou Porro do campo, enquanto Klopp lançou Diogo Jota. O que se seguiu foi para lá de épico. Son que estava a ser um dos melhores elementos do Tottenham no encontro cobrou um livre lateral que Richarlison (90+3′) cabeceou para dentro da baliza. O brasileiro empatou o jogo e foi festejar com os adeptos (os que sobreviveram aos 15 minutos iniciais da partida) e exibiu as tatuagens ao retirar a camisola. Quando a voltou a vestir, na outra baliza, estava Diogo Jota (90+4′) a fazer o 4-3 que ajudou o Liverpool a ultrapassar, sem abrir nenhum pisca, o Tottenham na classificação com os reds a ocuparem agora o quinto lugar.