Edmond Réveil, um antigo membro do grupo FTP (Francs-Tireurs et Partisans), organização da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, quebrou um silêncio com mais de 70 anos para contar a história dos prisioneiros alemães que foram assassinados em Meymac, em 1944, revelou o jornal local La Montagne.

O ex-combatente, agora com 98 anos, fazia parte de um destacamento com 30 pessoas que, naquele dia do mês de junho, estava a vigiar prisioneiros no momento em que foi recebida uma ordem para matar: “O comandante pediu voluntários para cumprirem a ordem. Cada combatente tinha alguém para matar. Mas alguns de nós – e eu era um deles – disseram que não iam participar.”

Réveil recorda que o comandante “chorou como uma criança” no momento em que lhe foi ordenado que os prisioneiros fossem executados, mas lembra que “disciplina” era uma palavra de ordem na Resistência e que era preciso cumprir.

O que se seguiu é reportado por Edmond Réveil, que ainda se lembra do cheiro a sangue: “Era um dia extremamente quente. Obrigámo-los a cavar as suas próprias sepulturas. Foram mortos e deitámos-lhes cal viva em cima. Nunca mais falámos disso.”

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Foram cerca de 40 os soldados enterrados numa vala e nunca foram encontrados. Após o testemunho de Edmond Réveil, segundo a BBC, irão iniciar-se escavações no local que indicou com o intuito de encontrar os corpos que estarão numa floresta perto de Meymac, no centro de França.

A história foi revelada pelo último sobrevivente da unidade local do grupo de Resistência em 2019, no fim de uma reunião local da Associação Nacional de Veteranos. O presidente da câmara de Meymac, Philippe Brugere, explica à BBC que Edmond Réveil se levantou, anunciou que tinha algo a dizer e contou a história. Quem assistiu refere que foi como se lhe saísse um peso de cima dos ombros.

“Ao longo dos anos teve muitas oportunidades para contar a história e nunca o fez. Mas era a última testemunha [sobrevivente]. Foi um fardo para ele. Sabia que, se não falasse, ninguém saberia”, disse ao mesmo órgão de comunicação social.

Apesar de o momento ter acontecido em 2019, a história só foi divulgada esta terça-feira, sendo que, devido à pandemia da Covid-19, o caso foi reaberto há várias semanas, o que levará à busca pelos corpos na vala em França.

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