É um potencial momento de viragem na política alemã. Pelo menos, é assim que vários analistas estão a interpretar a vitória do partido de extrema-direita AfD (Alternative für Deutschland, ou Alternativa para a Alemanha) numas eleições locais, este domingo, ao mesmo tempo que o partido chega a máximos nunca vistos nas sondagens a nível nacional.

Como escreve a Reuters, a AfD nunca tinha vencido as eleições num distrito — aconteceu agora em Sonneberg, um distrito pequeno com 56 mil habitantes e 58% de participação na eleição. Ainda assim o resultado é um marco para o partido que entrou no Parlamento alemão em 2017 e tem, no total, dez anos de existência.

Apesar da cerca sanitária que ficou traçada em relação à AfD nos tempos de Angela Merkel, o candidato a Sonneberg, Robert Sesselmann, conseguiu 52,8% dos votos contra os 47,2% do candidato conservador, apoiado por todas as outras forças, num esforço infrutífero para travar a AfD. Isto numa altura em que o partido vai conseguindo capitalizar com o descontentamento com a coligação de Governo que permite ao chanceler Olaf Scholz governar.

As sondagens apontam, neste momento, para intenções de voto a rondar os 19% ou 20% — mais do dobro do que tinha há um ano –, resultado, segundo analistas ouvidos pela Reuters, da resposta que o partido tem dado aos “medos” dos eleitores sobre a recessão da maior economia da Europa, a imigração ou a transição ambiental. A AfD tem-se pronunciado contra as sanções económicas a Moscovo por causa da guerra na Ucrânia, além de assumir posições negacionistas em relação às alterações climáticas.

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Como também explica a agência noticiosa, a ascensão da AfD é particularmente sensível na Alemanha por causa do seu passado nazi: o Presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha, Josef Schuster, disse que este é um marco que “as forças políticas democráticas” alemãs “simplesmente não podem aceitar”.

“Para ser claro, nem toda a a gente que votou ao AfD tem uma mentalidade extremista de extrema-direita”, disse Schuster, citado pelo The Guardian. “Mas o partido que elegeram é, de acordo com os serviços de informação, extremista… Isto é uma barragem a rebentar”.

De facto, os serviços de informação alemães vieram classificar o partido como “extremista” e deixaram este mês avisos aos eleitores sobre votar na AfD, descrevendo o “extremismo de extrema-direita” como a maior ameaça à democracia no país.

Também o vice-presidente do Comité Internacional de Auschwitz reagiu dizendo que este é um “dia triste” para Sonneberg, mas também para o país e a democracia como um todo, acusando aqueles eleitores de “virarem as costas à democracia” e escolherem um “partido da destruição dominado por nazis”.

Analistas citados pelo The Guardian lembram que, tendo o partido já avisado que esta vitória lhe poderia dar um necessário “empurrão” para que possa aumentar a sua influência em território alemão, o resultado poderá ter esse efeito já nas eleições parlamentares que acontecerão no próximo ano em algumas regiões da Alemanha.